Vi esse termo em uma reportagem, anos atrás. A síndrome da impostora é um fenômeno cada vez mais comum, assola principalmente as mulheres (apesar da população LGBTQI e, em certos contextos, latina também sofrerem do mal), é um padrão mental identificado nos anos 1970 pela psicóloga Pauline Clance, doutora em psicologia clínica pela Universidade do Kentucky, nos EUA. E o que ocorre é o que o nome dá a entender mesmo: são pessoas que não acreditam na sua capacidade e têm dúvidas sobre suas conquistas, julgando não merecer o que conquistaram ou não pertencer ao círculo social que estão.
“Eu acordava de manhã, antes de ir para uma gravação e pensava: Não posso fazer isso. Eu sou uma fraude”, Kate Winslet contou à revista Interview. A frase é de uma atriz reconhecida, mas poderia ser minha, podia ser sua. Eu sei que já conquistei algumas coisas na vida, mas em geral costumo atribuir à sorte ou a boas conexões. E este é um padrão para quem se sente uma impostora.
Ser mulher é difícil, ser negra ainda mais. Precisamos trabalhar duas, três vezes mais para provar que temos capacidade e merecemos estar onde estamos. E temos, em geral, o sentimento de que não podemos fraquejar que precisamos dar 150% se preciso. Em 2014 eu escrevi sobre saúde mental da mulher negra. Estou voltando ao assunto, pois a síndrome da impostora não só afeta carreiras profissionais e acadêmicas, mas também é um caso de saúde!
A rigor, quem sofre mais são pessoas com baixa autoestima e perfeccionistas. E afeta mais mulheres porque, em geral, é mais reconhecida como a falta de autoestima para desempenhar uma função em espaços tradicionalmente masculinos, o que leva à necessidade de trabalhar mais e melhor para ter direito a esse reconhecimento. Ok, em vários casos, é preciso mesmo. Ser mulher negra no mercado de trabalho significa ser mais rígida, mais formal, melhor preparada, ou não te levam a sério. Mais um motivo para não acreditarmos em nossa capacidade, né?
E aí que fica a saúde mental: se não há o reconhecimento, ou com ele sempre vem uma cobrança maior, como se livrar da sensação de não pertencimento? Aliás, sentir-se não pertencente a um grupo ou função é lugar comum para a mulher negra no ambiente de trabalho. Salvo, claro, algumas exceções, mas acredito que estas existem para reforçar a regra. Então, quando estiver suando frio, achando que não vai conseguir, ou ainda que não tem todas as aptidões que as pessoas lhe atribuem, quero dizer a você que você tem sim!
Gosto muito de um exercício que aprendi há muitos anos e que ajuda a lembrar do que já fizemos de bom. Faça uma lista com todos os elogios que já lhe fizeram e as qualidades que você supõe ter e leia em voz alta em frente ao espelho, todos os dias pela manhã, ou ao se deitar. Ajuda a reparar a autoestima e a se empoderar. Se este sentimento estiver te impedindo de trabalhar, de seguir em frente ou você esteja se sentindo sobrecarregada, procure ajuda profissional! Não há vergonha em descansar, dar um tempo, fazer terapia ou procurar um hobby. Cuide de você!
Para finalizar, deixo aqui o resultado de uma pesquisa interna da HP. Homens se candidatam a uma vaga quando têm 60% dos requisitos solicitados, em média. Mulheres só se candidatam se tiverem completado 100%.