Por Rosário Medeiros para o Blogueiras Negras
O povo brasileiro cansou de ser expectador e foi para ação. Assim que vejo todas essas manifestações. Foi lindo ver o povo nas ruas! Sou da geração Cara Pintada e por mais que falem mal, da minha geração, fizemos uma pequena diferença. Ir para ruas faz muita diferença é só ver a história das civilizações. O que aconteceu, nos últimos dias, não foi apenas o aumento da tarifa de 0,20 centavos, mas os protestos demandam o fim da corrupção, posicionam-se contra a PEC 37, esbarram no Feliciano, apontam as deficiências na saúde e educação, rejeitam (até a página 2) os partidos políticos, pedem a revogação do aumento da tarifa do transporte público.
Ser contra é fácil e acalma a consciência de nossas elites apáticas, desacostumadas a pensar o Brasil com tantas desigualdades – não estou falando da elite econômica, mas dos mais ricos. Mas percebo que muitas pessoas sequer sabem exatamente contra o quê protestam. Hoje, no mundo real e no virtual, não faltou gente engajada misturando a PEC 37 com o Feliciano. Houve quem afirmou que já há psicólogos oferecendo a “cura gay” aprovada pela Comissão de Direitos Humanos. Justiceiros cobrando que a Dilma prendesse os mensaleiros. Bobocas falando mil asneiras sobre o que é democracia, justificando a depredação da ALERJ e da Prefeitura de SP.
As pessoas reclamam da Globo, mas não perdem um minuto de seus dias para buscar informações, e não deixam de assisti-la. Para ler a PEC, conhecer o que a Comissão de Direitos Humanos de fato aprovou e compreender seus efeitos legais, entender os impactos da revogação do aumento das tarifas do transporte público. Ninguém se informa sobre nada e repetem e replicam, como papagaios, palavras de ordem e postagens de Facebook. As pessoas preferem as ideias fáceis, digeridas sem dificuldade, aos conceitos e explicações mais complexos, que, frequentemente, demandam renúncias, escolhas, esforço intelectual.
Qual é projeto que a “voz das ruas” quer? Sabemos – mesmo que de maneira vaga e difusa – o que ela rejeita. Mas qual é o projeto para o Brasil? O que acontecerá no dia seguinte? É o que devemos pensar agora.
Fala-se em “igualdade” como um valor prioritário a ser defendido. Mas de qual igualdade falamos? Igualdade como nos Estados Unidos? Somos todos “CRIADOS IGUAIS”, ou seja, somos iguais em nossa condição humana, nos direitos de que gozamos, e na inalienável busca da felicidade. Uma igualdade que se transforma durante a vida do indivíduo, que passa a ter mais ou menos segundo seus méritos e conquistas. Ou a igualdade que queremos é aquela em que todas as diferenças sociais são eliminadas, uma sociedade horizontal em que todos têm acesso à mesma porção da riqueza produzida no país? Clamar por igualdade, por si só, não diz nada.
Será que os jovens que tomaram as ruas do país já pararam para pensar só um pouco sobre reforma política? Gente informada e egressa das melhoras faculdades não tem ideia da diferença entre um Deputado Federal e um Senador da República. Nunca se interessaram em pesquisar qual nível de governo cuida de quais questões. Há pessoas que culpam a Dilma pela corrupção nos ônibus de São Paulo. Há quem culpe o Haddad pelo aumento da violência em São Paulo. Se não gastarmos alguns neurônios para entender o Brasil e souber de quem cobrar o quê, quais recursos acessar para combater cada um de nossos problemas, todo esse movimento será inútil. Isso eu só vejo só “os excluídos” pensarem, quem está à margem e que não encontram tanto espaço para discutir ideias em um âmbito maior.
Dinheiro para educação e saúde? Ótimo! Mas qual é modelo que queremos? Basta aumentar o orçamento para essas duas pastas o problema se resolve?
Se quisermos mudar algo, temos de ir atrás das ideias, das propostas. Fazer as escolhas difíceis, ir a fundo nos problemas, entender o que está aí, conhecer o que deu certo e o que deu errado no mundo. Temos de pensar qual modelo de país queremos, qual o papel – e tamanho – do Estado, qual modelo de desenvolvimento econômico que aumentará o bem-estar social de todos os brasileiros.
Rosário Medeiros, jornalista, formada pela PUC-SP, trabalha com moda, beleza e eventos.
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