No dia 29 de agosto de 1996 ocorreu o primeiro SENALE (Seminário Nacional de Lésbicas) no Rio de Janeiro, pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ). A partir desta data, o dia nacional da Visibilidade Lésbica foi instaurado pelas ativistas presentes e, desde então, ativistas de lugares e ideais diferentes vêm se unindo para cada vez mais falar mais alto pela nossa visibilidade.
Muitas pautas discutidas em reuniões e também em marcha permanecem as mesmas. Mas desde de 1996 até hoje, estes dezoito anos trouxeram diferentes pautas e também novas vertentes do feminismo, adicionando diferentes lutas que se fazem completamente necessárias, como a nossa.
Qual a importância do 29 de Agosto?
É fundamental lutarmos todos os dias contra o machismo, racismo e homofobia, como já diz o grito de ordem de diversas marchas. Mas a importância do 29 de Agosto vai além. A homofobia não comporta as mulheres lésbicas e enquanto isso a lesbofobia continua agredindo e matando mulheres lésbicas por todo o Brasil.
O 29 de Agosto é importante não apenas pelo seu dia em si, mas por toda a organização realizadas pelas mulheres envolvidas. Por toda a busca de mais informações e por toda a confusão dentro das organizações para realizar um evento, de qualquer tipo que for.
O 29 de Agosto é mais um dia de luta, mais um dia de expor indignações, ocupação de espaço e exigência de direitos.
E as lésbicas negras?
As lésbicas negras estão em menor número, ao menos em São Paulo, na organização deste tipo de eventos. O que se faz ainda mais necessário para que as articulações com outras mulheres seja contínua e para que mais mulheres negras estejam presentes em todos os lugares.
Em dezoito anos de história, a visibilidade da mulher negra tem tido sua real preocupação dentro dos coletivos há pouco tempo, depois de terem surgido coletivos de mulheres negras, sites e páginas de discussão. As lésbicas negras se mostraram presentes e, assim, foram introduzidas nos espaços de organização. De início, o estranhamento e a divergência de opiniões geram atritos, mas posteriormente, o reconhecimento dos privilégios e a paciência em ouvir, reduz a distância entre mulheres e soma na luta diária contra a lesbofobia.
E as lésbicas da periferia?
Como já disse em outro texto, o feminismo negro é periférico e as mulheres periféricas estão sempre presentes para onde elas são chamadas. Com particularidades de cada mulher, sendo ela periférica ou não, os coletivos que integram a realização dos eventos para o Dia Nacional Da Visibilidade Lésbica estão cada vez mais enegrecidos e cada vez mais atentxs às questões das mulheres periféricas.
Uma coisa é ser lésbica. Outra coisa é ser uma lésbica periférica. A possibilidade de uma mulher lésbica ser espancada por mostrar seu amor à sua companheira é muito maior quando na periferia. Os espaços que nos são de direito são reduzidos enquanto periferia e é isto o que é debatido, conversado e exigido em encontros.
É mais do que necessário ocupar espaços periféricos para que as mulheres que residem na periferia e também mulheres moradoras de rua tenham conhecimento de seus direitos, tenham espaço para compartilhar seus relatos e, principalmente, possam estar seguras em um espaço de empoderamento, em um espaço onde elas são sempre bem vindas e serão sempre ouvidas. Mas é ainda mais importante saber que a periferia é um lugar com suas particularidades, essas que devem também ser respeitadas, para que não exista atrito e para que as vozes das mulheres lésbicas sejam ouvidas como um todo.
A Visibilidade Lésbica Negra
É um fato antigo a questão da visibilidade da mulher negra. Já relatei indignação por não encontrar mulheres lésbicas nos lugares que frequento. Tenho diversos questionamentos em relação aos espaços que eu frequento. Após este texto, pude ter uma visão diferenciada. Os espaços que as mulheres lésbicas negras frequentam existe, mas são espaços de fácil acesso para elas, onde elas se sintam confortáveis e seguras que, em grande maioria, se torna a própria casa ou espaços um pouco mais restritos apenas para pessoas conhecidas. E, com isso, mulheres periféricas começam a se unir para criar diferentes tipos de eventos.
A mídia, por outro lado, se esquece das lésbicas negras. Mesmo a mídia alternativa, majoritariamente composta por páginas do Facebook e sites menores como blogs pessoais também. As lésbicas negras não existem na televisão e são difíceis de encontrar na internet! Tudo por uma questão cultural, onde nos é imposto o modelo de beleza europeu, onde a mulher negra é a beleza do Carnaval e a lembrança da questão selvagem. Com as lésbicas, essa fetichização é ainda maior. O padrão de beleza não é existente em nós, mas temos o “a mais” de estarmos unidas à outra mulher, que automaticamente faz-se pensar que somos objetos de prazer e que estamos ali apenas para embelezar o dia de alguém, mas não estamos!
Ainda é hora de nos unirmos e gritarmos em uníssono que EXIGIMOS NOSSOS DIREITOS e, mais ainda, EXIGIMOS RESPEITO. Nosso amor não é para ser observado, não somos objetos e muito menos estamos aqui para fornecer prazer pra outrem. Estamos aqui para viver, para ocupar espaços que também são nossos. Estamos aqui para amar e para sermos amadas, indiferente de qualquer questão. Não nos importamos com sua opinião, mas racismo, machismo, transfobia, lesbofobia e qualquer reação violenta será rejeitada! Não passarão!
Não estamos aqui para agradar.
Tem lésbica preta aqui. Não gostou?
ENTÃO TEREMOS MAIS!
Imagem de destaque – Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais.
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Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva pelo Dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual, convocada pelo Coletivo Audre Lorde.