Dados do Fórum Brasileiro de segurança pública apontam que a cada 12 segundos uma mulher é estuprada aqui no Brasil. Em 2012 foram 50.617 casos de abuso sexual. Cabe salientar que apenas 10% das vítimas oficializam a denúncia, o que segundo o IPEA aponta que ocorram no mínimo 527 mil estupros por ano, nos quais, em geral, 70% dos abusadores são amigos, familiares e/ou conhecidos da vítima.
A Universidade Federal do Amazonas não fica de fora desse mar de abusos, pelo contrário, na universidade esses casos vem acontecendo cotidianamente. Assédios morais e sexuais, por parte dos próprios professores e entre os considerados “colegas” de curso. Convivemos com casos de abusos cotidianamente. Ainda hoje o abusador tem sido pensando no imaginário coletivo como alguém desconhecido, como um homem “ignorante” e mal encarado, mas como todos os estereótipos esse não condiz com a realidade.
Existe uma cultura de estupro que reforça que o corpo da mulher, principalmente da negra e da indígena é algo público, ou ainda para o desfrute masculino. Dizemos que a violência contra a mulher é democrática já que atinge todas as raças, etnias e classes sociais. Algumas pessoas se perguntam “Quais os motivos que levam uma vítima a não denunciar um ato tão desumano e absurdo?”. Poderíamos elencar aqui muitos argumentos para isso, mas vamos nos deter ao fato de que o processo de silenciamento feminino é uma construção histórica estrutural, e em muitos o ato do abuso é suavizado através do discurso de diminuição da violência cometida, frases como: “ela estava bêbada/ela fica com vários caras”, são comuns de serem ouvidas, além do fato de que a reputação da vítima também é avaliada comparativamente com a do abusador, se o homem que comete abuso não se enquadra no que se considera um perfil de um homem violento, se ele é um rapaz jovem, libertário, culto e branco, dificilmente a denúncia da vítima será validada.
É difícil acreditar que o abuso sexual não está somente nos arquétipos de homem selvagem que criamos, é triste perceber que os espaços alternativos/libertários não são espaços de segurança para as mulheres, e o pior ainda é ouvir os argumentos dos abusadores na voz de muitas militantes feministas dentro da UFAM. Espaços libertários, alternativos não são locais de segurança para as mulheres, os homens abusadores estão dentro desses espaços e do “empoderamento” desses homens só sai silenciamento das agressões, abusos e assédios que os mesmos são protagonistas, se valem da linguagem feminista/academicista/anaquista/libertária para encontrar apoio de mulheres feministas e óbvio do vasto público masculino.
Nós somos militantes negras e indígenas e a misoginia, racismo, lesbofobia, transfobia, abusos emocionais e sexuais tem sido ações cometidas periodicamente por homens militantes. Por muito tempo acumulamos dores e medos de falar, pensamos em todas as mulheres que assim como nós foram abusadas sexualmente, no medo que sentiram, na vergonha de falar, e no consequente desmerecimento da ação, amenizando-a, ou mesmo desqualificando a vítima de abuso.
Sabemos que é muito difícil constatar que aquele seu amigo que se declara anarquista, pró-feminista, é autor de um abuso sexual, que aquele colega que se diz militante do movimento LGBT, que faz parte de grupos de pesquisa sobre gênero e quiçá lança livro que aborda a temática finge não enxergar quando vê um abuso sexual. É difícil, é doloroso perceber que o seu melhor amigo anarquista, aquele que faz teatro, contesta as opressões, prepara comidas saudáveis e medita todo o dia é um abusador. Que aquele que sempre se coloca ao lado das minorias é quem no fim da festa estupra uma mulher desacordada.
Mas queremos alertar que o ato criminoso do estupro se perpetua pela cultura de estupro, a mulher que sofre o abuso é violentada várias vezes, a primeira no ato do abuso, a segunda quando precisa reviver o ato, falando dele, a terceira quando não encontra apoio e assim segue um ciclo de abuso e silenciamento, que se transforma em dor e medo.
Nós mulheres, que fomos alvos de abusos não encontramos apoio nenhum, e absurdamente somos forçadas a conviver com os autores dos abusos no espaço universitário. Espaço este que parece engolir esses abusos para que não ganhem publicidade, ao passo que vítimas são tratadas como “mentirosas”, mostrando desse modo que quem é estuprada ainda tem que conviver com a eterna duvida por parte da sociedade (comunidade estudantil e docente) como se ser taxada como vítima de estupro fosse algo muito proveitoso.
ESSA É UM NOTA DE REPÚDIO SOBRE TODOS OS CASOS DE ESTUPROS QUE ACONTECERAM DENTRO E FORA UNIVERSIDADE, TENDO ENVOLVIDO PROFESSORES E ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE, TÉCNICOS E TERCEIRIZADOS NO CAMPUS DE MANAUS.
Não podemos deixar de ressaltar a constante criminalização dos movimentos sociais que se posicionam a favor das vítimas, alguns militantes do movimento negro, LGBTT e em especial os movimentos feministas que vêm recebendo ameaçadas que vão desde estupros corretivos, ações jurídicas, constante linchamento virtual, e perseguição política. Acusações que taxam grupos minorizados dentro da UFAM como despotilizados, pelo simples motivo de se posicionar em favor de representatividade feminina negra e indígena, além de não conciliar ou negociar com estupradores.
Se em uma situação de violência você se mantém em neutralidade, você já escolheu o lado do opressor: Mandem avisar para os abusadores da UFAM e de Manaus, que nenhuma agressão será esquecida. Nenhum abusador será tolerado!