Uma alma iluminada bem que tentou salvar a patifaria que foi a “homenagem” que o Esquenta tentou fazer para Douglas GD, dizendo as sábias palavras “nada é mais perigoso do que ser jovem, NEGRO e pobre nesse país” e apresentando dados sobre o genocídio da juventude negra no Brasil. Mas pelo visto nossa querida Regina tem dificuldades com interpretação de texto e mesmo depois desse vislumbre de bom senso por parte da produção, ainda não entendeu que colocar mocinhas louras e ricas, chorosas segurando cartazes “eu não mereço ser assassinada” e cantando pela paz não significa nada, não diz nada para nós que somos assassinados, silenciados e invisibilizados diariamente.
Mas diz sobre eles, diz sobre os objetivos e interesses desse tipo de espaço que estão nos oferecendo nas grandes mídias. Uma moldura negra para a festa branca, nossa dor e o sangue de nossos jovens servindo para justificar o medo dos senhores e incentivar sua busca desesperada pela própria segurança, foi isso que vi naquele espetáculo de sensacionalismo e oportunismo.
Pouco me importa o horror dessa elite estúpida diante da violência, pouco me importa se eles ficaram tristes com a história do Douglas, essa é a história de todos nós que estamos da ponte pra cá e essa história foi escrita por eles com o nosso sangue. Se querem ajudar, mostrem, julguem e condenem os culpados, assumam também sua parcela de culpa em tudo isso, cada vez que reproduzem o discurso do mérito; que chamam violência policial de justiça e tratam a pobreza e os pobres como meros objetos para sua diversão…
Quem não concorda comigo, me responda: em que pode nos interessar as falas sobre a opressão e o genocídio da juventude negra ou as lágrimas de Carolina Dickman, Fernanda Torres e Leandra Leal? Que contribuição as imbecilidades pseudofilosóficas de Pedro Bial podem trazer, seja para a luta contra o racismo seja para confortar a mãe que sofre a perda de seu filho? E fechamos com chave de ouro com os palpites de Fausto Silva, aquele mesmo que certamente chamaria o cabelo de Douglas de vassoura de bruxa. Todos podem nos dizer, de dentro de seus condomínios e carros de luxo, como sofremos, se sofremos, o que é o racismo e a violência, é isso mesmo?!?!?
Eram os nossos que deveriam estar ali. Onde estão os intelectuais e ativistas negros para falar sobre o genocídio de seus jovens?? Onde estão as referências que inspiraram o menino Douglas para começar a dançar?? Onde está o espaço privilegiado para o desabafo da mãe, a presença dos amigos e a vida do jovem antes e fora do Esquenta?!?!? Nada disso estava ali, nós não estamos, nem nunca estivemos ali. Não se enganem!!!!
22 comments
Belas e sábias palavras. Concordo em tudo. Não posso assistir a um programa que coloca negros dançando pra mostrar como morar na favela é bom, sendo que esses mesmos negros só participam das novelas para serem serviçais ou terem papéis ridículos. Não acredito mais na televisão brasileira. Prefiro ler textos como esse é ouvir boas músicas.
O que preocupa, é o fato da polícia ter um número significativo de negros. Contínuo acreditando q tudo isso é gerado pela impunidade.
Concordo com quase tudo o que tu escreveu Mariana. Só discordo da questão do espaço reservado ao choro da mãe do cara. No meu ponto de vista seria apenas vender o sentimento, sei lá, não acho legal.
Muito bom, o texto ^_^ Sempre achei aquele programa oportunista e hipócrita e nesse episódio eles mostraram a cara…
Esse programa nada mais é do que uma forma da rede globo ” tentar de forma grotesca ” mostrar que a tv da elite é do povão.. alienação total esquenta e emburrece essa classe excluída.
Um ótimo texto, que retrata fielmente todo o lixo que é esse país, que até na hora de homenagear um negro assassinado, coloca pessoas que nunca estiveram nesse tipo de situação para falar sobre o caso.
Meu perfeito! É a mesma globolixo que exibe no Fanático uma votação de mulheres negras como se fossem objetos para os telespectadores “escolherem” a Globeleza! É o lixo! São falsos nojentos! Assistam a Cultura em vez da Globo! A Globo só existe porque o povo assiste!
