A subjetificação do desejo

Este é um texto escrito às pressas como o despir-se agoniado e sedento de dois corpos que se desejam. Mas que corpos são esses? São corpos negros, são corpos de mulheres, são corpos de mulheres negras que se amam. Por pouco ou muito, ou há muito tempo. São lésbicas, são bissexuais. São corpos negros lésbicos bissexuais encontrando-se e tateando-se no momento primeiro de suas existências, que se repetem ao encontro de cada beijo, de cada toque, de cada arder de corações, de cada escorrer de amor entre os dedos que desesperados adentram e deixam e adentram novamente aquelas existências. Em cada corpo um universo, onde elas se encontram, se desencontram, encontram outras, dão-se as mãos, lambem os dedos saciadas. Em cada desejo refletido num piscar de olhos, exprimido num gemido, desenhado pelo desalinho que os corpos deixam nos lençóis da cama, uma nova mulheridade. Em cada orgasmo a lembrança de que são corpos habitando mentes, que habitam mundos, onde as suas existências são Fata Morganas, que escondem fontes escuras e frescas, materializam-se somentes nas bocas daquelas que mesmo tendo areias em suas mãos, sabem que, uma vez sendo estas engolidas se transformam em líquido aquoso, escorregadio e frutífero, regando o oásis a espera da próxima.

Uma lésbica é uma mulher à espera dela mesma.
Uma lésbica é uma visão terrível de si mesma sem o binômio patriarcal.
Uma lésbica tem as minhas mãos.
Tem nem sempre os meus seios.
Tem nem sempre uma vulva.
Mas me tem.
E eu me quero muito.
De todos os tons, formas e maneiras.

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