A solidão que me cabe

Sou preta e só me cabe a solidão.
Não vou namorar, não vou dormir de conchinha, não vou ganhar massagem.
Não vou beijar no cinema, não vou ter a nossa musica, ninguém vai carregar minha bagagem.

Não vou andar de mãos dadas, nem ter em quem me agarrar num filme de terror.
Não vou ver aquele brilho nos olhos de quem ama e ninguém vai pegar pra mim um remédio pra minha dor.
Por ser preta eu não mereço o amor.

Vou trabalhar durante o dia e voltar para uma casa vazia.
Vou deitar na cama e ocupar todos os espaços.
Não vou poder contar pra ninguém o motivo do meu cansaço.
A solidão já é minha amiga, andamos juntas amarradas por um laço.

E de tanto doer já não dói mais, o que fica agora anestesia.
Mas é mentira, eu me engano, me iludo, eu fujo, ignorando esse buraco.
Pensando que um dia essa dor alivia.
Mas não alivia, não passa, não cura, só o amor cura, mas quem ama a preta?

Ninguém. Quem sabe um dia…

É uma vida sem amor, é uma vida sem paixão.
Não me cabe o amor, me cabe apenas a solidão.

Imagem de destaque – Hdwpics

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