Poxa, as princesas que tinham finais felizes eram brancas, de olhos claros. E eu me lembro de querer ser como elas, associar elas ao bem, ao bom, ao puro. Eu não sabia que nunca poderia usar vestidinho rodado porque “me engorda” e eu tenho que disfarçar, ou que não poderia soltar meu cabelo ao vento, porque ele não balançaria, ninguém me avisou. Só me deram uma boneca e um desenho animado e disseram que aquelas moças magras e brancas iam ser felizes.
Chamar alguém de macaco, no contexto de uma sociedade estruturalmente racista, é nada menos que racismo em toda sua crueza e potência. Não existe outro significado possível. Dentro e fora dos estádios, tem como objetivo desumanizar a existência da pessoa negra a quem se considera nada mais que um animal.
Espero que o meu clamor seja ouvido, para que outros alunos não tenha que se submeter as mesmas arbitrariedades e opressões devido a sua cor de pele e condição social.
Sei que já se passaram seis anos, e como bem dizem por aí, brasileiro tem memória curta. O povo não se lembra do que comeu ontem, quem dirá de quem te chibateou no século passado. Afinal, como foi dito por um personagem do filme Besouro, “é só receber um afago que o povo logo se esquece das chibatadas”.
Não bastasse o blackface por si só ser um problema, ainda temos que lidar com comentários extremamente maldosos e igualmente racistas sobre essa estereotipação do negro e de suas características. É um festival de horror ver as pessoas destilarem seu racismo disfarçado de comentários engraçados e espirituosos
Ser a única negra de uma escola de uma escola com aproximadamente 80% dos alunos oriundos da elite brasileira em uma turma onde todas as meninas estavam em um grau avançado com quinze anos de idade e eu sendo a mais velha dentre todas isso fazia uma tempestade na minha cabeça.