Mais um fim de ano por aí e a histeria coletiva pelo corpo magro para ser exibido no verão está se intensifica a todo vapor. Uns começaram há uns meses atrás e alguns, mais em cima da hora, mergulham na paranoia de emagrecer a qualquer preço, recorrendo a dietas malucas – muitas vezes arriscadas. A ditadura da magreza faz-se mais expressiva do que nunca nessa época, passando com seu tanque de guerra por cima de quem não se encaixa no padrão.
E a mulher negra, mais do que qualquer outra, para ser “aceita” tem como que uma obrigação atender a esse padrão: tem que estar magra, sarada, corpão tipo ‘mulata de escola de samba’, alimentando a hiperssexualização da mulher negra, que há séculos vem coisificando, roubando a autoestima e a liberdade da mulher negra.
Pedras? Não. Eu não venho aqui atirá-las. Há poucas semanas, apesar de há um bom tempo me sentindo empoderada, feliz comigo mesma, com meu com minha aparência, me peguei em uma semana com muito sacrifício, fazendo uma maldita dieta para perder bastante peso em pouco tempo. A dieta duraria duas semanas. Nos primeiros dias estava empolgada, na correria, não senti nada além de uma leve fraqueza, nada de assustar, algo bem sutil que poderia ser facilmente justificado pelo típico stress de final de semestre na faculdade. Aparentemente eu estava ótima, animada comprando os “matinhos” para as pseudorefeições.
Mas ao quinto dia… A falsa perfeição ruiu. A quem eu estava querendo enganar? A mim? Eu estava mal. Meu estomago doendo horrores. Um fantasma que me perseguira a um tempo atrás estava voltando. O prazer de não comer, e se comer, não deixar a comida seguir seu rumo certo, se é que me entendem. A dieta maluca estava abrindo as portas para um distúrbio alimentar do qual havia tido a companhia por muito tempo (em segredo, muito cuidado para não ser descoberta) e me afastado com muito esforço.
Assustei-me, chorei, cai em mim. Chega! Dei um basta. Olhei-me no espelho e vi que outra vez estava ferindo minha autoestima, me dizendo que minha forma de ser é errada, não tem beleza. E sinceramente, eu não concordo com eles. Apenas estava, na fragilidade de um momento, buscando calar vozes, passar despercebida, entrar no padrão para não ter que ouvir mais um dos mil julgamentos. Julgamentos que muitas vezes vêm de bocas que dizem me amar e pouco tempo depois, sem sequer se importar com o que eu realmente quero, com o que realmente sinto, não demonstram esse amor em suas palavras, mas dão as mãos para a maldita ditadura da magreza e tentam apagar quem sou, me transformar em alguém que não estou disposta a ser – alguém que não sou eu.
Imagem – reprodução web.
Esse post faz parte da série #PretasdePesoePoder para falar de empoderamento, auto estima e poder.