Por Andressa Amano.
“Você é sapatãããããããããããããoooo?” Assim cheio de vogais, interrogações e curiosidade extrema que veio o questionamento de um colega sobre minha orientação sexual. Na época com doze anos ,não sabia responder àquela pergunta. Afinal,sendo de uma família extremamente religiosa e iniciando a adolescência, não tenha ideia do que era ser uma “sapatão”. Em minha cabeça, sapatões eram mulheres extremamente promíscuas, feias,pecadoras. “Nunca iriam alcançar o reino dos céus”, dizia minha mãe.
Até que beijei uma amiga. Simples, num dia comum, enquanto conversávamos animadas sobre alguma bobagem adolescente. Talvez fosse RBD, sei lá. Aí veio o peso daquele ato. Pesou muito. Pesou porque gostei. E muito. Mas não sabia o que fazer, o que dizer.
O tempo passou e eu sofri calada. Beijei e namorei garotos, todos eles muito legais (Brinks galera, nem todos) E quando me perguntavam se eu era bissexual, falava: “Sim,mas digamos que eu gosto 80% de garotas e 20% de garotos.” Os 20% diminuíram para 15%, 10%, 5% e se findaram. Como descobri isso? Numa conversa animada com uma outra amiga, sobre bobagens quaisquer.
Se foi uma descoberta fácil e simples? Não. Afinal de contas, como eu ia comentar o assunto com minhas irmãs, com meus pais, colegas de escola? Qual seria a reação deles?
Alguns disseram que eu fazia onda, que ia pela nova moda (ser gay é o pretinho básico atual). Outros disseram que eu sou louca, que quero chamar a atenção. Minhas irmãs e tias creem que eu vim para quebrar barreiras. Minhas amigas me apoiam. Tem gente que acha que é só uma fase, devido aos meu dezoito anos. Muitas opiniões divergentes.
Sei que isso não é apenas uma fase. É a minha certeza de vida. Como mulher negra e lésbica, luto por meu respeito. Luto para não ser invisibilizada. Quero derrotar meus inimigos. Inimigos esses o machismo, o patriarcado, a lesbofobia, a transfobia, a homofobia e tantos outros. O fato de me descobrir sapatão só fez aumentar meu desejo de mudanças no mundo.

5 comments
“Nunca iria alcançar o reino dos céus” kkkkkkkkkkkkkkkk ri demais com isso. História interessante. Não sou gay, mas tenho um fascínio pelos gays! É mto chato ser comum!!!!!
Felicidades e boa sorte!!!
Li, por curiosidde e gostei muito .
A história dela parece bem com a minha; Eu cresci numa família evangélica e homofóbica, até que com 12 anos gostei pela primeira vez de alguém… Era uma garota. Eu acabei não conseguindo me aceitar, fiquei com ódio de mim mesma, tentei abafar o que eu sentia, mas não foi possível. 2 anos sofrendo sozinha. Daí, logo depois gostei de outra menina. Depois, de outra. Aí, desesperadamente, comecei a namorar garotos, mas não curtia eles. Até que um dia, com mais ou menos 15~16 que eu admiti pra mim mesma que gostava só de garotas, aí comecei a sair só com meninas, namorar, coisa e tal. Mas só mais tarde que eu encarei minha família e tudo o mais. Atualmente tenho 24 anos, moro com minha namorada, estamos juntas há 2 anos, e bom… É isso.