Em 2024, as Blogueiras Negras completaram 12 anos: uma criança descobrindo novas fases, se aventurando, com fôlego para uma vida inteira pela frente.
Há 12 anos, tudo era diferente!
Nos aventurávamos na blogosfera, capturando a atenção de leitoras ávidas por entender, compartilhar, aprender e ensinar. A internet ditava moda, alçava famosas e amplificava as denúncias e casos de racismo vocalizados aqui e em tantos outros blogs, sites e páginas web.
Nós pautávamos as grandes mídias hegemônicas, com nossas opiniões ganhando destaque em programas de TV, jornais, revistas e outros veículos da dita “mídia tradicional”. O contexto e as tendências faziam da rede um lugar de referência, para buscar o novo, enriquecer pautas, inovar nos conteúdos e dar destaque a personagens e pessoas reais.
E há 12 anos, continuamos na teimosia de fortalecer e visibilizar a escrita de mulheres negras, apoiando cada uma de nós a contar suas próprias histórias. Mas que visibilidade é essa? A internet, como território em disputa, ainda nos oferece essa possibilidade? O que mudou?
Ao sistematizar os Mais Lidos de 2024, tivemos muitas surpresas, mas nada que não revele a tendência de uma geração. Antes de tudo, queremos parabenizar e agradecer a cada mulher negra que se sentou diante de sua tela, escreveu e confiou nas Blogueiras Negras para contar sua história. Sem você, não seria possível seguir em frente.
Também queremos agradecer à nossa equipe, da designer ao programador! Nosso trabalho coletivo, com noites e dias de esforço para repensar o site, a identidade visual, as imagens que conversam com o texto, as legendas, as tags… cada detalhe pensado permite que os textos escritos percorram mensageiros, sites de redes sociais e outras ferramentas de compartilhamento.
Entre a Palavra e a Imagem: Reflexões
sobre o que se perdeu e o que permanece
Antes de compartilhar com vocês os textos mais lidos em BN neste ano, precisamos refletir e trazer algumas informações para fazer a sua cabeça. Neste ano, nos surpreendemos com a drástica diminuição da quantidade de textos publicados em nosso site.
É claro que consideramos as novas condições de temperatura e pressão (rsrs), sabendo que estamos em uma era cada vez mais visual, onde vídeos e danças dominam a comunicação. Levando tudo isso em conta, os números nos parecem, no mínimo, surpreendentes:
Em 12 anos, passamos de 278 textos publicados em 2014 para 14 textos em 2024, o que representa uma redução de 94,9% na quantidade de publicações. São bem menos textos do que no ano em que começamos. E, a partir disso, surgem muitas reflexões: será que temos menos a dizer? Ou será que só vídeos rápidos nos interessam? Deixamos de ler e, por isso, escrevemos menos? Quanto tempo temos para continuar escrevendo? Desistimos de ler?
E contamos as palavras: em 2014, escrevemos 266 mil palavras; em 2024, foram apenas 11,9 mil. Escrevemos menos, com menos palavras e menos caracteres. Estamos menos criativas? Ou mais preguiçosas? Ou ainda pensamos “ninguém vai ler mesmo, vou escrever menos”? São perguntas que talvez não tenham respostas, mas indicam quais caminhos este nobre sítio web deverá seguir a partir de 2025. Algumas tradições se manterão, e falar dos Mais Lidos, mesmo com sua diminuição, será uma delas.
É importante refletir sobre isso, pois são demarcadores da nossa vida e da nossa memória na internet, que também consideramos um território importante em disputa. Não somos contra os novos formatos multimídia; pelo contrário, acreditamos que trabalhar com eles, principalmente com as novas gerações, como fazemos no nosso Laboratório Criativo de Narrativas sobre Tecnologias Digitais – BNLab, é uma tarefa que não podemos ignorar. Tampouco somos contra as mulheres negras se tornarem agentes midiáticos e criarem conteúdos em suas redes. Mas o que não podemos esquecer é da forma coletiva de fazer as coisas, de pensar para além das redes sociais (que não são nossas) e de continuar apoiando espaços que reafirmam a nossa memória como um passo importante para nossa autonomia. E nós fazemos parte desta vanguarda!
