Antes de começar a falar sobre o vagão rosa, gostaria de trazer alguns dados para vocês: nós mulheres representamos 55% da população que usa o transporte público. O projeto PL 341/205 é de autoria do Deputado Geraldo Vinholi (PSDB), ele determina que as empresas de transporte público ferroviário crie vagões exclusivos para passageiras do sexo feminino, para os horários de picos.
Bom então vamos lá, quem melhor do que nós mulheres negras para falarmos sobre segregação, descendentes daqueles que foram escravizados, daqueles que passaram pela senzala, pela casa-grande, pelo apartheid, pelos bebedouros separados, que muita das vezes ainda sofremos o apartheid social, até quero lembrar que nesse contexto não só as negras ganham um vagão exclusivo, mas todas as outras mulheres, mas como mulher preta, ouso justificar porque acho tão semelhante a separação das mulheres com o apartheid e não é loucura, nem desvaneio. A segregação racial foi uma das formas punitivas da sociedade racista de ensinar aos negros que eles não eram dignos dos mesmo lugares que xs brancxs, um vagão rosa, um vagão que coloca as mulheres num espaço reservado para elas, não é culpar as mulheres de terem nascido ou se identificarem com o sexo feminino? E de serem culpadas da violência que sofrem ?
Não quero ser desonesta com você companheira negra periférica que pega transporte público, que é tratada como mercadoria todos os dias, mas quero que você entenda que na lógica do transporte, tanto faz seu conforto companheira, tanto faz se você vai ser assediada ou não, o que importa é o lucro, a catraca sendo girada, nessa lógica toda é mais fácil para o patrão, pintar um vagão de rosa e colocar nós mulheres dentro (isso seguindo a lógica de que nós todas usuárias vamos caber dentro dele no horário de pico) do que contratar mais funcionários, do que investir em propagandas anti machismo, anti assédio, treinar suas/seus funcionárix. Jjá parou para pensar que se o metrô ou ônibus não estivesse lotado nós sofreríamos menos abusos? Não é um vagão rosa que vai nos salvar de sermos abusadas, quero que você entenda companheira, que além dessa luta ser contra o vagão, contra o machismo, essa luta também é por transporte de qualidade e para todxs.
E aos grupos que sejam a favor desse vagão como medida emergencial para nós mulheres, sabemos que onde existe esse vagão não há bons resultados, que os homens não respeitam o vagão, que os casos de assédios ainda continuam, a fiscalização dos metrôs do Rio de Janeiro, onde existe o vagão, é falha. Ainda tentando dialogo com esses grupos, que além de serem a favor do vagão trazem algumas ressalvas, como alguns investimentos nos transportes e no próprio vagão, quero dizer que podemos lutar por um transporte melhor, um transporte para os de baixo, sem segregar as mulheres.
Além de toda a minha preocupação com as mulheres que não vão querer usar o vagão, e que sim, podem ter qualquer tipo de violência que sofrer legitimada por não estar usando o vagão, me preocupo com xs companheirxs trans*, que além de passar pela violência que nós cisgêneras podemos sofrer com essa separação, ainda podem ser expulsxs de ambos os vagões, porque sabemos o quanto é difícil para uma pessoa trans ter sua indenidade de gênero respeitada. Eu escolhi seguir a linha de diálogo, chamando a atenção das companheiras negras, mas esse texto serve para você mulher que não acredita nessa medida.
Rosa Parks nos ensinou uma vez que não devemos levantar para dar lugar para o opressor, e convido todas vocês a serem iguais a Parks e não usarem o vagão do opressor.
POR UMA VIDA SEM CATRACAS E SEM SEGREGAÇÕES.
Imagem destacada – Hoje São Paulo.