A Blogagem Coletiva 21 de março, pelo Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, foi um sucesso. Em agradecimento, recomendamos a leitura dos posts participantes. Ano que vem tem mais.
Obrigada!
O processo de autoafirmação passa por muitos caminhos a depender de cada uma de nós e da forma como nos colocamos no mundo. Para muitas, passa pela aceitação da textura do cabelo, para outras pela possibilidade de fazer poesia, de escrever uma tese de doutorado, de chegar em um posto nunca antes ocupado ou da concretização de um relacionamento. Sejam lá quais forem os caminhos para esse encontro com o que cada uma de nós é, gostaria de problematizar alguns pontos que me parecem essencialmente importantes.
À procura da métrica perfeita, por Márcia Maria da Cruz no Blogueiras Negras
Acostumado a lidar com a morte, Dennis muda de feição completamente ao narrar os casos de jovens que vem à óbito durante os seus plantões. Segundo ele, nada o incomoda mais do que ver a vida de rapazes com idade entre 17 e 25 anos serem ceifadas em decorrência de ferimentos provocados por armas de fogo. Não fosse um detalhe, seriam apenas mais alguns casos da violência urbana que acomete o Brasil. De acordo com o meu irmão, a proporção de mortes entre negros é brancos é de 5 X1.
Para cada negro morto, uma prece. Por Luana Tolentino no Blogueiras Negras
Na segunda-feira, em Brasília, uma menina de 12 anos estava indo pra escola e pegou o ônibus errado. Ao descer do coletivo para corrigir o trajeto, foi abordada por quatro garotas, duas delas encapuzadas, que disseram não aceitar negras em “seu” beco. A menina negra, que não reagiu, foi agredida com socos e pontapés. Traumatizada, registrou queixa numa delegacia. Será que a galera do Não Somos Racistas vê o caso como racismo?
Racismo do dia a dia reunido numa semana tensa, por Escreva Lola Escreva
Um dos grandes argumentos usados pelos que defendem a perspectiva do abrandamento, ou mesmo da ausência, do racismo como componente relevante na constituição histórica brasileira é o de que pelos lados de cá jamais houve legislação como as da África do Sul e dos Estados Unidos, cujo arcabouço legal gerou uma situação de certo racismo institucionalizado.
Racismo e legislação no Brasil, por Ou a Barbárie
Eu entendo quem diz “mas eu tenho um amigo/avó/bisavô negro” ao ser criticado por ter cometido algum ato racista. Claro que em alguns casos, deve ser mentira. Mas deve haver uma porção de casos em que essa perplexidade é verdadeira. Isso porque embora reconheçamos que existe racismo no Brasil, a gente acaba acreditando que racismo é não gostar das pessoas por causa da cor da pele delas. E se eu gosto de uma pessoa com cor de pele diferente, isso mostra que meu problema não é com a pele, certo? Usei “cor da pele”, sem especificar, porque da mesma forma, tem gente que fala em “racismo ao contrário”. Quer dizer, existem pessoas brancas que sentem que pessoas negras não gostam delas por causa da cor. Se essa é a definição de racismo, então isso seria racismo, não?
Racismo e a louça da vovó, por Babi Lopes
Olhe a foto na carteira de trabalho recém-garantida das empregadas domésticas e verá fotos de mulheres negras em sua maioria. Olhe as Universidades brasileiras e verá repleta de pessoas brancas. Olhe as prisões ou os registros de mortes violentas e encontrará os negros. Olhe os cargos públicos de ponta. Onde estão os negros? Olhe os protagonistas das novelas, filmes, livros. Onde estão os negros? E se, por acaso, você encontra uma Miss Universo negra, ainda escutará: apesar de negra, é linda ou só ganhou porque faz parte das cotas (como se uma pessoa negra não pudesse ser considerada bonita fora desse registro).
A luta necessária, por Luciana Nepomuceno
E sob esse aspecto que a prática do blackface, ou seja, o ato de pintar uma pessoa branca de negra é compreendido. A caracterização do branco como negro é usada há muito tempo como forma de ridicularização. E continua sendo, não se esqueçam de Adelaide, do Zorra Total. E por isso é perigosa demais essa “glamurização” do blackface, que ignora um passado de opressão.
Racismo e glamour, por Gizelli Souza
Esta data foi instituida em memória aos militantes negros que morreram lutando pela igualdade, não como uma data comemorativa, mas sim como um dia para se relembrar quão importante é a luta pelos direitos e o respeito ao ser humano, independente de sua fisionomia.
Sabemos, no entanto, que a historiografia tradicional — a história dos vencedores nos termos de Walter Benjamim — a que se encontra registrada nos livros, que é ensinada nas escolas, nem sempre é a história daqueles que experimentaram os piores sofrimentos, a degradação, a exclusão ou daqueles que resistiram à opressão.
Sorry, Morgan Freeman! Mas falarei de racismo, por Geni joga pedra
Acredito que você saiba porque existem datas como essas. Porque é preciso não esquecer. É preciso relembrar, pelo menos um dia no ano, o massacre de Shaperville. É preciso sempre relembrar e mostrar novamente que o racismo é um dos nossos maiores males, que está estruturado em cada milímetro de nossa sociedade, em cada parte da nossa pirâmide social.
