Neste quarto texto da série Convergências Diaspóricas SSA-NYC, a pesquisadora Daisy Santos nos apresenta o Labor Day Parade, um carnaval promovido pelos caribenho-americanos no tradicional bairro do Brooklyn, em Nova Iorque!
Para esse evento, diferente dos outros dois anteriores, houve um convite. Meu orientador na New School, o professor Dr. Jonathan Square, em nossa primeira reunião, me convidou para a Labor Day Parade do Brooklyn. Ele é morador do bairro e falou com muita empolgação desse evento. Eu confesso que de início não entendi muito bem do que se tratava, nem fiz uma pesquisa anterior; deixei a vida me levar e ser surpreendida. E fui! Para que vocês possam entender um pouco do que eu falo, antes da minha descrição sensorial, sou convocada a trazer um pouco da história da parada, que ocorre num dia de feriado na cidade, de mesmo nome (Labor Day), sempre na primeira segunda-feira de setembro.
Segundo Yuko Minowa (2007) o West Indian American Day Carnival and Parade é um ritual que acontece no bairro do Brooklyn, em Nova York, no Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro. O desfile, segundo o autor, é um reverberação do carnaval em suas ilhas indígenas que é comemorado durante o entrudo; é uma festa ligada a colheita e as tradições pagãs, não tendo relação direta com o calendário católico que determina outras datas para o carnaval. Todo ano, este evento reúne cerca de dois milhões de caribenho-americanos na cidade de Nova York, mas também visitantes de fora das comunidades étnicas participantes.
Ainda segundo Ken Archer (2009) o Carnaval do Brooklyn tem suas raízes no baile de máscaras pré-quaresma do Harlem, que eram organizados por uma mulher das Índias Ocidentais, chamada Jessie Waddell. Em sua pesquisa, Archer afirma que: “(…) entre os anos 1920 e 1940 associações do Harlem, promoveram bailes de máscaras no bairro. Este festival de rua foi então organizado anualmente até o início dos anos 1960, quando a permissão foi revogada por causa da aparente violência que marcava as comemorações da época. (…) O festival foi posteriormente reacendido, e tem sido organizado anualmente pela Associação West Indian American Day Carnival por quase 40 anos. Tornou-se um dos maiores festivais de rua da América do Norte, no qual centenas de milhares de foliões e espectadores anualmente lotam a Eastern Parkway no Dia do Trabalho.” (p.12).
E é isso: um grande carnaval, que me lembrou muito o carnaval de Salvador. Vou destacar dois pontos dessa descoberta que mais me surpreenderam. O primeiro é: a categoria afro-caribenhos. Antes de vir para os EUA, na minha cabeça a única categoria existente eram os afro-americanos (melhor seria dizer negros estadunidenses, porque afro-americana eu também sou). Mas percebi que estava redondamente enganada e deveria ter prestado mais atenção na Rihanna. O fato é que existe um grande contingente de pessoas negras em NYC que descendem de terras caribenhas. São países como Haiti, Jamaica, Trinidad, Barbados, Bahamas, Belize e muitos outros. Pequenas ilhas de colonização francesa, inglesa ou espanhola que hoje contam com boa parte do seu povo em diáspora por melhores condições de vida e sobrevivência. A quantidade de pessoas neste carnaval não só me mostrou que eles existem, mas também como são numerosos e como se orgulham de suas origens (mesmo se tratando já dá 2ª, 3ª ou até 4ª geração já nascida nos EUA).
E, é esse orgulho que me leva ao segundo ponto importante: como eles demonstram esse amor por suas origens usando as bandeiras de seus países das mais diversas formas possíveis e imagináveis. Vi a bandeira sendo usada como capa, em bonés, chapéus, em tops, em chinelos, como bandana, em sua forma menor sendo balançadas quando os trios (sim, trios elétricos) passavam. No começo da parada, quando encontrei o Jonathan ele me desafiou a encontrar o melhor outfit (roupa) do dia. Ao final, minha resposta não poderia ser apenas uma, mas sim as variadas formas de se utilizar uma bandeira nacional.
Yuko Minowa (2007) afirma que esse Carnaval de um dia “(…)tem um significado existencial profundo.” (p. 58). E isso é visível. Os trios passam com a representação de cada país e “seu povo” vai atrás, cantando e dançando como se não houvesse amanhã. Não é permitido beber na rua, mas nesse dia a polícia faz vista [mais do que] grossa e todo tipo de bebida é comercializada. Algumas confusões acontecem e se dispersam tal qual o carnaval de Salvador e as eternas rodinhas de briga da pipoca (quem viveu sabe).
A Labor Day Parade foi uma grata surpresa e me causou um pouco de inveja em não poder estar ali com minha bandeira brasileira. Espero que a gente recupere em breve o nosso orgulho de carregar nossos símbolos nacionais. Mas, com certeza, carregaria a bandeira da Bahia, afinal, é um estado que mais parece um país afro-caribenho, diga-se de passagem.
Na próxima semana sai o último texto dessa série incrível, então me conta o que você achou? Me procure no instagram @daisy.osunduni. Obrigada pela sua leitura!
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Para quem se interessar, segue minha bibliografia de apoio para esse texto:
ALLEN, Ray. J’ouvert in Brooklyn Carnival: Revitalizing Steel Pan and Ole Mas Traditions. Western Folklore , Summer – Autumn, 1999, Vol. 58, No. 3/4, pp. 255-277
ARCHER, K. J. (2009). “The Brooklyn Carnival: A Site for Diasporic Consolidation” [Doctoral dissertation, Ohio State University].
MINOWA, Yuko.”The Importance of Being Earnest and Playful: Consuming the Rituals of the West Indian American Day Carnival and Parade”, in E – European Advances in Consumer Research Volume 8, eds. Stefania Borghini, Mary Ann McGrath, and Cele Otnes, Duluth, MN : Association for Consumer Research, 2007, Pages: 53-59.