Eu queria começar esse texto dizendo que: vai ter jornalista mulher negra publicando livro sim.
Há mais ou menos um mês estive em Curitiba para lançar o livro “Paraná Preto”, que escrevi em parceria com minha amiga jornalista Maria Carolina Scherner. O processo de confecção do material foi prazeroso, mas também me mostrou uma face muito triste do racismo no Paraná.
A primeira pedrada foi quanto à historiografia paranaense. Por negligência, por falta de percepção ou ainda propositalmente, inexiste menção às contribuições da população africana e afro-brasileira para o estado. As menções se restringem à época da escravidão e terminam na abolição, como se todos tivessem simplesmente retornado aos seus países de origem ou ainda mudado para outros estados.
Isso é muito contraditório. Ao passo que os livros paranaenses escondem as contribuições do nosso povo, Curitiba teve uma das mais antigas sociedades operárias formadas por negros do sul do país: a 13 de maio, que apesar do nome foi fundada dez dias antes da abolição em 1888. Essa história só descobri durante as entrevistas para o livro.
Como não poderia deixar de ser o nosso primeiro capítulo fala de mulheres negras. Apresentamos a atuação da Rede de Mulheres Negras do Paraná. A mulher paranaense sempre é retratada como loira, branca, de olhos claros. Mas nem todas nós somos assim. Somos orientais, temos cabelos ruivos e também, claro, somos negras. A Rede tem um trabalho de resgate de autoestima e também de promoção social. Vale muito a pena conhecer a atuação.
Ao longo das entrevistas realizadas pelo livro também fomos às cidades de Londrina, Campo Largo, Maria Helena, Umuarama, além de Curitiba entre outras. Unanimidade em todas as regiões e entre todos os entrevistados foi a necessidade do movimento negro apontar que estamos aqui, que não somos invisíveis, embora exista uma tentativa de embranquecimento em todas as regiões.
O livro é um levantamento inédito, mas mais importante que isso, objetiva fomentar outros jornalistas e pesquisadores para que olhem com mais atenção para o povo negro e preencham as lacunas na história oficial do nosso estado. Em suma: vai ter blogueira negra publicando livro sim. E se reclamar vai ter a segunda edição.
Imagem destacada: Capa do livro Paraná Preto, de Ali Reis e Maria Carolina Scherner.