Nosso morar de cada dia. Vivências urbanas!

Quando eu tinha 15 anos de idade, minha avó paterna faleceu. O meu pai, já havia falecido dois anos antes. Tendo eu e meu irmão como netos, ela optou por deixar para sua neta seu humilde barraco de 3 cômodos, no quilombo urbano que compreende o Morro das Pedras, zona oeste da capital mineira. Anteriormente, minha mãe, mulher negra, foi quem ajudou-a para que conseguisse comprar a casa. Hoje penso que após tanto sofrimento, ela levou em consideração o fato de eu ser mulher negra, e no futuro ter menos privilégios que meu irmão. Alguns anos após o seu falecimento, a prefeitura de BH apareceu na quebrada apresentando um projeto de urbanização (higienista), projeto esse que já determinava autoritariamente a desapropriação dos moradores, argumentando a construção de prédios, praças, ruas, etc. Ora, convenhamos que não nos consultaram e boa parte da comunidade foi sendo retirada de suas casas abruptamente. Como único aviso, apenas marcas deixadas nos muros com um spray da cor preta. Uma marcação numérica que determinava todas as casas que seriam demolidas. Algumas latas de sardinhas já foram construídas, e uma quantidade enorme de concreto substitui os barracos. No entanto os anos estão passando e dizem que essa tal urbanização ainda não terminou, mas avaliem bem: tudo fica parado e nada é dito ou feito durante as épocas de eleição. Agora em 2015, com 23 de idade, moramos eu, meu companheiro e nossa filha recém nascida na casa que nos ancora a ideia de território. Conseguimos fazer algumas melhorias na casa para que seja um pouco melhor o nosso morar e estar. No entanto, a casa ainda é de telha, mas estamos cobertos e protegidos dia e noite (assim parece a princípio). Novamente pensem bem: até quando estaremos protegidos? A prefeitura, unida a cemig, ultiliza do aparato opressor do Estado, para perturbar permanentemente com o medo da retomada desse tal projeto de urbanização, bater em nosso portão e dizer que teremos que nos retirar da nossa própria moradia.
E o que minha história tem a ver com a luta por moradia das ocupações de BH e todas as demais?
Eu mãe, mulher negra, favelada e militante que carrega no sangue força e resistência, na luta diária com palavras e atitudes para que eu e toda a minha família tenhamos o direito de ter e permanecer em nossa moradia. E é essa minha forma humana de ser e viver, que me faz dar as mãos a todas e todos que são de luta, presencialmente, virtualmente ou intelectualmente. É essa minha forma de ser e viver que me faz seguir em união para que sejamos livres do racismo, machismo, facismo, e todos esses “ismos” prejudiciais que foram enraizados e cultivados historicamente, todas essas merdas que o sistema quer nos obrigar a aceitar, mas não, não somos obrigados a permanecer inertes, parados, calados, aceitando tudo e todos ajoelhados e de cabeças baixas.
Quem é de luta RESISTE, insiste e vence.
#resisteIzidora

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