Perfeito! Espero que seu post seja muito lido, até chegar aos que ainda se encantam pelo ilusionismo elitista dessa nossa grande mídia…
Excelente texto!!! Sem querer ser do contra mais já sendo..so aumentaria a frase “nada é mais perigoso do que ser jovem, NEGRO e pobre nesse país” pq existe sim uma população proporcionalmente mais assassinada ainda neste país a transgênero….“nada é mais perigoso do que ser jovem, NEGRO pobre e transgenero nesse país”
Concordo! Infelizmente somos obrigados a assistir um programa desse em pleno domingo quando não há mais nada para assistir e ainda por cima, ver ATRIZES chorando lágrimas que convenhamos, FALSAS, para emocionar o público a se envolver no assunto. O fato é, o programa generaliza muito e trás assuntos dos mais diversos tão interessantes que são discutidos em no máximo em um minuto e já botam um Samba para tocar em seguida, como se tudo acabasse em Samba. Realmente, tudo acaba em samba, pagode e funk nesse país? Não basta só discutir sobre o negligência dos policiais que querem proceder com eficaz e acabam matando um por que estava no meio. Também não estou generalizando policiais, tem muitos que arriscam suas vidas para proteger as pessoas que não tem nada haver com a violência e que se encontram no meio desse fogo cruzado. Estou falando de um minoria hipócrita. Quantos negros e brancos foram mortos nos últimos meses? Muitos! Esse rapaz só foi mais uma vítima de violência, e não é um programa trazendo todos “Junto e Misturado” que vai me fazer chorar e generalizar tudo, que vai me fazer saber diferenciar quem vem de comunidade (favela) tem menos direito de viver de ir e vir do que eu, que sofre mais preconceito social do que eu, que só existe violência onde o outro vive e nunca perto da minha casa. Me poupe! Não sou rica, e nem por isso menosprezo quem seja e também não sou suficiente pobre para desprezar quem tem menos do que eu. Respeito, igualdade, fraternidade, cultura, educação, saúde e muitas outras coisas que, todo mundo sabe que falta, parece enfeite e até mesmo só palavras que algumas pessoas só procuram o significado em seus dicionários por que desconhece, porque nunca de fato, quiseram conhecê-la. (ou fingem que não conhecem e acaba se tornando mais um ignorante neste mundo).
Posso perguntar onde a Preta Gil é branca e loira?
Sério?? É só essa reflexão que tem pra fazer diante de tuuuudo isso?!?!?!??!
Eu concordo contigo. Cadê Antonio Pitanga, Camila Pitanga, a galera negra que tanto sucesso faz na Globo? Valia até aquela Globeleza do começo do ano, com todas as críticas que fizemos (e são pra lá de válidas).
E, pensei aqui: eu lembro de negros para citar? Noves fora Charô e Larissa, poucos. Vou corrigir essa falha, porque realmente, isso é grave, gravíssimo.
Acho que vale, Mariana, inclusive, você fazer uma lista das pessoas negras que gostaria de ver falando sobre isso…
obrigada pelo texto.
beijo
Nomes como o professor Marcelo Paixão, Juliano Gonçalves, Wilson Silva, meso intelectuais de que se dedicam, especificamente a outras áreas como Sueli Carneiro ou as lideranças de grupos como as Mães de Maio ou do Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra são bons exemplos para compor essa mesa. Mas existem inúmeros estudiosos negros capazes de fazer esse tipo de debate. Sem os recursos da Rede Globo já conseguimos encontrar, imagine com o que eles têm…
Assisti metade do programa com lágimas nos olhos, confesso! Mas por ver naquela mãe sofrimento e exploração.
Os nossos DG’s que morrem aqui não merecem essa homenagem???
Para cada jovem negro morto, uma prece.
Mariana, preta, obrigada pela escrita forte e pelo belo soco no estômago dos racistas.
Por nada Larissa, foi só uma reação às pancadas que nos dão diariamente 😉
Nenhuma palavra no programa sobre os verdadeiros responsáveis pela morte de Douglas e de tantxs outrxs jovens negrxs: a Polícia Militar. O Esquenta tem feito lobby pra UPP ao longo de toda sua existência e foi a UPP que matou Douglas.
Eu acompanho os artigos deste blog, mas com relação a este, eu não concordo quando se fala que não houve no Esquenta espaço para mostrar as referências que o Douglas teve na vida para começar a dançar. A mãe estava lá e o que mais ela ia dizer, se ela já disse o que queria em todos os jornais que cobriram a morte do Douglas? Precisa de outros amigos além dos que estavam lá, junto com a família dele? Neste programa se teve a oportunidade de ouvir e refletir que no Brasil o preto e pobre são uma parcela da sociedade que “pode morrer”, já que ninguém faz nada ante os números alarmantes que expressam essa realidade. Este mesmo programa é um dos únicos, quiçá o único, que mostra pobre cantando e dançando as músicas que gosta. É obvio que na Globo não seria permitido mostrar todas as verdades que sabemos, não não acho crível criticar uma homenagem que foi sim bonita e com certeza pode mostrar para muita gente o que ocorre todos os dias na periferia desse país.
Entendo sua leitura, mas na boa, ainda acho que nosso problema é se contentar com as migalhas que nossos senhores nos jogam. Assisti ao programa td, cultivando meu ódio pela arrogância deles em achar que colocar seus especialistas e famosos para falar sobre nosso sofrimento seria suficiente, e mais, que isso os tornaria pessoas maravilhosas livres do racismo e generosas com os negrinhos. Se quer ser um espaço para a arte e a cultura que não vemos na mídia, que seja proporcional, o que vemos ali é uma maioria branca, que não representa a população brasileira, dizendo para nós como devemos agir, sentir ou sofrer.
Sinto mto, mas essa palhaçada não me representa, eu quero é mais, quero até a alma de tds eles, como diria mestre Brown
Ô Mariana, quem é esse mestre Brown que você escreveu na sua resposta? James Brown, Carlinhos Brown ou Mano Brown?
NA VEIA
“Uma moldura negra para a festa branca” (Mariana Assis)
Perfeito seu texto. O Esquenta fez um circo dos horrores coberto de hipocrisia