Na madrugada de domingo, dia em que comemoramos na Bahia Santa Bárbara, 04 de dezembro,
ocorreu um incêndio criminoso contra a imagem do grande símbolo do povo de axé, Mãe Stella de
Oxóssi, que não era apenas ialorixá, mas mulher negra, LGBT, que ocupou a cadeira da Academia
Baiana de Letras. Esse não é o primeiro caso de ataque vândalo e intolerante contra a imagem de
Mãe Stella de Oxóssi, 2019 foi a primeira vez com pichação e placas arrancadas, mas o Busto de
Mãe Gilda em Itapuã também já foi atacado diversas vezes, assim como as imagens de Orixás no
Dique já vivenciaram o ódio religioso como expressão pública de desrespeito, violência,
intolerância e crime contra a nossa ancestralidade.
Não são apenas nossos símbolos e imagens que são atacados, mas nossos templos também, os
terreiros têm sido alvo de ataques de destruição, fogo, ataques físicos aos seus filhos e filhas, além
das violências simbólicas que são a própria ausência de políticas públicas e burocracias perversas e
seletivas sobre a existência e manutenção de nossas casas. Nossas crianças impedidas de acessar a
escola, vizinhos que gritam, humilham, nos demonizam e quando chegamos a ter coragem de
denunciar é lido pela Justiça e pela segurança pública apenas como briga de vizinho e não como
racismo e intolerância religiosa!
Esse ato mostra como estamos vivendo tempos difíceis onde o ódio, racismo e o fascismo tem saído
dos armários e desrespeitado tudo que se coloque diferente de “Deus, Pátria e Família”, mas nós
povo de santo também somos família, família ancestral que os colonizadores nos tiraram e nós
ressignificamos. Nós construímos esse país todos os dias, mas ao contrário de vocês, não somos
herdeiros de colonizadores, somos herdeiras de Reis e rainhas de África e também brasileiras, como
Mãe Stela de Oxossi, Mãe Gilda, Mãe Menininha do Gantois, Makota Valdina e não somos apenas
religião, ou nos limitamos a cultuar um único deus, antes disso cultuamos natureza, a existência,
essência e fazemos resistência para que nossas histórias NUNCA sejam apagadas.
Antes de queimar fisicamente a imagem de uma ialorixá de Oxossi e uma imagem de Oxossi, orixá
que representa as matas, a natureza, a especulação imobiliária e desenfreada de Acm Neto e de
Bruno Reis estão destruindo Oxossi faz muito tempo, o próprio BRT que destruiu quilômetros de
árvores ancestrais, a entrega de vários terrenos para iniciativa privada em área de proteção
ambiental, a Lagoa e dunas do Abaeté pedindo socorro para barrar tanta devastação.
Desde 1989 temos a Lei 7716, conhecida como Lei Caó que pune o racismo, em seu artigo 1º
dizendo: Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional; além da referida Lei, conquistamos o Estatuto
da Igualdade Racial, Lei 12288 em 2010 para reforçar os instrumentos de denúncia, fiscalização e
preservação da memória e da ancestralidade do povo negro no Brasil. Importante lembrar que em
Salvador no ano passado o prefeito regulamentou o Estatuto municipal de Igualdade Racial que
demorou 13 anos na Câmara Municipal de Salvador para ser aprovado, mas na última proposta de
Lei Orçamentaria Anual (LOA) não demonstra querer muito se comprometer com a pauta racial,
afinal reduziu consideravelmente orçamento para a Secretaria Municipal da Reparação (SEMUR) e
também da Secretaria Municipal de Cultura (SECULT), essa última está lotada a Fundação
Gregório de Matos que atua na preservação, cuidado dos patrimônios materiais e imateriais e
também atua no tombamento de terreiros.
O caso está sob investigação da 12ª Delegacia de Polícia, Delegacia de Itapuã, responsável pela área
e também está sob os cuidados da Fundação Gregório de Matos (FGM) que após investigação
avalia a retirada do monumento do local.
Como diz nossa companheira de luta e escrevivências Conceição Evaristo: Eles combinaram de nos
matar e nós combinamos de não morrer.
Oke Aro, que sua flecha certeira derrote o fascismo, o racismo e toda intolerância e que a justiça de
Xango esteja sempre ao nosso lado!
Laina Crisóstomo
Co-vereadora da Mandata Coletiva Pretas Por Salvador