Eduardo de Jesus, 10 anos, morto com um tiro de fuzil na cabeça, na porta de sua casa no complexo do Alemão, RJ. Responsável pelo disparo? Policial Militar.
Quem era o menino morto pelo disparo? Era Eduardo, uma criança, uma vida resistindo e existindo em meio à opressão, à violência, à polícia, ao estado. Filho da Teresinha, doméstica, ele sonhava em ser bombeiro. Eduardo pensava em salvar vidas. Ele assistia televisão no sofá de casa com sua mãe, minutos antes do seu terrível assassinato. Era de tarde, qual o problema em sentar no batente da porta e mexer no celular? Foi o que Eduardo fez. Eduardo morreu por isso. Uma bala, em um único disparo o paralisou, finalizou, aniquilou sua vida. O policial achou que seu celular fosse uma arma e atirou. Para o policial, uma criança pobre, de pele escura era uma ameaça. Seu celular só poderia ser uma arma, o menino só poderia ser um vagabundo.
A ação da polícia que deu origem a essa revoltante tragédia, era contra o tráfico de drogas no Alemão, no discurso de “pacificação” da comunidade. Onde está a paz nisso tudo? Onde esta a paz na ação repressora, violenta, assassina da polícia, do Estado? A guerra que inocentemente acreditamos ser contra o objeto droga, na verdade é contra pessoas, contra classe, contra cor. Contra uma determinada parcela da população, contra uma cultura, modos de vida, contra uma comunidade, contra uma favela. Me questiono nisso, como pode o Estado ter o direto de matar. Executar, em menos de dez metros de distância uma criança, sem explicação. Ainda que houvesse argumentos para isso, é inconcebível que a polícia, uma instituição que teoricamente existe para a defesa da população, aja em detrimento da sua execução, com o intragável álibi de manter a ordem, de trazer a “paz” ao cidadão de uma comunidade.
A morte de Eduardo foi noticiada de forma corriqueira nos jornais brasileiros, quase naturalizada. Porque infelizmente é naturalizada. O filho de Geraldo Alckmin, também morreu. Sua morte ganhou maior destaque pela imprensa, com muito pesar. Seu velório contou até mesmo com a ilustre presença da presidente da república. Quanto vale a vida de um e de outro? Acaso a vida do filho do Alckmin é mais importante do que a do filho da Teresinha? Tudo indica, infelizmente, que sim. A morte de Eduardo é praticamente anônima, anunciada pelos jornais como “o menino do Alemão”, sem nome, sem história, sem importância.
O que me faz lamentar ainda com mais pesar esse terrível assassinato, é pensar em tantos outros jovens, na sua maioria negros, que morrem pela responsabilidade, ou melhor, pela irresponsabilidade da polícia, sem ao menos chagar ao conhecimento da população. Vidas interrompidas e silenciadas. 83 jovens negros são assassinados pela polícia, diariamente. Quem se importa? “É só mais um silva, que a estrela não brilha.”
A foto, tirada no Morro da Matriz, RJ, é para ilustrar as crianças, assim como Eduardo, resistindo e existindo na favela.
A música, vai incrivelmente em encontro com o texto e a voz dessas pessoas, silenciadas, oprimidas e violentadas.
Imagem – Vozes da comunidade.