Pensando em quanto essa irmandade de mulheres negras foi importante para reconhecer a opressão que eu sofria e aprender a lutar contra ela sem baixar a cabeça ou tentar agradar para não sofrer como sempre fui ensinada, que comecei a pensar também nos espaços da minha vida onde essa irmandade jamais foi possível.
Mexendo nessas memórias e nessas lembranças, é inevitável pensar nos 11 anos que passei convivendo com a bulimia e a dismorfia corporal.
Lembro sem grande saudades da minha rotina aos 14 anos de idade – escola de manhã, acadêmia a tarde, almoço, vômito, laxantes, anfetaminas para emagrecimento, conversar com os amigos no MSN como se tudo estivesse muito bem, lições de casa, acadêmia a noite, jantar, vômito, laxantes, mais remédio. E assim se passaram anos de dor, de falta de auto-estima, de insegurança e principalmente de silêncios: não era normal, isso eu sabia. E não haveria para quem contar e muito menos com quem contar.
Tudo que pesquisava sobre o assunto não era sobre mim, mas sim sobre um esteriótipo da vítima ideal: a garota branca de vida abastada, que fez balé desde a mais tensa infância, que sonha em ser modelo, que foi estimulada pela família a manter o padrão de beleza ali predominante. Raras eram as exceções.
Pouco se escreve, se compartilha e se lê sobre a vivência de mulheres negras e periféricas com esse tipo de doença, o que colabora para a visão estereotipada de ser um mal com classe e realidades determinadas. Esse fator acaba por afastar nosso contato com garotas com vivências semelhantes que poderiam se ajudar. Afastou o meu com toda certeza. Me fez sentir mais culpada, sem lugar em tratamentos, abordagens e textos sobre o assunto. Me fez questionar os meus porquês já que eu não compartilhava da realidade das meninas que via na TV. Me fez questionar: “Será que há outras pessoas como eu e que tem o mesmo problema? Não seria lindo se pudêssemos nos ajudar?”.
De toda essa mescla de sentimentos, surgiu a ideia da pesquisa que agora apresento para todas vocês: com a função de escutar a sua história, o modo como você sente, convive e sobrevive aos transtornos alimentares em sua realidade de mulher negra que lida com a sexualização e objetificação, o racismo e o machismo de um modo intenso e diário, esse formulário quer reunir relatos para que se pense as particularidades da mulher negra e se encontrem ferramentas de acolhimento para assim tornar a dor que todo o problema causa um pouco mais suportável para pessoas que, como a Suzane de 14 anos, não encontram ou jamais encontraram uma abordagem que realmente dialogue com suas necessidades.
O objetivo maior é juntar semelhantes vivências, de mulheres que viveram ou vivem essa realidade, e produzir um artigo geral que poderá fornecer apoio para que outras mulheres negras consigam perceber que não estão sozinhas, que a lógica que as adoece é a mesma que persegue muitas outras garotas negras que permanecem anônimas pelo preconceito, a desinformação e o medo de falar sobre o assunto.
Hoje, com 24 anos, ainda tenho receios de dizer que superei, que não sou mais uma vítima dessa realidade, pois um fantasma sempre está lá aguardando uma recaída, um sentimento que aperte o peito e me ponha novamente no chão. Sei que essa é a realidade de muitas e que esse canal pode ser um meio de nos fortalecer, de conhecer vozes (muitas vezes inéditas) que dialogam com as nossas e que nos mostrem que existimos e não estamos sós.
Compartilhe sua dor e sua luta.
Vamos nos unir e ajudar nossas irmãs a entenderem e superar mais esse mal que nos adoece e enfraquece dia-a-dia.[/vc_column_text][vc_button title=”CLIQUE PARA RESPONDER A PESQUISA” target=”_blank” color=”btn-danger” icon=”none” size=”btn-large” href=”http://goo.gl/forms/N1dTnHhRFr”][/vc_column][/vc_row]