A autoestima transforma

Se fosse possível, queria poder dar autoestima de presente numa caixinha. Essa coisa que é tão potente, mas tão difícil de ser acessada por alguns grupos sociais.

Eu entendo que o racismo também usa como estratégia de exclusão do povo negro o difícil alcance que temos à nossa autoestima. Para alguns de nós, pode custar muito o reconhecimento do nosso potencial intelectual e estético. Eles nos querem invisíveis na história, invisíveis para nós mesmos.

Se pra qualquer perfil de pessoa a autoestima pode ser uma conquista árdua, para os negros ela pode estar a milhares de quilômetros de distância. Dificilmente estamos na lista dos mais belos, mais criativos ou inteligentes.

Quando a gente encontra ou reencontra nossa autoestima, é como se um novo mundo se revelasse e, assim, déssemos novos rumos e metas para esta nova pessoa que descobrimos em nós mesmos. É como quando estamos acostumados a usar uma coisa de um determinado jeito, mas aí conhecemos uma nova função e a partir daí exploramos novas possibilidades.

Se você cresce querendo ter outro cabelo, outra cor de pele, querendo que sua boca e nariz sejam pequenos e finos, a beleza presente atrás de tanta autodepreciação fica mais difícil de ser encontrada. Mas quando encontrada e bem usada, pode ser transformadora. A autoestima também é uma mecanismo de mudança, com ela, somos capazes de ultrapassar barreiras aparentemente impossíveis e criar estratégias individuais e coletivas de transformação. A autoestima transforma e o racismo não quer que saibamos disso.  

Ver pessoas negras desfilando seus cabelos afros, sua pele escura, suas bocas grossas e narizes largos, cheios de confiança e satisfação, mostra mais uma vez que o racismo está perdendo o jogo.

Como o Dee, do grupo de rap 5 pra 1 diz no som “Papo de Milhão”, uma música muito empoderadora que fala sobre o poder do povo preto, “Não há coisa melhor no mundo, de ver os seus ali livre e sorrindo com os papo de futuro.”

É hora ir, ajeita sua coroa e arrasa!

 

Imagem destacada: NEGR.A por Paulo Abreu – Coletivo de Negras Autoras

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