Quem nunca ouviu da mãe ou da avó a desculpa de quando um homem trai, ele deve ser perdoado afinal ele apenas traiu porque é homem. Lembro-me que cresci ouvindo os relatos de mulheres da família, sobre seus maridos que viviam pulando a cerca. O mais curioso de todas essas histórias e de que o errado da situação nunca era o marido adúltero, mais sim a amante. O que mais importava para as mulheres da minha família era continuar sendo casada, mesmo que fosse um casamento de fachada. Ter um homem para pagar as despesas da casa, para proteger a família um homem para impor respeito perante a sociedade. Essa era a finalidade para que elas pudessem suportar maridos ausentes, infiéis e machistas.
Inconscientemente esse tipo de pensamento foi passado de geração em geração.
Talvez o medo fosse o principal fator que as impedisse de mudar. Afinal de contas o que as esperava fora daquele meio onde quem é o centro de tudo é o homem.
O que teria além? Seria feliz sendo uma mulher divorciada?
Minha avó teve uma historia bem parecida com a de inúmeras mulheres que se casaram cedo. Precisamente com 14 anos. Mineira e de família humilde o casamento com um homem trabalhador, honesto viria bem a calhar. Detalhes como ser mulherengo não entravam em discussão na hora do casório. Afinal ele era homem.
Pobre e analfabeta, ela veio junto de meu avô para São Paulo. Estado de grandes oportunidades, emprego, riqueza e de estudo. Estudo? tá aí uma palavra que ela nunca tinha ouvido falar antes. Pois nunca teve a oportunidade de ter um livro. O único instrumento que conhecia era aqueles usados na roça e na cozinha.
Foi então que decidiu que queria estudar, mais meu avô que já era alfabetizado interviu e veio logo falar:
– Mulher minha não estuda!
Triste resolve obedecer ao marido. Já que sua mãe havia lhe ensinado que uma Boa esposa deve ser obediente para que seu casamento seja duradouro e feliz.
Anos se passam mais a história parece se repetir.
Terei como personagem dessa trama eu. Uma moça afrodescendente que está no auge dos seus 20 anos. Que diferentemente da avó não se casou aos 14, teve acesso a livros e aos estudos. E mesmo com tantas diferenças acabei me envolvendo com um rapaz, que era a versão atualizada do meu avô.
Tudo começou quando conheci o Lucas através de um aplicativo de relacionamentos. A ideia de conhecer alguém através da internet me caiu muito bem já que eu não tenho o perfil de garota baladeira que sempre está disposta a sair e conhecer gente nova. Eu sempre fui preguiçosa pra esse tipo de coisa.
Gosto de ficar em casa de cabelo preso e com aquela roupa leve que uso já faz um tempo, mais que não troco por nenhuma outra por conta do bem estar que ela me causa.
Foi em um desses dias que em estava casa, que uma notificação de MACH apareceu no meu celular. Em seguida uma mensagem de boa noite deu início a uma conversa que durou por dias. Até que um convite para se conhecer surgiu e dali pra frente as coisas fluíram para que pudéssemos começar um relacionamento.
Começo de relacionamento é maravilhoso a pessoa que está ao seu lado preenche todos os pré-requisitos daquilo que você procurava em alguém. Com o Lucas não foi diferente. Nós tínhamos uma conexão muito grande.
Mas conforme o tempo passava coisas novas sobre o Lucas iam surgindo. Como no dia em que ele me disse que namorada dele não poderia usar saia curta na rua, pois esse tipo de roupa não e para moças comprometidas. A princípio acabei rindo da situação afinal de contas pensei que fosse uma brincadeira. Já que ele um rapaz tão inteligente que tinha ideais tão inspiradores havia dito uma bobagem daquelas.
Até que notei que ele se manteve sério e reafirmou o que havia dito.
Não me importei com o comentário dele afinal estava apaixonada e tinha dentro de mim certo medo. Medo de me deparar sozinha novamente, de não fazer parte de um relacionamento, de nunca mais poder ter a chance de encontrar outra pessoa que pudesse me fazer sentir tão bem como ele fazia. E foi então que me deixei levar por esse sentimento e acabei deixando que o Lucas acabasse guiando todos os meus passos. e com o tempo eu já nãome sentia feliz ao lado dele, mas o medo me mantinha presa.
Quando temos que mudar quem somos para se encaixar na vida de alguém é um alerta de que as coisas não estão indo tão, e que talvez essa pessoa não seja ideal pra você. Demorei um pouco pra descobrir isso, precisamente um ano e seis meses. Data na qual eu descobri que o Lucas estava me traindo com uma colega de trabalho. É difícil lidar com a decepção, mesmo não se sentindo mais feliz ao lado dele, eu me sentia bem em fazer parte de uma relação e descobrir que a pessoa que está ao seu lado é infiel machuca o coração e abala a auto estima.
Foi então que me lembrei das mulheres que compunham minha família, que estavam presas a seus maridos através de uma aliança esculpida pelo medo do abandono. Olhei me no espelho e notei que ele já não refletia minha verdadeira imagem. Respirei fundo e decidi que era hora de mudar, de me reconectar comigo mesma de forma que eu pudesse me sentir completa sem precisar de uma outra pessoa ao meu lado.
Terminar meu relacionamento com o Lucas me fez perceber que o medo aos poucos vai nos consumindo e que com passar do tempo ele torna-se parte do nosso dia-a-dia. Foi difícil ter que lidar com a solidão afinal ficamos juntos por um longo período, mas sentir a sensação de liberdade e se reconhecer ao olhar no espelho não tem preço.
Se você está passando por essa fase de sentir medo de ficar sozinha, não se sinta insegura, mude. Não deixe que ninguém a impeça de ser quem você realmente é. A vida é passageira e só se vive uma vez, então trate de fazer com quem cada segundo valha a pena para que você consiga conquistar tudo o que desejar. E se o medo bater na sua porta lembre-se que momentos ruins são passageiros, mas cabe a você se permitir-se mudar para que momentos bons possam acontecer.
Imagem destacada: Darling Magazine