Às vezes é difícil tocar num assunto tão delicado, principalmente quando quem esta para abordar o assunto é quem o vive. Mas hoje, tenho em mente isso bem escurecido. Precisamos falar não só da solidão da mulher negra, mas também da angustia que cerca a maioria de nós, a certeza de que vamos envelhecer sozinhas.
Muitas de nós, mulheres jovens ainda, já temos noção dessa marca. Parece queimadura e junto dela, tem muita estória, muita dor, preterimentos, violências físicas, abusos, mentiras… medos.
Vamos morrer sozinhas?
Nossas mães e nossas avós sofreram caladas por anos, elas aceitaram todo tipo de submissão a troco de manterem casamentos falidos ao lado de nossos pais, para nos darem o mínimo de boa educação e conforto. Minha mãe conseguiu se libertar dos abusos do meu pai, porém desde então, só ela soube o que sofreu para criar sozinha, dois filhos pequenos, quanta fome passamos e quantos insultos, teve que ouvir até mesmo da própria família.
Minha mãe morreu sozinha sem um parceiro e sem o mínimo de respeito ou afeto.
Recentemente descobri que tenho uma dificuldade muito forte de me envolver em relacionamentos amorosos. E ai, eis a preocupação que me veio à mente “Vou terminar como mainha?” Eu não quero isso para mim e venho lutando para inverter essa situação, mas isso visando à questão financeira investindo em estudo com dedicação pra conseguir o primeiro passo que é entrar numa faculdade – Morro sozinha, mas morro com grana!!
Sei que para onde irei não vou levar nada, porém o que eu espero é ter no mínimo dignidade e uma condição de vida boa e que meu filho fique bem.
Mas e o lado afetivo, como fica? Eu não enxergo solução.
Foram tantos os abusos, as agressões de várias formas, a leviandade partindo dos meus antigos relacionamentos os breves e os que com muita insistência duraram. Nossos parceiros não fazem reflexões sobre nossas vivências, acham que somos dramáticas e radicais e isso obviamente nos afasta deles. Não temos perspectiva em relacionamentos, não dá.
Esse é um dos motivos que me torna extremamente critica quando assunto é relacionamento afro centrado. Homens negros não têm a obrigação de nos entender se não quiserem, mas tem obrigação SIM, de nos respeitar e serem francos, serem honestos quanto ao que procuram quando chegam a nós. Homens negros precisam ler mais sobre as questões que afligem suas irmãs, se colocarem em nosso lugar.
Não é fácil pra eu vir expor uma situação dessas, sabem todos os orixás das minhas angustias e de todas as das minhas irmãs que sentem o mesmo que eu. Não é fácil afirmar que não consigo flertar, que quando um cara se aproxima sou grosseira e hostil, não o quero, mas ao mesmo tempo o quero, porém sinto preguiça e muito medo de viver toda aquela desgraça novamente.
Chega! Não tenho psicológico mais para sofrer, então decido me relacionar apenas por prazer e casualidade, mas se eu não sei ser assim, uma hora vou desabar e me deprimir novamente, me sentir usada. O cara sai com você e no dia seguinte nem te pergunta se esta viva.
Os homens estão mais focados no EGO deles, não tem jeito.
Estamos mais focadas em ganhar dinheiro, claro, porque nos importaríamos em focar em amor primeiramente, quando estamos cercadas de egoísmo e nossas estórias se cruzam sempre “a mãe que apanhava do pai alcolista, que se separou e criou os filhos sozinha, que a família não ajudava e quando ajudava jogava na cara e etc, etc, etc” Agora lutamos pra inverter essas estórias. Mas ainda queremos ter esperança de que uma hora “X” vai aparecer alguém com boa vontade e paciência para estar do nosso lado.
Boa sorte para quem crê.
Eu não creio mais. Tenho meu mundo, meu cerco e minha vida e pobre daquele que ousar se aproximar.
– A culpa é do Feminismo. Eles dizem, não sabem de nada e usam argumentos vãos para invalidar o fato de recuarmos.
A culpa nem é minha, nem sua irmã, muito menos do feminismo. Culpado é todo aquele que destrói de varias formas nossas vidas e vai embora como se nada tivesse acontecido.
Todo sofrimento que eu vi minha mãe passar, todo sofrimento que eu vivi e vivo é o verdadeiro culpado da minha angustia, revolta, radicalismo, como quiser chamar, mas tome cuidado com as palavras, parça. Não se esqueça do poder que elas têm e que elas influenciam em muita coisa.
Só temos umas as outras, devemos mesmo nos dar muito amor, só o amor de umas para com as outras é que constrói.
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