Delicadas mãos que produzem: A contribuição da mulher negra nas Artes Plásticas

Sempre que pensamos em arte, buscamos imagens, pinturas ou gramaturas que nos representem.
 Alguma vez passou pela sua cabeça quem as fez? Ao falar sobre a Arte-AfroBrasileira, destacaremos inúmeros artistas homens, sendo alguns deles: Heitor dos Prazeres, Antônio Francisco Lisboa – O Alejadinho, Rubem Valentim, Arthur Timótheo, Firmino Monteiro dentre outros. Sabendo-se deste repertório de artistas, lhe questiono:
Quantas mulheres negras, artistas plásticas conhece?

Acredito que a primeira coisa que vem a cabeça é a retratação da mulher e não a contribuição criativa dela na arte, o que acaba concluindo-se a inexistência da contribuição feminina para este campo.

A primeiro momento precisamos entender o que são Artes Plásticas.

O Artista Plástico trabalha com papel, gesso, argila, madeira, metal ou qualquer outro tipo de material, para produzir suas obras sendo elas visuais ou táteis. Podendo ser representadas de forma lúdica ou real. Utilizando-se muitas vezes destas técnicas para transmitir uma concepção, ou até mesmo criar uma perspectiva.

Pensando-se desta forma, sabe a “tia” que pinta quadros de orixás e vende na Av. Paulista? Então ela é uma Artista Plástica. O que de fato ocorre, não é a invisibilidade destas artistas, e sim a má interpretação sendo arduamente denominadas como as artesãs.
Existem várias diferenças atenuantes entre o artista plástico e o artesão e a mais visível e objetiva é a categoria de “manualidades “. O Artesão utiliza técnicas distintas para a fabricação de peças para comercialização, como por exemplo: Crochê, Bordado, Patchwork entre outros objetos de uso pessoal ou decorativo.

E então quem são estas artistas?

Rosana Paulino
Rosana Paulino é Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP e além de Artista é pesquisadora e educadora. Esta artista possui um grande destaque por atribuir em suas artes, questões étnicas, sociais e de gênero. Seus trabalhos são direcionados a posição do Negro e da mulher negra dentro da sociedade Brasileira.

Rosana Paulino por Celso Andrade
Rosana Paulino por Celso Andrade

A Artista Visual Rosana Paulino, além de trabalhar com gramaturas também produz esculturas.
É neste ponto que nos deparamos com o equívoco. No momento em que o artista trabalha com escultura ou adornos, automaticamente o classificamos como artesão.

Rosana Paulino: Ama de leite
Rosana Paulino: Ama de leite

 

Sônia Gomes
Nascida em Caetanópolis, MG. Sônia Gomes, utiliza tecidos, linhas e demais objetos para confeccionar seus trabalhos de esculturas e estruturas. Seu processo criativo é inverso como a própria denomina.

Reprodução Google: Sônia Gomes
Reprodução Google: Sônia Gomes

Possui como inspiração momentos de introspeção sobre si mesma, e observações do cotidiano. É autodidata, e cursou livremente disciplinas na Escola Guignard, UEMG e na UFMG. A Artista é um dos destaques no livro A Mão AfroBrasileira de Emanoel Araújo, lançado pelo Museu Afro Brasil.

Reprodução Google
Reprodução Google

Saiba mais em: www.youtube.com/watch?v=vV3Mj5x0pvo

O Matriarcado Artístico de Yêdamaria
“Como eu usava colagem, pensavam que eu não sabia desenhar, e a temática achavam que eram primitiva.” – Yêdamaria

Yedamaria por Zeca Florentino
Yedamaria por Zeca Florentino

Mulher, negra, nordestina, nascida em 1932, na cidade de Salvador. Suas técnicas principais são litografia, colagens e gravuras, marcada pelas cores contrastantes. Yêda constrói suas produções iniciais através da retratação de cenas marítimas, onde atrela cor e aspectos geométricos.
A carca principal de seus trabalhos é observação de seus moldes, como frutas, flores e mesas organizadas

 “A mesa em si está deixando de existir como um símbolo da família.” – Yêdamaria

A Artista busca retratar a sua raiz e ancestralidade africana, e suas referências familiares.
Em 1959, gradua-se na Escola de Belas Artes da Bahia. A artista reúne colagem e pintura em 1972, destacando sua obra Iemanjá com luz, cujo trabalho mostra a imagem de Martin Luther King na altura do ventre de Iemanjá.
 A partir de 1982 após concluir seu mestrado na Universidade de Illinois nos Estado unidos, retorna ao Brasil com um olhar diferenciado e voltado para relações e questões Étnico- Raciais.