OS MAIS LIDOS DE 2024
Bom, após explodir a sua mente com essas reflexões, é hora de apresentar os Mais Lidos de 2024. O nosso tema anual foi “Elevando Nossas Vozes”, e, com isso, incorporamos essa essência na construção desta lista, valorizando quem fez ecoar sua própria história. Como sempre, a ordem não reflete a posição nem as estatísticas. A nossa curadoria leva também em consideração a quantidade de visualizações, mas a ordem abaixo é aleatória e só faz sentido na cabeça das Blogueiras Negras.
E vamos às corajosas e insistentes autoras:
Lições de uma Preta Velha, de Ticiane Caldas, foi um dos Mais Lidos este ano. Um texto que fala sobre sonhos, promessas e esperanças, tudo o que precisamos durante um ano tão desafiador. E, refletindo sobre referências na vida e na academia, o texto de Luane Bento, Com qual teórica eu vou?, faz um convite a conhecer outras tantas mulheres negras autoras e escritoras, exponenciando muitas delas, como Lélia Gonzalez, Nilma Lino Gomes e Conceição Evaristo. Um conto-relato também da autora Ticiane Caldas, escrito em Eliane queria saber, revela os meandros da violência e das memórias vividas por meninas negras. Já em A lógica da Plantation na Pós-graduação no Brasil, da nossa querida Okúm Omobirim, denuncia o racismo e a colonialidade do saber nas Universidades brasileiras, nos alertando sobre a dificuldade em permanecer neste espaço. Também tivemos a poesia de Sara França, Cheiro de Nega, que traz a sutileza de se olhar e se permitir amar cada canto do nosso corpo, afirmando que a nossa cor tem tons e cheiros que são os mais lindos. Retomando escritos fortes e cheios de denúncia, as Blogueiras Negras entram na lista dos Mais Lidos com Olho no Olho: contra a violência e pelo bem viver entre nós – vale a pena ler para entender as tretas!
Se apropriando dos ensinamentos de bell hooks, o texto de Juliana Sankofa, E quando falhamos enquanto comunidade?, também foi um dos mais lidos e resgata uma reflexão crucial sobre o afeto, o cuidado e a ética entre nós. Com o texto O desfazer da trama e a celebração da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, Isabelle Ferreira estreou em nosso site e foi a mais lida, narrando a importância do 25 de Julho e seu significado para as mulheres negras brasileiras. Nossa amada Thayz Athayde trouxe o emocionante e engajado relato, Caminhos Coletivos: construindo futuro no diálogo com Mulheres em Movimento, sobre o evento anual Diálogos em Movimento, do Fundo Elas+. O texto também aponta reflexões sobre a necessidade de uma política de cuidado entre nós, mulheres feministas. E ela, que vai pedir música no Fantástico, Ticiane Caldas, emplacou mais um texto, desta vez em um desabafo sobre violência e segurança pública no Brasil, no texto Nós por Nós. E, fechando com chave de ouro, nossa Mobilizadora Lays Araujo transbordou radicalidade e alegria no seu texto-editorial Nós, as que marcham pelo bem viver, perambulando pelos preparativos para 2025, ano em que marcharemos todas.
E é assim, animadas pelo espírito coletivo, com esperança e fé na vida, no trabalho e no descanso, que entregamos. Entregamos luta, poesia, histórias e relatos. Pretendemos continuar e, enquanto houver leitoras e leitores, haverá Mais Lidos. Afinal, somos forjadas na resistência!
E, pra não deixar o costume: escrevam! Nós somos nossa própria inspiração. Que 2025 seja um ano próspero e cheio de inventividade para todas nós!
Redação: Larissa Santiago
Edição: Wellington Silva
Design: Sandir Costa