Festa Africana X Festa Alemã

Por Sara Joker para as Blogueiras Negras

No mês de junho fui a tão conhecida Festa Africana aqui em Juiz de Fora. Ela já acontece há 15 anos, é feita por alunxs intercambistas de vários países da Festa Africana África, pela Universidade Federal de Juiz de Fora e pela prefeitura de Juiz de Fora. Me interessei em ir a festa por inúmeros motivos, um deles foi para conhecer costumes musicais e alimentares da cultura africana. Como também já fui a tão conhecida Festa Alemã aqui em Juiz de Fora. O curioso é que em apenas uma eu senti um certo estranhamento. E foi na Festa Alemã, em 2009 fui a essa festa e me senti tão “peixe fora d’agua”! A cultura alemã não me representa e não representa a maioria dxs moradorxs de Juiz de Fora. A comida é gostosa mas não lembra tempero brasileiro, assim como as danças também foram um tanto estranhas. Sim, culturas diferenciadas, países totalmente diferentes, Brasil e Alemanha.

Festa Africana - arquivo pessoal.
Festa Africana – arquivo pessoal.

Porém, na Festa Africana eu me senti em casa! O tempero dos pratos eram bem próximos ao nosso paladar, as músicas são mais próximas ao samba e ao axé. O que me deixou curiosa foi notar como algumxs brasileirxs se enxergam tão distantes da cultura africana!

Conversando com um amigo africano que mora aqui no Brasil, falei de como xs brasileirxs valorizam a cultura, costumes e descendência europeia, esquecendo que nosso país têm uma mistura muito maior que apenas culturas europeias, somos miscigenação de europeixs indígenas e africanxs. Nossa cultura é apenas de valorização dx colonizadorx, religiões, arte, música e vestimentas. Colonizadx e escravizadx são culturas “excêntricas” e “exóticas”. As religiões de matriz negra (como falei no meu primeiro post) são vistas com preconceito e de forma risível. Ícones de beleza são brancos e brancas, ícones sexuais são negros, negras e índias. Relação de séculos de dominação nos faz enxergar dessa forma, nem notamos que a festa africana é mais nossa casa que a festa alemã! Rever nossa preferência cultural pela Europa é rever o racismo que enfiaram goela abaixo, que nos ensinaram a cultivar sem nem pensar sobre.


Sara Joker é feminista, artista, quadrinista, bissexual, mulher, negra de coração e cantora nas horas vagas.


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13 comments
  1. Olhae Sara, boa idéia = um post sobre arquitetura africana. Como já disse antes, seu post veio numa hora bem certa pra mim. Nunca fui numa festa africana, que vergonha! Abs!

    1. Mas eu tb nunca tinha ido, fui acompanhar um africano q faz intercâmbio em Viçosa que veio em JF me visitar.
      Quero escrever sobre a arquitetura e cultura africana sim, vou pedir ajuda a meus amigos do intercâmbio!

  2. Muito homem bonito nesta festa hein. Eu tenho muitas broncas dos EUA pelo comportamento deles, mas também tenho uma enorme queda pelo país principalmente porque adoro a cultura negra americana, adoro hip hop, basquete, etc.

    1. O meninos que me acompanharam na festa são lindíssimos! A cultura negra dos EUA é bastante forte, não some, visível, mas sou apaixonada pela cultura negra brasileira, as religiões, a capoeira….

  3. Já percebeu que quando vão comentar a beleza de um(a) negro(a) dizem: “mas que NEGRA/PRETA/… linda”? Percebeu também que quando é branco(a) o comentário é simplesmente: “linda”? É como se toda a nossa beleza (e englobo beleza fisica, beleza da cultura, …) fosse uma exceção. Somos exceções. Agradeço a você por mais um texto maravilhoso e que me fez refletir. Parabéns pela iniciativa.

    1. A famosa ideia de que “fulanx é negrx mas é…” (coloque qualquer elogio aqui), me irrita ver como x negrx é sempre diminuidx em relação ax brancx….
      Bonitx, feix, inteligente ou o que for, não tem nd a ver com a cor da pele!

  4. Tas de parabéns Sara! Acho muito triste perspectiva dos europeus para com os africanos!
    Eu pessoalmente tenho muito orgulho de ser Negro e Africano principalmente quando vejo:
    – As artes arquitetônicas e a engenharia das muralhas elípticas do grande Zimbabwe feito por Negros da tribo Bantu sob a ordem dos Mwenemutapas por volta de 1250 D.C …!
    -A superioridade negra nas pirâmides e nas Esfinges principalmente a de Gizé no Egipto feito por engenheiros das tribos berbere, tuareges e bantu por volta de 2500 A.C pese embora alguns anglo-saxónicos atribuam essas obras aos extraterrestres …!
    -O Timbukutu no Mali feito por volta 1300 DC…!

    1. A arte, arquitectura africana é maravilhosa! E acredito que muitas pessoas não conseguem entender que valorizar a cultura africana e indígena não é desvalorizar a cultura europeia. E, como falei no post, ainda me identifico muito mais com a cultura africana que com a cultura europeia que considero mais próxima dá brasileira, que é a espanhola e portuguesa.
      Obrigada pelo comentário, meu amigo!

    2. É no Sul aonde as pessoas mais se declaram negras e que a cultura hip hop é mais forte que em todo lugar do Brasil.

  5. Tas bem parabéns Sara! Acho muito triste perspectiva dos europeus para com os africanos!
    Eu pessoalmente tenho muito orgulho de ser Negro e Africano principalmente quando vejo:
    – As artes arquitetônicas e a engenharia das muralhas elípticas do grande Zimbabwe feito por Negros da tribo Bantu sob a ordem dos Mwenemutapas por volta de 1250 D.C …!
    -A superioridade negra nas pirâmides e nas Esfinges principalmente a de Gizé no Egipto feito por engenheiros das tribos berbere, tuareges e bantu por volta de 2500 A.C pese embora alguns anglo-saxónicos atribuam essas obras aos extraterrestres …!
    -O Timbukutu no Mali feito por volta 1300 DC…!

    1. Sim, imagino que seja um forte choque de cultura. Sou carioca, não conheço o Sul, acredito que deve ser uma das poucas áreas que tenha realmente fortes influências da cultura europeia. Mas será até uma visão racista essa falta de miscigenação cultural de alguns sulistas?

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