No último dia 10 de agosto, a dançarina de 20 anos, Barbará Querino, a Babiy, foi condenada à 5 anos e 4 meses de prisão pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ -SP). Babiy foi condenada por dois assaltos à mão armada que aconteceram em 10 e 26 de setembro de 2017.
Entretanto, a defesa da dançarina apresentou testemunhas, fotos e vídeos para provar que Babiy estava no Guarujá na hora do crime. Já a acusação apresentou como testemunha alguém que alegou que o cabelo de Babiy “parece” com a autora do crime. Ela foi condenada mesmo assim.
A situação por que passa Babiy nos provoca dezenas de reflexões. Neste texto eu gostaria de destacar duas delas: a objetificação do corpo das pessoas negras e o encarceramento deste mesmo grupo como uma política de Estado.
A objetificação dos corpos negros é algo que é tão corriqueiro que muitas vezes não reparamos, mas ela é muito mais comum do que imaginamos. Ela é fruto da ideologia racista que justificou a escravização dos africanos por séculos e que estruturou as relações sociais no mundo todo e, em especial, nos países em que a escravidão foi utilizada como forma de exploração trabalho prioritária. Pessoas negras foram tratadas como objeto a ser mercantilizado, esvaziadas de alma, desejos, direitos, potencialidades e necessidades. Como consequência, temos diversos fatores presentes em nosso cotidiano, entre eles a uniformização dos corpos negros. Na sociedade pós-colonial, as pessoas negras são tratadas como se fossem um grupo uniforme: não temos peculiaridades fenotípicas e muito menos subjetivas. É comum a ideia de que toda pessoa negra sabe sambar, bater tambor e gosta de capoeira. O que é uma perspectiva racista, pois nega às pessoas negras uma individualidade e nos considera apenas um grupo ou mesmo um lote – forma como as pessoas negras eram comercializadas durante a escravidão. Neste sentido, como objeto que somos, não interessa se a pessoa identificada pela testemunha no caso Babiy era ela mesma, afinal, para esta pessoa, as pessoas negras são todas iguais. Se o cabelo dela parece com quem cometeu o crime, então certamente foi ela.
Sobre a política de encarceramento, existem vários estudos recentes que comprovam que há uma política deliberada do Estado que pune e aprisiona pessoas negras preferencialmente. Segundo o advogado de defesa, o fato de Bárbara Querino ser uma mulher negra, causa uma relativização de direitos fundamentais tais quais como a presunção de inocência. Assim como Rafael Braga, preso há mais de dois anos no Rio de Janeiro acusado de terrorismo, Babiy é vítima de um Estado racista que encarcera e assassina, destruindo toda uma geração de jovens negros.
Entre 2000 e 2016, a população carcerária feminina aumentou em 700%. Metade das mulheres encarceradas tem menos de 29 anos e ao menos 62% delas são de mulheres negras. Do total de mulheres presas, ao menos 45% delas aguardam para serem julgadas — o que configura um descontrole estrutural por parte do Estado e do Judiciário.
O caso de Babiy é ainda mais grave, pois há provas de sua inocência. Ela é vítima do racismo estrutural, que criminaliza os jovens apenas por serem negros, negando-lhes o direito a um julgamento justo.
Diversas mobilizações têm acontecido para chamar atenção para a política de encarceramento das pessoas negras. No próximo dia 13/09, em São Paulo, haverá um ato exigindo LIBERDADE AOS JOVENS NEGROS PRESOS INJUSTAMENTE. Na atividade, diversas entidades de movimentos sociais e negros exigem a Liberdade de Babiy Querino Marcelo Dias e Igor Barcelos.
Além de tudo, a família de Babiy vem passando por dificuldades financeiras. Sua mãe muitas vezes não pode visitar a filha por ser responsável, agora sozinha, pela criação de mais 5 filhos.
Uma campanha de financiamento coletivo Vaquinha está aceitando doações para ajudar a família de Babiy, que tem uma fonte de renda a menos com a prisão da dançarina.
Você pode doar aqui: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/todos-por-babiy-todos-por-babiy
Imagem: Todos os negros do mundo