A brutalidade com que somos tratadas pelo Estado, que nos desumaniza e mata, é flagrante. Segundo último Mapa da Violência apresentado em novembro desse ano, houve um crescimento nas taxas de homicídos das mulheres jovens, com destaque para dois estados brasileiros onde esses indíces triplicaram: Paraíba e Bahia, com números que variam de 7 a 10% do total de homicídos por 100mil habitantes.
A pesquisa também declara que há um aumento de vítimas homicídos na população negra, que subiu para 67,7%, comparando ao homicídio de jovens brancos que diminuiu 53,4%. Não há como negar que a violência tem cor nesse país. E se tratando de mulher negra, a violência vem agregada de machismo, seximo e violência sexual que juntas criam o combo FEMINICÍDIO!
Victoria Lopes é uma adolescente de 16 anos que foi espancada de maneira atroz por 6 policiais militares na frente da sua escola, na Zona Norte de São Paulo. A violência sofrida pela estudante é mais um exemplo do racismo institucional a qual todas nós mulheres negras estamos submetidas diariamente. Nunca nos esqueçamos de Claudias, Andrezas. A permissividade com que são tratados nossos corpos também se manifesta através da brutalidade concreta, que fere nossa carne e nossa alma.
O relato que você vai ler agora é uma história real recente que evidencia a violência potencialmente letal e o racismo institucional empreendidos pela polícia militar do Estado de São Paulo. Não precisamos nem dizer – já dizendo – que esse é o aparelho mais repressor já criado, com o objetivo de destruir a população negra e pobre. Dissidentes dos capitães do mato, a polícia e suas ações reforçam o pensamento do estado brasileiro racista, machista e violento.
Nós, Blogueiras Negras, repudiamos com veemência às ações da Polícia Militar e expressa seu total apoio à Victória e todas as muitas mulheres negras vítimas desse Estado racista, que trata nossas existências de acordo com valores ultrapassados e ultrajantes. Não ao racismo institucional em quaisquer de suas modalidades. Pela desmilitarização imediata da polícia, pela correta averiguação do fatos e punição exemplar dos responsáveis por mais essa atrocidade contra a mulher negra.
Relatos de um dia de Albino César
Hoje ocorreu no Tucuruvi a cena mais covarde que já presenciei em toda a minha vida, essa menina que aparece no vídeo sendo presa se chama Victoria Lopes aluna da escola EESG Albino César.
O que vou relatar a seguir é a história do que aconteceu para chegarmos até aqui.
Victória é uma aluna da escola e tem apenas 16 anos, mulher, negra. Hoje houve a despedida dos terceiros anos na escola onde por conta de alguns gerou confusão, alunos levaram ovo e tinta para brincar de guerra na porta da escola e até aí a brincadeira estava saudável, porém por contas de alguns tudo veio por água abaixo, alguns infelizes alunos dessa instituição de ensino levaram bombinhas para soltar no meio da rua na hora da saída, causa do rebuliço e denúncia da escola e dos moradores para a polícia.
Era por volta das 10:30 ou 11 hrs quando a polícia chegou na escola fazendo com que todos os que estavam atirando bombinhas fossem embora correndo, e ao invés dos policiais perseguirem os responsáveis, eles começaram a enquadrar na rua quem não tinha absolutamente nada haver com o “vandalismo” e em minutos por volta de cinco viaturas e quatro motos apareceram na rua. A diretoria da escola que ate então não havia feito nada começou a “tocar” os alunos para suas devidas casas e todo mundo começou a descer em direção à Avenida Mazzei onde fica a rua travessa a instituição.
Chegando na avenida havia esperando por nós, tanto alunos como alguns professores mais alunos tacando bombinhas em plena avenida enquanto tentávamos chegar em segurança a um ponto de ônibus, no caso localizado na avenida tucuruvi, nesse instante a polícia que antes estava na porta do Albino desceu para a avenida subindo a calçada com a viatura e as motos. Eles começaram a abordar muitas pessoas que não tinham nada haver com aquela confusão mais uma vez, só que dessa vez, menos compreensivos do que antes: a polícia partiu para a agressão, agredindo assim vários alunos com o cacetete.
Victoria Lopes estava andando junto a um grupo quando foi abordada, ela então perguntou ao policial o porquê daquilo “peitando” o PM. Em um ato covarde cerca de seis policiais, todos homens, cercaram a jovem e começaram a espancá-la no meio da rua sem qualquer motivo, atingindo outros alunos menores de idade da mesma escola. Com muita raiva e com razão Victoria começou a gritar no meio da rua por seus direitos juntamente com o grupo de alunos e funcionários de lojas próximas que haviam visto toda a cena e foi então o que aconteceu no vídeo, ela foi amarrada feito um animal, levou várias coronhadas e outros relatos (pessoas que estavam mais próximas) disseram que pela brutalidade a polícia chegou a arrancar até mesmo seu cabelo.
Voltando à escola para pedir ajuda, os alunos foram ignorados pela instituição que argumentou que fora do período escolar e a cem metros da escola eles não podiam fazer mais nada, uma das coordenadoras ainda disse “Bem feito, vocês estavam procurando por isso”. Querida escola, vocês eram SIM responsáveis pelos alunos, pois pelo horário ainda era um horário escolar, os pais não foram avisados que os filhos seriam dispensados mais cedo o que torna ainda mais vergonhoso o ato de vocês.
Indignada, venho por meio desse vídeo pedir que compartilhem esse ato de violência e irresponsabilidade da escola, o Brasil não pode ficar assim! Algo deve ser feito, alguma coisa deve ser feita, uma pessoa indignada não pode fazer absolutamente nada sozinha, mas em grupo sei que podemos ganhar voz e justiça, quero a punição desses ladrões fardados sem qualquer tipo de treinamento que são colocados para nós “proteger” como próprio policial grita no vídeo, PROTEÇÃO? Se for assim, prefiro me aliar ao ladrão e ao assassino.”
Imagem de destaque – reprodução web