O racismo invisível, por Srta Bia no Blogueiras Feministas
As peles podem ter muitas cores, a minha por exemplo, não é preta, apesar de me declarar negra. Minha pele é marrom, nem rosa, nem laranja nem preta. Mas quando uma criança usa um lápis preto ou marrom, ela é olhada com estranhamento, por colegas e professores. Pintar um rosto de preto no desenho não é preconceito, é ser original. Não é preciso ter medo ou receio, assim como não se pode haver repreensão por parte do adulto. Deixa-se pintar, somente.
Lápis de pele. Pele de que cor? Por Maria L.P
Meu texto pretensioso quer dizer quem fomos e somos: Marleys, Luislindas, Malcons, Ivones, Joaquims, Gabrielas, Leandros, Simonals, Angelas e Ellens Olérias que invadem os lares, os ouvidos, os livros e as ruas. Que hoje visibilizados pela internet ou pelos nossos discursos precisam ser os espelhos, os exemplos de luta e vitória (sim, ainda falta muito, mas já conseguimos algumas coisas). Apesar de cada aperto no coração ao ouvir declarações desnecessárias ou por não ouvir nenhum pedido de desculpa, me inflamo com o espírito dos ancestrais e escrevo.
Mais um dia para lembrar e cantar, por Larissa Santiago
tá na página
tá na estrofe
tá no verso
tá na imagem
é textura
é Brasil
O racismo não pára, por Pedalante
Essa visão na época intitulada de teórica, é por mim, uma justificativa para prolongar os maus tratos e a rejeição dos brancos em relação aos negros. Da pra imaginar o peso dessa visão na época e seus rastros que chegam até os dias de hoje? As pessoas não só discriminavam como se sentiam no direito para tal. O Negro teve e tem que lutar muito pra conquistar as coisas no nosso país por um absurdo desses até hoje!
Uma contribuição por As coisas (não) ditas
Desde pequeno eu ouço piadinhas sobre meu cabelo, meu nariz, meus lábios e, claro, sobre minha cor, mas não é um recalque vingativo retroativo que estou destilando aqui, até porque não se compara a visão dele sobre esponja de aço como escultura e, por exemplo, Danilo Gentilli justificando seu preconceito – ao comparar negros a símios – pelo argumento de que se tribos negras eram rivais na África, logo ele não tem culpa pela escravidão. Tá, mas se não houvesse escravidão, provavelmente ele não teria muito o que ofender sob a máscara do humor livre.
Dia internacional contra a discriminação, por Raiz do Samba
É clara a falta de representação dos negr@s na mídia, podemos contar nos dedos a quantidade de moças negras que aparecem em revistas de moda e afins, isso quando elas aparecem, né? E em revistas adolescentes? Não há negras, artigos relacionados a elas são sempre de como tratar o cabelo ‘’ruim’’ (Oi? O que o cabelo fez para ser chamado de ruim? Coitado.) e ‘’revoltado’’. E na tv? A representação é pouca, em novelas são sempre personagens em condições subalternas, ou os satirizando (Zorra Total, suas piadas racistas não são engraçadas. Alguém avisa isso pra eles? Por favor.)
Negr@s na mídia (ou não) e padrões de beleza. Por Memórias de uma ingrata com o patriarcado
Tá, LuFreitas, mas tu é branca, o que é que está fazendo nessa blogagem? Sabe o que é? Preconceito todo mundo tem. É a pessoa que tem um carro que acha que é melhor que pedestre (todo mundo é pedestre…), é o vendedor que discrimina por conta da roupa… No caso da cor (ou raça) a coisa é muito, muito pior. Imagine que você não pode comprar a cor certa. Que o “padrão” não te aceita como você é. Daí o tanto de alisamento (mal feito, inclusive) de cabelo; as tentativas vãs de se encaixar em padrões que não são seus.
Chega de discrminação. Por Lu Freitas no Lady Bug Brasil
MUITO MAIS
Os textos a seguir também contribuem para a discussão.
Ora, ninguém é ingênuo aqui, vamos conversar de maneira séria. A escultura de Marcos, desastradamente referendada por Ronaldo, ratifica a coisificação de um atributo humano das mulheres negras, o cabelo crespo. Não é inofensivo recurso estético, apelo estilístico e ainda menos licença poética. Não fossem os malditos afetos correlatos ao racismo brasileiro, essa coisificação seria tão hedionda quanto o gesto de saudação a Hitler.
Tendo sido exposta desde pequena às crueldades do racismo, Conceição tornou-se uma escritora negra de projeção internacional, além de uma militante que atua dentro e fora dos marcos da academia: é mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e conclui atualmente seu doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. Publicou seu primeiro poema em 1990, no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos poemas e contos nos Cadernos, além de uma coletânea de poemas e dois romances.
Conceição Evaristo: literatura e consciência negra, por Barbara Araújo no Blogueiras Feministas