Reprodução Google: Yedamaria
Reprodução Google: Yedamaria

Um pouco mais de Yêdamaria, por ela mesma: www.youtube.com/watch?v=ufBGKtyxKJc

Maria Amélia da Silva
Nascida em 1924, Maria Amélia é ceramistas pioneira de Tracunhaém – PB. Conhecida pelas imagens de santos católicos que cria. Dona Maria, não possui nenhuma especialização técnica relacionada a Arte, é por isto que está inclusa no gênero de Arte Popular. Em 2011 recebeu o título de patrimônio vivo de Pernambuco.

Maria Amélia por Rildo Moura
Maria Amélia por Rildo Moura
Maria Amélia por Jurandir Lima
Maria Amélia por Jurandir Lima
Santa Zita, por Maria Amélia. Foto de Claudio Zeiger
Santa Zita, por Maria Amélia. Foto de Claudio Zeiger

 

Ana das Carrancas
Nascida em 1923 em pernambucano de Ouricuri. Filha de uma louçeira e de um agricultor, começou a trabalhar cedo ajudando a mãe a fazer objetos em barro, para vender na FEIRA. Ana das Carrancas faleceu no dia 01 de outubro de 2008 em Petrolina-PE.

Reprodução Google: Ana das Carrancas
Reprodução Google: Ana das Carrancas

A história de Ana começou a mudar a partir da crise das louçeiras, onde mediante a tanta dificuldade pediu para seu santo protetor, Francisco das Chagas e Padre Cícero, um milagre para que pudesse contornar a crise. E Então em uma de suas idas ao Rio São Francisco para buscar barro, ela sentiu uma forte inspiração ao ver as carrancas de madeira dos barcos que aportavam às margens do rio, debaixo de um pé de mussambê sentada à beira do rio, fez um barquinho de barro com uma carranca à frente, no qual colocou o nome de gangula.

Reprodução Google: Ana das Carrancas
Reprodução Google: Ana das Carrancas

A partir daí, Ana passou a produzir carrancas de barro em grande quantidade, as quais eram comercializadas na feira. Ana só ganhou fama ao ser “descoberta”, por volta de 1970, pelos técnicos em turismo Olímpio Bonald Neto e Francisco Bandeira de Mello, assessores do então presidente da EMPETUR (Empresa Pernambucana de Turismo), Eduardo Vasconcelos, que viajavam pelo sertão, em trabalho de pesquisa sobre o artesanato pernambucano. Com a fama, veio a oportunidade de participar de várias feiras em Pernambuco e em outros Estados brasileiros; as peças de Ana ganharam o mundo. Foi aí que Ana Leopoldina deixou de ser a “Ana louçeira” e passou a ser conhecida como a “Ana das carrancas”.

Reprodução Google: Ana das Carrancas
Reprodução Google: Ana das Carrancas

Fonte e fotos: artepopularbrasil.blogspot.com.br/2010/12/ana-das-carrancas.html

Referências
A mão afro-brasileira significado da contribuição artística e histórica – Araújo,Emanoel  –  Ed Tenenge – 1988
Arte Popular Brasil: www.artepopularbrasil.blogspot.com
Mulheres Negras do Brasil – Schuma Schumaher, Érico – Editora Senac -2006
Rosana Paulino: www.rosanapaulino.com.br
Yêdamaria –Araújo, Emanoel- Imprensa Oficial -2006

2 comments
  1. Sou a única mulher negra ingressa em Artes Visuais na UFPE esse ano. E este post me deu muuuita vontade de continuar!
    Já tenho várias opções de quem me espelhar e usar em releituras na cadeira de Argila!
    OBRIGADA <3

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