Século XVIII, a fina sociedade brasileira mamava nas ama de leite
Para não ficar com os seus seios flácidos
E desde então nos tratam como serviçal
A revolta aqui é na violência das palavras, por enquanto!
Por que me pedem paciência?
Pegaram-me a força do meu reino
Lá antes dos tumbeiros eu era Rainha
Aqui usam meu corpo da forma que eles querem
Quando fecho os os lhos ainda sinto a mão do feitor sobre o meu corpo
Na saliva o gosto do falo da violência
No ouvido, o grito, gemido e a dor
Nas mãos, os calos as queimaduras
Nas costas, as feridas
Vocês me devem até a alma
E não me peçam pra ter calma
Eu sou a personificação da ira dos meus ancestrais
A vontade de encontrar os meus, mas não sei onde estão e em qual lugar procurar
Graças ao do Rui Barbosa que vocês tanto veneram
Eu sou o chicote que agora bate no lado oposto
A raiva e o nojo das mulheres estupradas pelos homens brancos dentro da senzala
O choro da criança após a Lei do Ventre Livre
E a paz de ser lançada ao mar e não ter que sofrer nunca mais
Vocês nos devem a alma e a vida
E o troco está sendo dado
A cada preta e preto que se formam na faculdade
A cada preta que resiste na desigualdade
Nas crianças lindas ostentando o seu belo crespo
Na velha guarda Preta sustentando a tradição africana
E nos terreiros resistindo à intolerância
E nas minas e nos manos que pegam o microfone e vomita tudo e aponta o dedo na cara do opressor
O navio negreiro de ontem é a viatura de hoje
Por que a lei da vadiagem ainda impera para os pretos
E o olhar da Princesa Isabel eu ainda vejo
Sempre encontro uns comendador Martins nos rolê
E agora o direto de escolha é Nosso
De capitão do mato eu nem falo
E se passa por mim eu corto o falo
A Dandara tá mais viva do que nunca
E esse gigante que vocês falaram ai que acordou
Na periferia ele nunca dormiu
Quilombo urbano é periferia alerta
Porque sororidade eu ainda vejo na favela
No recreio, vocês riam de mim
Se violência gera violência eu quero em dobro
Luther King tá descansando dentro de mim, mas Malcom X tá acordado e sempre ativo
Síndrome do Cirilo cês não vão ter
Afrocentrado é a base do poder
As correntes que eu te prendo é a do vitimismo e da meritocracia
Espera por uns 300 anos que alguma princesa vai te libertar
Ai sim, você veras que a oportunidade são para todos
Afinal somos todos iguais
Somos todos humanos…