Nós não entendemos errado, errados são vocês racistas

Quando nós, que nos preocupamos com a igualdade de direitos entre as diversas etnias no Brasil, vemos um caso de racismo tomar uma propagação midiática grande, logo ficamos com receio. Receio de isso não ser tratado com a seriedade devida e, na pior das hipóteses, de ser mais um caso que sirva somente para negar e periferizar cada vez mais as atitudes criminosas que nessas situações carecem, urgente, de medidas judiciais.

Nessa semana, Angelo Assumpção, da Seleção de Ginástica Artística Brasileira, foi vítima de piadas racistas, feitas pelos próprios colegas do grupo. A situação, na qual os colegas Arthur Nory, Fellipe Arakawa e Henrique Flores fazem uma analogia perversa entre negro e branco da seguinte forma: “– Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca, quando ele estraga é de que cor? (risos). O saquinho do supermercado é branco e o do lixo? É preto!“. Depois que eles disseram essas coisas nós vemos nitidamente um Angelo irritado e incomodado. Mais tarde, o vídeo mostra eles indo acorda-lo e pedindo desculpas. Angelo ainda está irritado e não aceita o pedido, dizendo que aquilo é falsidade. Eles gravam o vídeo e jogam na rede, com efeito de serem “engraçados”, racistamente, e quando gera toda essa polêmica eles se arguiram do lado ruim do humor para se justificarem, mas racismo não tem justificativa, tem pena.

Brincadeira na qual só um grupo se diverte enquanto que o outro se sente diminuído, desprezado? Não pode. No vídeo fica evidente que o atleta se incomodou, se sentiu injuriado, e os atletas e outras pessoas vêm defender as atitudes racistas como mera brincadeira? Ser comparado a um saco de lixo, a um item quebrado, danificado, com insumo de ser visto como inferior, por ser negro, não pode ser encarado nunca como brincadeira. Passar por isso e ser exposto em rede nacional para servir de mais chacota aos outros racistas de plantão, não é brincadeira. Agora se, como muitos defendem e pode até ser, os atletas são bons rapazes, mas agiram mal, que paguem pelo mal que fizeram e ponto. Que isso sirva de exemplo para que cada vez menos atitudes como essas sejam toleradas e disfarçadas de brincadeira, pois não tem graça ser vítima de racismo. E quem defende isso como brincadeira de maneira acrítica só contribui cada vez mais para a proliferação dessa doença social que assola nossa sociedade por mais de três séculos. E isso merece atenção.

É muito difícil, ainda hoje, ter que explicar para as pessoas o que é racismo. Por fim ainda fico pensando o quão complexo deve ser para Angelo ainda ter que ficar no vídeo, onde os atletas pedem desculpas públicas, posando de que nada ocorreu por existir uma pressão midiática, pressão do próprio grupo e da própria posição do atleta para passar uma borracha nisso, é outra faceta do racismo que precisamos, urgentemente, discutir. Não podemos incentivar a Síndrome de Estocolmo.

2 comments
  1. O racismo não vai acabar enquanto a cultura não mudar. Ninguém nasce racista, adquire-se esse “comportamento”. Acredito que cada um de nós aqui já sofreu por isso, e não contente em agredir, geralmente o racista ainda diz que você exagera e não sabe brincar. Só sabe de racismo quem sofre, e somos nós que dizemos o que nos ofende ou não.

  2. Eu não sei como é que em pleno ano 2015 ainda ocorrem casos de racismo. Ainda hoje aqui em Portugal um vídeo tornou-se viral, pois uma telespectadora ligou para o canal da tv e perguntou porque é que os brancos levam porrada, socos (determinadas situações) e os pretos e ciganos (etnia de cá, não sei se aí no brasil conhecem) não levam. É triste!

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Diametralmente oposto a esse padrão aceitável se encontra, por lógica, o corpo negro. O corpo negro, seus traços, sua genética, seu fenótipo e a infantil tentativa de negar a construção social que tem o gosto. Somos, todos nós – negrxs e brancxs – expostos desde crianças a propagandas, programas infantis, desenhos, revistinhas em que predomina um padrão de beleza europeu. “Gosto não se discute” porque a mídia já deliberou sobre ele por nós, apresentou-o e nós, como o esperado, compramos não só o gosto mas também o slogan. Continuemos sorrindo!