“Pela tradição dos seus ancestrais, o toque da mão faz a guerra e a paz”
Lança de caboclo, de Hugo Linns. Em Manto dos Sonhos, de Renata Rosa.
Muito do que me lembro de minha avó vem de minhas experiências sensoriais; dos cheiros, dos sons, dos gostos. Compartilhávamos sensações, e com ela dividia uma memória de um tempo que não era meu.
Quando ela cantava, repetia sempre o costume de acompanhar apenas as últimas palavras de cada frase da música. Sempre achei graça nisso e é gostoso quando me vejo fazendo o mesmo.
Na cozinha, pedia que a acompanhássemos assistindo às suas composições culinárias. Sempre se negou a dar receitas do que pensava ser óbvio, como quando minha tia quis aprender a fazer feijão como o dela. Não se dava conta de que apenas sua mãe, minha avó, a matriarca de nossa família trazia em suas mãos e memória o gosto caipira, vivo, forte e doce – como era sua personalidade, em tudo o que realizava.
Sua generosidade despretensiosa cercava e acalentava à mesa, as conversas, os corações de qualquer um que experienciasse no lugar a que se é destinado comer, sua sabedoria.
Há pouco mais de cinco anos, uma amiga, Débora Santos encasquetou que deveria aprender a receita de uma das comidinhas mais famosa que minha avó fazia.
A receita, sempre me contou, foi passada e ensinada à ela pela melhor amiga de toda a sua vida adulta; minha amada madrinha Marina. Receita que com o tempo modificava algo, embora mantivesse o mesmo sucesso em nossos paladares.
Como já contei, Geny, esse era o nome dela, gostava de nos convidar a olhar a forma como desenhava sua vida também em nossa cozinha. E foi assim, que com papel e caneta n’um dia 24 de dezembro como hoje, minha amiga anotou as quantidades e apreendeu com seu olhar atento a fazer a última farofa que minha avó fez em vida. E que agora, apresento-lhes em forma de homenagem às Genys, Josefas, Marinas, Julias, Cristinas, Joanas, Marias, Eliziarias, Teresas, Lúcias, Anas, Nelis, Magdas, Elidias, Beneditas, Antoninhas, Madalenas, Guilherminas,
E para nós …
Farofa Fria
Ingredientes:
250gr farinha de rosca
200gr azeitona
3 cenouras grandes
3 ovos cozidos
1 pimentão pequeno
1 pedaço de bacon (a gosto)
azeite
cheiro verde
cebola
alho
sal
Modo de fazer:
Ralar as cenouras, misturas todos os ingredientes e adicionar o azeite aos poucos, dando ponto à farofa com hereditariedade e amor.
Minha gratidão ao convite do Blogueiras Negras, à minha amiga que registrou o que não tem nome, à minha avó por se tornar parte de mim …
Imagem de destaque – Tribe Appel