Existe uma história por trás….
O famoso turbante é utilizado há séculos em vários países da África, como uma forma de indumentária comum, protegendo do sol, e também, segundo quem o usa, uma forma de proteger os pensamentos. O turbante, conhecido também pelo nome de torço ou Ojá, foi chegado ao Brasil pelas escravizadas nas principais capitais da colônia, que no tempo da escravização foi utilizado com outras finalidades, por exemplo, as escravizada escondiam seus cabelos, usados essencialmente pelas mucamas que não possuíam recursos para cuidar dos cabelos.
Há medida do tempo, o turbante passou a ser associado às religiões de origem Africana. A popularização se deu especialmente no estado da Bahia, principalmente pelas baianas vendedoras de acarajé, pais de santo e os famosos blocos da Bahia. Hoje eles estão em alta, e sendo muito usado no dia a dia, afirmando a identidade e ancestralidade do povo negro.
Contudo, surgiu varias opiniões equivocadas sobre o turbante, muitos pensam que é um lenço de pano e item da moda, que a mídia e o capitalismo sempre pregam, mas não é isso! O turbante vai, além, é simplesmente uma obra de arte, tem sua versatilidade, pois com apenas um tecido de cor lisa ou estampada, forma-se vários tipos de amarrações. Esse acessório é símbolo de luta, empoderamento, identidade e sobretudo, resistência do povo negro.
O turbante carrega vários significados, um dele é a ancestralidade, pois antigamente era utilizado por necessidade e atualmente muito o usam fazendo um resgate histórico, gerando uma representatividade da identidade negra, resultando numa forma de ato político pela a estética.
Usar turbante nessa sociedade com padrão eurocêntrico, e logo racista, é uma forma de lutar e resistir todos os dias, principalmente porque o turbante sempre foi associado à coisas negativas, como por exemplo: uma mulher negra que usa turbante em qualquer espaço, desperta olhares preconceituosos, de que ela é macumbeira, pratica rituais ligado ao “demônio” ou coisa do tipo (sendo que o significado da palavra macumba é totalmente diferente).
Essas concepções equivocadas acerca do turbante só refletem o preconceito racial e a falta de conhecimento sobre religiões de matrizes africanas presentes na sociedade, o que faz gerar atitudes discriminatórias e de intolerância religiosa. Já no caso da mulher branca usando esse acessório, de ferramenta de empoderamento negro, é logo elogiada e tida como mulher estilosa e ‘descolada’.
Desse modo, percebemos que existe uma seletividade nas percepções acerca do turbante, e é por isso que o movimento negro problematiza a falta de contextualidade e profundidade relacionada a esse tema.
O problema não é a separação: de apenas negra/o poder usar turbante e brancos não. Mas o que está em questão é a motivação para o uso do turbante. O ideal é que haja consideração e respeito, sempre usando-o com consciência sobre o real motivo e seus significados de utilizar o mesmo – para nós é de luta, realçando e valorizando a cultura negra, já para os brancos, é de apenas estética.
Esse processo gera a tal de “apropriação cultural” que se dá através do desconhecimento e ignorância que aquele símbolo representa para certa cultura, a partir do momento que conhecemos o elemento e seu significado, podemos usá-lo de forma mais respeitosa e consciente.
Contundo, tendo em vista a ilegitimidade e a invizibilização que o povo negro sempre teve, o turbante é uma ferramenta para a visibilidade das histórias, crenças, religiões, e principalmente da valorização da identidade da nossa beleza e cultura, tão arduamente negada e discriminada.Onde surgiu o turbante não se sabe exatamente, mas podemos constatar que seu uso faz parte da história, cultura e rotina de vários povos do Oriente Médio, Egito e, sobretudo da África. Antigamente o uso desse acessório nos países orientais era predominantemente por homens, com objetivo de representar e/ou indicar sua posição social, tribo, casta e também a religião.
Imagem – Mulher negra com turbante. República da Gâmbia.