“Deus é mais!”, “Você está cultuando o demônio?”, “Logo você, que já foi da igreja se envolvendo com essas coisas? Sai disso!”, “Você tem que procurar Deus, porque esse Deus aí que você diz que cultua não é o meu”, “Jesus disse que os feiticeiros não teriam o reino dos céus, vá buscar Jesus, ele é o único que salva”. Essas foram algumas das coisas que após passar por um resguardo, usando roupas brancas por 21 dias. Ouvi isso de pessoas na rua, familiares e até mesmo de um rapaz no ônibus que nunca vi na vida.
Dói ter que ouvir essas coisas. E o que mais dói é lembrar que um dia fui evangélica e também preconceituosa, então, agora consigo entender o que as pessoas sentiam quando eu agia de forma ignorante e desrespeitando a fé delas. Acho que na nossa vida tudo serve como aprendizado, aprendi da pior forma, passando pelo mesmo e estando no lugar daqueles que um dia ofendi.
A situação quanto à intolerância religiosa está tão agravante no país, que só em 2015 o Disque 100 registrou 556 casos. Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, de 2011 até 2015 o número de denuncias subiu de 15 para 556 (aqui e aqui). Esse aumento pode ter se agravado também devido à coragem das pessoas de denunciar.
No Brasil, já tivemos diversos casos conhecidos nacionalmente. Desde casas de candomblé queimadas, imagens das divindades queimadas, casos de intolerância dentro do coletivo e pasme, até criança sendo apedrejada. Diante de tudo isso, me pergunto: onde vamos parar e o que vai ser feito pelo nosso povo? Esses são apenas alguns tristes exemplos, mas por aí a fora tem muito mais!
Fico incomodada quando as pessoas usam o que creem como verdade absoluta, desmerecendo as demais religiões, desrespeitando e sendo intolerante e muitas vezes, sendo racista também. Acredito que não há motivos pra isso. Vivemos em um mundo onde existem milhares de culturas, religiões, sendo que todos precisam aprender a conviver no mesmo espaço e respeitando as diferenças de cada um, mas infelizmente não é o que acontece.
Eu queria que as pessoas entendessem que pra mim Orixá é amor, respeito, união, é o ar que respiro, é o vento que toca meu rosto, é a coragem que surge em mim para enfrentar as mais diversas situações, é o desejo de justiça que tenho quando vejo alguém injustiçado, é a força ao acordar, é vida! Não cultuo ao diabo, cultuo divindades e exijo respeito, não só para mim, mas para todos os irmãos de Asè! Desejo força para cada um de nós que precisa lidar diariamente com essas situações. Não nego minha fé, sou candomblecista sim e não tenho vergonha disso. Que Olorum abençoe a todos e nos traga discernimento. Asè ooo!
Imagem de destaque – Reprodução Geledés