por Victoria Cerqueira
Gostaria de falar sobre um livro que li recentemente: “Virou Regra?” da Claudete Alves.
A autora escreveu o livro que é a tese de mestrado em C. Sociais na PUC-SP com o tema: Solidão da mulher negra. Como o preterimento da mulher negra pelo homem negro afeta as possibilidades de relacionamento dessa mulher no Brasil.
Vocês podem estar achando essa história familiar, pois ela foi entrevistada pelo Lázaro Ramos no programa Espelho há algum tempo! Seguem os vídeos da entrevista:
O livro tem uma pesquisa muito bem feita mostrando as desvantagens da mulher negra no “mercado” do casamento e das uniões amorosas provando que são as que menos casam, as que mais marcam presença desacompanhadas. Longe mim parecer machista e dar a impressão de que o trabalho o é. O que é importante é apenas comprovar algo que todos nós percebemos, vemos muito brancos com brancas, negros com brancas, alguns negros com negras, pouquíssimos brancos com negras, concluindo… as negras estão ficando cada vez mais sozinhas? Quais as consequências disso?
Nos EUA há um debate muito aceso na mídia sobre mulheres negras que aceitam namorar fora do seu grupo étnico devido a poucas opções que haveria disponíveis se não o fizerem. Aqui no Brasil as coisas são parecidas, mas a posição da mulher negra é um pouco diferente, aqui não é discutido o que as mulheres negras querem… mas sim, quem as querem… há essa sensação que passividade diante do problema. Isso vem do passado cultural de ambos países que possuem profundas diferenças apesar de certas similaridades em relação à população negra, principalmente o senso de identidade da população.
Claudete faz observações em lugares como igrejas, teatros, restaurantes e supermercados em diferentes locais de São Paulo e observa os casais interrciais e suas composições e, sem exceção, em todos os eles os interraciais entre homens negros e mulheres brancas é esmagadoramente maior do que o contrário e do que o homem negro com mulher negra.
É muito interessante ler esse trabalho e as observações!
Ao final do livro, nos anexos, há uma entrevista com 11 mulheres negras sobre o assunto. EXTREMAMENTE INTERESSANTE e aposto, que todos já pensaram sobre, só nunca explicitaram.
Depois de discussões de facebook percebi ainda mais que podemos pensar em dar continuidade ao assunto com amigos e conosco e perceber a série de desdobramentos que isso tem…
Num país como o Brasil, é difícil olhar para relacionamentos assim e dizer que o amor o cego. Como a Claudete prova e diz na entrevista. O amor tem cor.
Vale a pena conferir!
Fico por aqui com um trecho do livro:
Os tópicos da imagem da mulher negra na mídia, jogadores de futebol, Xuxa e o Pelé, relacionamento de jovens, pessoas mais velhas, famílias e tudo mais é citado ao decorrer das entrevistas. Assistam aos vídeos aí em cima, leiam o livro, peguem a tese (está disponível online). Leiam!
Vale a pena!
Victoria Cerqueira é Economista e escreve para o Victoria Diz
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6 comments
Vejo assim: a situação da mulher negra é de tal vulnerabilidade em razão da dupla discriminação (racial e sexual) que, se somos mais pobres, menos escolarizadas, menos “belas”, não nos querem; se somos independentes, cultas, de classe média, também não – neste caso, entre outros fatores, porque somos “insubmissas demais”. Tenho visto, neste último caso, que muitas negras que conseguem relacionamentos estáveis o fazem com estrangeiros, negros ou não. Para mim, não é coincidência, já que em outros países há uma diferente consciência das relações de gênero.
Nos EUA, usam a expressão “você não ama a sua mãe?!” para homens negros que namoram não-negras, de tão “diferente”… Será que a culpa não é nossa, das mulheres negras (de alguma forma, não tenho idéia de qual!), de os homens negros brasileiros fazerem questão de namorar mulheres brancas?!
(No início do filme “Uma coisa nova: as surpresas do coração” tem um discussão bem parecida com essa nossa, é um bom filme!)
Eu assisti Raquel, eu gosto muito desse filme, os diálogos são ótimos. Aparece mesmo, quando a Kenya e as amigas estão no bar no dia dos namorados! Aquele diálogo ficou na minha cabeça durante muito tempo!
Sim, eu AMO esse filme, tanto porque percebo que nós negras temos conversas parecidas no mundo todo (parece eu e minhas primas num domingo conversando), quanto porque inverte perspectiva de quem assiste, mostrando a lógica do negro bem-sucedido, a “black tax” e tudo mais..
Adorei a matéria…Pena que não têm Lazaros espalhados por ai, para nós mulheres negras!!
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