Nesse dia 10/10 em homenagem ao aniversário daquela que sempre foi Sol na minha vida: Dina, Mainha, Minha Mãe.
Morava num apartamento pequeno, daqueles que ficam no meio, cuja preciosa vista é o fundo dos outros apartamentos; e o muro do prédio vizinho. Estava tão acostumada a penumbra que nem me dava mais conta que era na penumbra que vivia.
Durante uma viagem, uma pessoa amiga que acolheu em sua casa e num amanhecer gloriosamente iluminado fui lavar o rosto e olhando no espelho, diante daquela luz toda, foi ali que eu percebi: Imponente, brilhante e completamente destacado: Meu Primeiro Cabelo Branco!
Olhei aquele fio de cabelo branco numa juba de cabelos castanhos e pega de surpresa com aquela presença, paralisei ali sem reação… (mas eu acho que a reação já estava ali, em mente.)
Corri para os skypes e faces da vida e fui correndo, ainda no susto, contar a novidade para as irmãs, primas, amigas…e em meio a brincadeiras, partilhas e muitos risos, a sugestão sempre estava ali: Pinta! Pinta logo Vi!
A vida inteira eu cresci em meio a mulheres que pintavam os cabelos, mulheres jovens, mulheres de meia idade, mulheres idosas, todas pintavam seus cabelos… e eu, embora já tenha tido minha fase colorida e hoje me sinto mais acalmada sempre pensei com muita naturalidade que a chegada dos cabelos brancos apenas estaria antecipando volta às sessões de pintura de cabelo. Pensei isso, acho que sempre pensei assim, mas, naquela manhã de sol eu me sentia diferente…
Não sei se a penumbra do ap. também era uma penumbra conceitual, mas com a luz do sol entrando pela janela, aquela luminosidade que me permitiu enxergar esse fio de cabelo me permitiu enxergar um monte de outros aspectos que até então eu nunca havia visibilizado!
A cada fala que sugeria, (aliás que afirmava com muita naturalidade) a necessidade de começar a pintar o cabelo, eu sentia ali uma inquietaçãozinha… Uma inquietação que começou pequenininha, mas que crescendo e se agigantando meu fez aproveitar a luz da manhã que ainda estava radiante e voltar ao espelho.
Olhando o espelho eu vi o meu rosto de novo, vi meus olhos, boca, nariz, cabelos (“aquele” fio de cabelo em especial), mas a visão daquele fio de cabelo me fez ver diferente e querer ver mais: Enxerguei ao redor daqueles olhos umas ruguinhas pequenininhas que fazem a pele se encolher quando eu tento das aquela piscadinha atrevida, olhei minha boca, minha testa e minhas bochechas e vi algumas linhas já começando o seu desenho em meu rosto. Vi ali sinais, prenúncios de que o tempo estava passando também para mim. Aos 34 anos meu rosto começava a ganhar os contornos dos tempos que viriam pela frente.
Olha aquele fio de cabelo, olhar as rugas e ser capaz de ver e ler a ação do tempo, diferente de tudo que eu pensei não me inquietou, não me desesperou. Olhei as linhas que começavam em meu rosto e aquele fio de cabelo ali tão diferente e altivo e não consegui entender porque eu deveria negar isso. Não consegui, naquele momento, querer esconder isso.
Eu olho para a mulher que sou hoje e olho para trás e vejo todas as outras que vieram antes de mim, às vezes sob em algumas circunstâncias elas estão lá atrás, em outras parece que caminhamos todas juntas lado a lado, existem situações que trazem de volta a menina em mim: algodão doce, a alegria de um inesperado banho de chuva na volta pra casa em outras percebo a Viviana de hoje assumindo o controle e pedindo que todas se comportem!
Mas a menina e a mulher, a adolescente e a jovem todas elas são quem eu sou hoje, aquele rostinho com a testa lisa e brilhante, aquela primeira ruga da testa que me deixava com um ar de quem pergunta e se pergunta o tempo todo, hoje os três risquinhos ao lado de cada um de meus olhos, tudo isso faz, no meu corpo, parte de quem eu sou.
Aquele fio de cabelo me dá fisicamente o testemunho de todas as minhas andanças afetivas, cronológicas, espirituais, conceituais. De todas as minhas certezas e dúvidas, de avanços, recuos e novos avanços e começa a me situar, me reposicionar novamente na trajetória da minha História de Vida. E eu penso hoje, que eu quero sim viver isso.
Quero ter 34 anos e parecer ter 34 anos, não quero parecer ter 20, ou 25. Trinta e quatro está bom. Trinta e quatro é quem eu sou. Por que eu não teria o direito de ser quem eu sou? Uma voz na minha cabeça me responde: Ah! Tu sabes…É Porque a sociedade está fundamentada numa concepção de busca desesperada pela juventude que é acima de tudo, uma juventude física, de corpos inalcançáveis (mesmo para quem ainda tem carteirinha de jovem com 15 a 29 anos). E eu devolvo em voz alta: Pois vou resistir, eu vou ser quem eu sou.
Um dia mais iluminado me possibilitou ver a mim mesma e a vida com novos contornos. E eu penso, que mais a penumbra vinha encobrindo, que outras descobertas ainda poderiam ser feitas? Um pouco mais de sol, me trouxe mais poesia, mais cor, mais calor e com certeza mais acolhida para quem eu sou.
Hoje, eu penso dessa forma, não é nenhuma crítica ingênua àquelas que desejam pintar seus cabelos, encobrir seus grisalhos, operar seus rostos e corpos. Não passa pela acusação da outra, passa pela afirmação, pelo desejo, de poder caminhar com meu rosto que começa e que ficará cada dia mais marcado e decidir me sentir bem com isso. Tem a ver com a decisão de maravilhosas manhãs que virão, continuar observado as novas cores da minha vida e decidir ser feliz com cada uma delas.
E eu desejo, para todas que assim o desejarem, uma manhã de sol como a minha. Uma manhã que traga a possibilidade de enxergar todas as cores. Um pouco mais de sol para poder ver a nós mesmas e nos surpreendermos com a gostosura que é, decidir ser Quem somos. Exatamente como somos.
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