No terceiro texto do especial Convergências Diaspóricas SSA-NYC, a pesquisadora Daisy Santos conta um pouco de sua experiência no Harlem Fashion Week (HFW) e descreve a sensação de estar ao lado de grandes referências da Moda Afro.
Assim como o evento anterior, o Harlem Fashion Week (HFW) é fruto de uma boa e velha pesquisa no Instagram. Entrei em contato com a organização do evento por e-mail para solicitar mais informações e logo recebi uma resposta confirmando minha possibilidade de assistir a um dos desfiles da edição de 2022, que ocorreu entre os dias 02 e 04 de setembro. O Harlem Fashion Week, segundo a Harlem World Magazine, se estabeleceu em 2016, tendo como fundadoras Tandra Birkett e Yvonne Jewnell, que são mãe e filha e proprietárias da marca Yvonne Jewnell New York LLC. O intuito do projeto, segundo as organizadoras, é ser uma plataforma para ascensão de novos designers para a indústria da moda.
O HFW contou com tudo que um evento de moda precisa: filas para acesso aos desfiles, muitos fotógrafos, designers em ascensão e celebridades. Logo de cara, ao chegar, me deparei com ninguém menos do que o ícone do Harlem e da moda afro-americana: Dapper Dan. O cara que inventou o streetwear e foi copiado posteriormente pela Gucci estava bem ali, do meu lado, enquanto eu esperava na fila para o desfile. Foi muito legal poder ter registrado a presença dele ali, porque apesar de toda a fama que possui hoje, Dapper Dan continua no Harlem prestigiando e dando prestígio ao Harlem Fashion Week.
Esse bolo cheio de cobertura, ainda tinha uma grande cereja me aguardando. Mas antes, é necessário entender um pouco mais sobre esse evento. Em seu artigo When Harlem was in Vogue Magazine, John L. Jackson Jr. fala sobre uma edição do Harlem Fashion Week para ilustrar uma forma de mobilização racial para o consumo popular, explorando um dos sentidos de “capital racial” que discute no seu texto. Isso porque a edição do HFW de 2017, analisada pelo autor, contou com uma matéria e diversas fotografias na Revista Vogue Itália daquele ano. Era o terceiro ano que o evento acontecia e aquela edição da Vogue destacou, segundo o autor: “(…) a distinção do bairro – especificamente, uma distinção racial marcada pelo capital racial complexo e transnacionalmente organizado do local – uma abordagem que se adapta à recente adoção de tal diversidade pela Vogue.” (JACKSON JR.,p.61, 2019).
Diversidade da revista Vogue a parte, não pude deixar de observar que o HFW aconteceu exatamente uma semana antes do New York Fashion Week (NYFW). Acredito piamente que não estamos falando de mera coincidência e sim de uma estratégia que angariou uma boa publicidade ao evento do Harlem. Na fila para entrada, conheci duas mulheres negras que vieram do estado da Virgínia para o evento e para acompanhar o que fosse possível do NYFW.
Consegui minha credencial e entrei para assistir ao Show/Desfile das 7pm. Alguns outros já haviam acontecido naquele mesmo dia e essa era a última passarela do evento. A dinâmica incluía não só a apresentação das coleções pelos designers, mas também um grupo de jurados que escolheria o vencedor daquela que vinha ser uma disputa. Depois de um grande discurso das criadoras do evento, os jurados foram apresentados e, dentre eles, estava o Ty Hunter, nada mais nada menos do que um dos stylists da Beyoncé. Sim, senhoras e senhores, eu estava no mesmo espaço social de uma pessoa que já tinha trabalhado com a grande diva, a rainha absoluta, a dona da colmeia, Beyoncé! Não posso dizer que o desfile se tornou coadjuvante porque eu particularmente gostei muito de tudo que foi apresentado. Tivemos roupas numa pegada mais urbana, outra coleção mais étnica, muita ousadia e muito entusiasmo dos espectadores que pareciam torcidas organizadas dos seus respectivos designers.
Quem revelou o grande vencedor foi o Ty Hunter após receber uma belíssima homenagem das organizadoras e ficar visivelmente muito agradecido com o gesto. Ele foi muito gentil em suas palavras aos competidores, incentivando a criação de moda por pessoas pretas assim como a iniciativa do evento. Minha timidez e minha surpresa de estar próxima a todas essas pessoas maravilhosas não me permitiu uma foto com eles. Mas foi uma ótima experiência deixando explícito o porquê a Beyoncé se cerca de tanta coisa boa: ela tem um excelente e florido jardim para polinizar. Acesse as redes do Harlem Fashion Week (@harlemfw) e veja tudo que rolou no evento.
Obrigada pela sua leitura. Nos encontraremos no próximo escrito do especial Convergências Diaspóricas SSA-NYC!
Me procure nas redes @daisy.osunduni. Quero saber o que você achou!!!
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Para quem se interessar, segue minha bibliografia de apoio para esse texto:
JACKSON JR., John L. When Harlem was in Vogue Magazine. In: Race Capital? Harlem as setting and Symbol. Editors: Andrew M. Fearnley & Daniel Matlin. Columbia University Press. New York. 2019.
MAURASSE, David.Listening to Harlem : gentrification, community, and business. Routledge Taylor & Francis Group, New York & London. 2006.