O Negra Sou foi um projeto que nasceu da vivência e da troca de experiências e reflexões que realizava com minhas irmãs do Núcleo Universitário Negro, o Nun da UFRRJ, sobre nós, mulheres negras. O meu primeiro contato com a questão racial e com o empoderamento se tornou possível quando eu tive a oportunidade de frequentar uma universidade pública e participar dos grupos organizados da Rural. Uma vez que acreditamos que a formação não se conquista apenas na sala de aula.
E desde que comecei a participar das reuniões do Nun, coloco as pautas da questão racial em meus trabalhos, não só o documentário, como em outros trabalhos também. Para conseguir não só fazer a minha própria formação sobre o tema, mas também expandir para outras. Porque a gente sabe que não adianta a gente formar só os negros e só os negros entenderem o que é o racismo e lutarem contra o racismo se a gente não conseguir passar esse debate para outras pessoas conseguirem entender também.
A questão de construir o negro, do orgulho de ser negro num país racista como o nosso, realiza-se também através da questão da representatividade, alteridade e empoderamento, uma das questões que o movimento negro se insere nos debates sociais.
Com o “Negra Sou” em fase de produção, convidei as mulheres que faziam parte do Nun para me ajudarem a compor o documentário. Já que elas foram as primeiras inspirações que me ajudaram com o processo de empoderamento e a enxergar o quanto eu era linda e não precisava ter vergonha da minha cor, desde as nossas conversas, a compartilhamento de vivências até acompanhando a atuação delas na militância e na vida profissional também. Eu acreditei que podíamos propagar esse sentimento de poder de fala. Foi uma tarde de depoimentos emocionante com muito sentimento envolvido.
As atrizes do Kbela, curta-metragem que fala sobre a transição capilar da mulher negra, Dandara Raimundo e Isabel Zua agregaram demais, eu já conhecia o trabalho do Kbela pela divulgação nas redes sociais. Como aborda um tema que tem que ser falado e que consegue ser um manifesto e denúncia, mas com um toque artístico e muito elegante.
Durante as entrevistas, fiz perguntas do tipo: como era se tornar uma mulher negra, quais foram as principais inspirações delas, como elas se viam representadas pelos veículos midiáticos e ao final nos reunimos e cantamos jongo, para dar um toque sutilmente artístico no documentário também. Para as atrizes do Kbela, perguntei como foi fazer parte do projeto e qual era a importância dele.
QUANDO SOMOS MAIS NOVAS, NÃO ENTENDEMOS A VIOLÊNCIA QUE NOS É IMPOSTA, QUESTIONAMOS O TAMANHO DO NOSSO QUADRIL, DOS NOSSOS LÁBIOS, ALISAMOS O CABELO. MAS DESCONSTRUIR O ESTEREÓTIPO DO CABELO CRESPO COMO RUIM AINDA É UMA TAREFA DIFÍCIL, POIS EXISTE MUITA INSEGURANÇA.
Quem preza por uma sociedade de direitos igualitários sabe o quanto nós, mulheres negras, somos atingidas por esse sistema que prende a nossa fala e que abaixa a nossa autoestima. Eu criei o “Negra Sou” com o objetivo de contribuir para a extensão da conscientização política, que tem como símbolo o cabelo crespo. Que várias e várias outras mulheres negras se empoderem.
Pelo direito de não ser julgada ou depreciada pela cor da nossa pele ou pelo nosso cabelo. Procuro levar empatia para as outras pessoas em relação a nossa luta, pois não venceremos uma luta sozinhas. Espero conseguir me conectar com as outras mulheres que assistirem ao documentário, busquei levar reflexões, orgulho e felicidade a respeito da nossa identidade. Pois uma mulher negra feliz é uma atitude revolucionária.