Estética racista: O não reconhecimento do indivíduo negro

É curioso intitular algo como “Estética do racismo” mais curioso ainda é pensar que o racismo possa ser vinculado a qualquer noção de estética.  Desde já é interessante elucidar que abordagem dada a esse tema não é algo relacionado a padrões de beleza, aliás, o que está sendo trabalhado aqui não vai de encontro ao pensamento de uma estética relacionada ao que seria belo ou não em determinado sujeito.

O objetivo, na realidade, é pensar numa identificação da pessoa, em especial a pessoa negra. Como ela se vê e quer ser vista? O que ela faz para ser reconhecida? Nota-se que há dois pontos nessa perspectiva; um é como essa pessoa quer ser vista e como ela pretende ser reconhecida, é justamente ai que podemos problematizar a questão do racismo.

Não há dúvidas de que o racismo estrutura uma série de obstáculos sociais e econômicos, dificultando a vida de negros e negras. Entretanto, assim como uma planta, o racismo possui várias ramificações que atingem a questão cultural e como o indivíduo se posiciona em uma sociedade que normaliza determinado sujeito e exclui outro.

Nesse sentido, um dos ataques aos sujeitos negros na sociedade é retirar a noção de identificação que lhe são próprias e deixá-los numa constante busca para achar uma identidade que os faça fugir de um racismo cada vez mais devastador que não só habita a esfera do físico como também da própria subjetividade.

No quadro racista que os indivíduos negros são submetidos esse ato de reconhecer-se é a todo tempo negado, sendo negado, esses indivíduos passam a não ser considerados pessoas. Eis o primeiro resultado da retirada de identidade do sujeito, uma invisibilidade social.  A busca por reconhecimento é um dos obstáculos mais complexos imposto por um sistema racista.

Assim o sujeito negro, sem identidade e consequentemente sem reconhecimento enquanto pessoa, passa pelo processo da marginalização, porque esse mesmo sujeito é encaixado nos moldes racistas como um perfil que carrega um nível de periculosidade. Com a identificação utilizada por uma política de segurança racista esse sujeito recebe, não por vontade própria, a identidade de transgressor da lei, esse é o segundo ponto do que pode ser englobado numa estética racista, o reconhecimento da pessoa negra como sempre marginalizada.

Assim, falar de uma estética racista é pensar primeiramente na identidade enquanto pessoa que é negada a todo tempo ao negro, depois a marginalização desse indivíduo que como não tem identidade própria é forçado a um encaixe ditado por uma sociedade opressora, aos corpos negros é oferecido a marginalização, por último a lógica da estética racista se fecha em retirar a subjetividade do sujeito negro, negando que assim sua própria vivência.

 

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Diametralmente oposto a esse padrão aceitável se encontra, por lógica, o corpo negro. O corpo negro, seus traços, sua genética, seu fenótipo e a infantil tentativa de negar a construção social que tem o gosto. Somos, todos nós – negrxs e brancxs – expostos desde crianças a propagandas, programas infantis, desenhos, revistinhas em que predomina um padrão de beleza europeu. “Gosto não se discute” porque a mídia já deliberou sobre ele por nós, apresentou-o e nós, como o esperado, compramos não só o gosto mas também o slogan. Continuemos sorrindo!