Por Mabia Barros para as Blogueiras Negras
Desde que li o post na Lola, sobre a inexistência de revistas de noivas para mulheres negras, ando pesquisando e me interessando mais sobre o assunto. Leia-se publicações voltadas para o público negro ou, ainda, a inserção da temática negra em revistas “mistas”. Tá, tou vendo mais é se tem modelos negras, ao menos, nas revistas que costumo ler. Ou se ao menos minimamente temáticas tipicamente negras são ao menos citadas nessas publicações. Falar sobre cabelo crespo é “pedir demais”. Falar das curvas do corpo e como adaptar peças, então, é sonho!
A real é que, como no caso das revistas de noivas (que foi ótimo, pois me trouxe várias referências), para a moda, então, somos quase invisíveis, totalmente nulas quando não “exóticas”. Que me perdoe a linda Alek Wek, mas sua beleza e sua pele são adoradas, mas, peço que reparem: as peças icônicas são com pouco ou nenhum cabelo. No começo eu pensava: nossa, que sensacional, uma modelo que seja tão representativa e ainda careca, algo que a nossa sociedade machista presa tanto na construção da identidade feminina. Mas, pensando bem, além de ter essa “pele escura” ainda ter de lidar com aquele “cabelo duro”?! Mas estou perdendo o foco aqui. Com ou sem cabelo, o que esta mulher fez e faz para a imagem da mulher negra e por refugiados sudaneses (e em geral) é extraordinário seremos eternamente gratos. Alek, assim como Naomi Campbell, saíram de Londres para as passarelas do mundo. Esteve em desfiles importantes, como Dior, Channel, John Galiano, Zac Posen, Issey Miyake, Kenzo, Hermés, Fendi, YSL…
Agora, vamos olhar o nosso próprio umbigo? Das über e super models que saíram do Brasil, quantas são negras? Como a SPFW impôs cotas, o número de modelos desfilando têm sido maior. O que as gêmeas baianas, Suzana e Suzane, agradecem. assim como Indira Carvalho, também baiana (tem um ar Grace Jones nela que adoro!), Gracie Carvalho levou prêmio de a mais bookada de 2009 (talvez por ter “traços mais finos”?), Rojane Fradique (também tem aparecido em todo editorial, faz a linha Alek de pouco cabelo), Samira Carvalho (que esteve à frente do DvF), Malana, Ana Bela, Janaína Santos, Lays Silva, Carmelita, Emanuela de Paula. Em comum: muitas delas alisadas ou com aplique. Com algumas poucas exceções, usual ainda é, mesmo que “representando” a etnia, a intervenção nos traços. E daqui vêm vários #mimimis: “moda é mudar o tempo todo”, “toda modelo precisa ser ‘flexível'”, “é preciso ‘controlar’ o cabelo de uma modelo” e, bem, você pode acrescentar aí o seu comentário racista favorito, vai caber.
Voltando ao título do texto: será que existe uma moda negra? Existe. Ela está nos blogs, em coletivos como o Blogueiras negras, o Menina Black Power, na revista Sou Dessas (discutirei sobre isso num outro post), nas ruas de bairros periféricos e comunidades. Está em lojas que se especializam em turbantes e acessórios que remetam a cultura afro que temos no Brasil, está nos salões de beleza especializados (verdadeiramente) em trançar e cuidar dos crespos/afros do mundo.
Este post é só uma introdução. Alguns aspectos precisam ser ainda esmiuçados, a exemplo dos cabelos nisso tudo.