Ele é negro. O jogador que foi vaiado pela torcida peruana é um homem preto que usa dreads.
Mesmo tendo seis títulos e sendo um atleta de notável desempenho, sua cor não pode ser perdoada. Negros são negros e isso sempre vai estar na nossa pele.
É perturbador saber que sua aparência é motivo para vaia em um esporte que não é excludente. A modalidade esportiva que mais chama atenção no mundo não foi o mais importante dessa vez, o que estava em jogo era humilhar o cara negro, fazê-lo entender que ali não era o seu lugar, feri-lo.
Até esse ponto, o clube do qual o jogador faz parte sabe e aparentemente se mobilizou. Mas vem aí a bola da vez: a torcida quer protestar contra o racismo sendo racista e se pintando de negro, colocando peruca. É o que a gente conhece como blackface, cara preta.
Só que isso não é remédio, é fomentação. Essa brincadeira de cunho estereotipado e humilhante, vem instigando o racismo de todas as formas. É dizer: olha o preto, olha a preta, vamos rir da cara deles – e esse tipo de apoio nós dispensamos, respeito já esta de bom tamanho .
O blackface surgiu nos EUA e esse pode ser o argumento para achar que no Brasil isso não tem força. Mas te pergunto – aqui no Brasil, que se vangloria de sua miscigenação (que se deu pelo estupro da mulher preta), alguém se caracteriza de pessoa branca para fazer comedia na televisão ou hiperdimensionar as características física de grupo étnico que não seja o preto? Foi o que pensei, só tem graça quando a cara é preta e o cabelo é um black gigantesco.
Dispensamos uma multidão de pessoa brancas satirizando nossas características físicas, não queremos e não precisamos desse ato de benevolência RACISTA.
Sabemos que esse gesto no final vai se transformar em zombaria, diversão, falta de respeito. Existem outras formas de se lutar contra racismo: não se apaga fogo com fogo. Isso seria pouco inteligente, inútil e burro.
É legítimo deixar claro para os peruanos que o jogador não estava ali para ouvir ofensas, que racismo é abominável. Mas é contraditório passar tinta preta na cara para dizer não ao preconceito.
Outra observação é que o brasileiro não é um povo livre de racismo, o constrangimento foi no Peru mas muitas pessoas que querem ser figuras negras exóticas por um dia, apoiaram e apoiam o apartheid nos shoppings brasileiros.
Deixo claro o nojo da população negra ao racismo praticado contra o jogador, achamos indispensável o enfrentamento do problema por todos os grupos étnicos e classes sociais, afinal racismo não é problema de preto. É o câncer de uma sociedade que mata o mesmo jovem preto que usa nas suas campanhas eleitorais. A luta é necessária e muito urgente mas precisa ser honesta, queremos o menos hipocrisia possível.
O nome dele é Paulo Cesar. Tinga é o apelido de um cara negro que foi humilhado em um campo de futebol internacional, que não abaixou a cabeça. Ele que trocaria seus títulos por um mundo onde ser preto não o diferenciasse dos demais.
Diga não ao racismo. Não ao blackface.
Imagem Destacada – Washington Alves/Light Press.