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Todo dia somos bombardeadas por frases como estas. Aparentemente, não há nada de errado nelas. Afinal de contas, quem não quer ter uma vida saudável? Mas, um olhar mais atento pode acender algumas luzes para nos fazer entender que há algo de muito errado em todo este discurso permeia praticamente todos os ambientes que frequentamos, desde a escola até os meios de comunicação.
Primeiramente, todas estas frases normalmente são acompanhadas por fotos de modelos brancas, magras, altas e, acima de tudo, modificadas por programas de computador! Quando pensamos em saúde sempre há uma imagem: a de uma branquitude sorridente, magra, alta e feliz!
A partir disso, já conseguimos ter uma pista de que um grande problema por trás disso: a concepção de saúde que pauta este discurso é baseada em um discurso totalmente idealista. Falo isso, porque ela é pautada em um modelo que desconsidera todos os elementos que constituem a vida real das pessoas, como a classe social a qual elas pertencem, o gênero, a raça.
Como se ser saudável fosse apenas uma mudança de postura pessoal. Afinal de contas depende de você ter “força de vontade” e acordar uma horinha mais cedo e malhar ou preparar sua marmita, não é mesmo?
Mas, podemos dizer que um homem branco e uma mulher negra estão em condições de igualdade para “levar um estilo de vida saudável” quando sabemos que ela trabalha mais cerca de 60 horas por semana – contando as tarefas laborais e as ligadas aos afazeres domésticos – e ele, no máximo, 44 horas? Podemos dizer que uma mulher negra, que é a que está submetida aos piores postos de trabalho e ganha os mais baixos salários na sociedade, tem as mesmas condições de fazer sua marmita super-saudável -semanal? Podemos dizer que uma mulher negra, que não tem referências positivas de padrões que se enquadrem à sua estética, tem as mesmas condições de ser saudável que uma mulher branca que tem referências estéticas positivas o tempo todo? Com apenas estes exemplos vimos que as condições de ser saudável na sociedade em que vivemos são diferentes.
Além disso, mesmo alguém que consegue estar dentro de condições médicas “saudáveis”, pode não ser saudável, afinal saúde não é um componente apenas físico. Ser saudável é uma confluência de vários elementos que dizem respeito a fazer atividades físicas, mas também a ter acesso a saneamento básico, segurança pública, um trabalho digno, direito ao lazer, cuidado psicológico. Não é apenas sobre “força de vontade”, malhar e comer bem é acima de tudo ter condições materiais e subjetivas de fazer isso como, por exemplo, ter aulas de educação física que nos ajudem a desvendar o quanto o se movimentar pode ser prazeroso e desafiante, para além dos objetivos apenas de treinamento físico.
Aqui não pretendo desmotivar ninguém a uma dieta apropriada e aos desafios de inserir a atividade física na sua vida. Mas, é necessário alertar às irmãs sobre as armadilhas de um discurso que mais uma vez nos culpabiliza e não nos oferece alternativas, a não ser a psicose pelo corpo perfeito e saudável, entenda branco e magro. Não raro é o relato de mulheres negras que passam a vida tentando se enquadrar em padrões que as escravizam e maltratam. Não há condição de ser plenamente saudável enquanto convivemos com um racismo que nos adoece dia após dia. Não há boa vontade que sustente uma vida permeada por racismo. Ou seja, o fim do racismo é uma condição primordial para que possamos ser verdadeiramente saudáveis. Por fim, ainda que você possa levar um estilo de vida ativo, é necessário ir além e entender que nossa saúde é muito mais que isso, é um estado de bem estar psicológico, físico e social e, especialmente, de amor consigo mesma