Somos negras! Não nos embranquecerão mais

No final de semana sofri um acidente e agora tenho que ficar praticamente o dia inteiro numa cama. Então comecei a apreciar a beleza das mulheres negras da minha lista de amigos, até mesmo por serem todas tão estilosas, criativas e inspiradoras pra mim. Acabei sentindo vontade de colocar todas num único álbum, passar o dia publicando as fotos conforme as interessadas fossem dando ok na proposta e assim embelezando o feed de notícias com todas aquelas rainhas que pouco são representadas pela mídia, que pouco conseguem se ver em revistas, novelas, passarelas. Que apesar da grande beleza que possuem, pouco são reconhecidas como tal e pouco servem de referência de beleza para as crianças e jovens desse país que exalta o padrão eurocêntrico .

Eu fiquei passeando pelos álbuns de cada uma para escolher as fotos. Nesse passeio eu fui percebendo o quanto quase todas elas já sofreram com o embranquecimento, assim como eu também sofri.

As fotos mais antigas mostravam mulheres com cabelos escovados.

Em seguida começavam a aparecer fotos que revelavam a revolta contra o embranquecimento imposto. Uma revolta que com certeza aconteceu de dentro pra fora e que foi contagiando outras e outras e outras rainhas. As fotos revelam épocas e enquanto a foto de um ano específico mostrava cabelos escovados e enormes, a foto de um outro ano mostrava cabelos bem curtos com a legenda “me libertei”. Em outros casos os cabelos escovados, alisados e pranchados foram trocados pelas lindas tranças ou por dreads.

As rainhas começaram a fazer questão de mostrar que estavam amando o cabelo que estava ali renascendo e que já fazia tempo elas nem sabiam mais como eles eram sem as químicas. Fotos antigas mostravam uma beleza oprimida e fotos mais recentes mostravam uma beleza livre. Black powers, pink powers, tranças, turbantes, negras loiras, negras livres, negras donas de si e ditando as próprias regras e sendo lindas.

De uma foto pra outra o brilho nos olhos era diferente. De uma foto pra outra era possível perceber que as rainhas estavam tomando ciência do poder que elas têm.

Mulheres negras empoderadas, orgulhosas de sua cultura e de suas origens. Mulheres negras que aprenderam a dizer “NÃO” para a escravidão que quer impor um padrão de beleza que não é nosso e que quer oprimir a nossa beleza, a beleza que nasce com a gente, uma escravidão que tem o objetivo de nos embranquecer.

Eu percebi que aquelas fotos estavam também mandando um recado para a sociedade racista que não aceita a textura dos nossos cabelos, nem o tom da nossa pele, nem nossos traços físicos, nem nossa cultura .

Nas fotos, percebi que aqueles turbantes, cachos , tranças e blacks estavam “gritando” : não somos pardas, nem mulatas, nem morenas . Somos negras e com muito orgulho de nossa beleza e cultura . Não permitiremos mais sermos embranquecidas.

Enfim, somos todas Lupita.

 

Imagem destacada: Domenica Antonio, pelo fotógrafo Mumu Silva, na page Que nega é essa?

10 comments
  1. Linda mensagem, serve para refletirmos sobre a vida e o nosso passado, erguemos a cabeça seguimos em frente sem esquecer o nosso passado e nossa familia e sem mudar aquilo que alguem lutou para estamos aqui

  2. Ano passado fiz progressiva antes do início das minhas aulas na faculdade para me sentir mais segura . No fim, meu cabelo ficou ensebado, fedido e cheio de caspa, me deixando mais insegura ainda. Fiquei muito triste com o resultado e sem saber o que era pior, exibir o cabelo natural ou aquilo que ele havia se tornado. Não vejo a hora de passar por essa libertação também e conseguir me amar, integralmente, do jeito que sou!

  3. Um texto admirador sobre a essência de ser mulher negra, porém não podemos ver apenas sua representatividade visual. Precisamos lutar por nosso povo, nossas raízes. É a verdade é que quanto mais a gente se conhece, conhece nossa história, mais e mais coisas perdem o sentido para nós.
    Parabéns Laura pelo texto. Bjos 😉

  4. É impressionante como passou um pequeno filme da minha vida nesse texto. Em abril de 2014, eu tinha os cabelos alisados, não queria ser chamada de negra, me declarava ou morena, ou mulata ou parda. Já abril de 2015, estou passando pela transição capilar, sou NEGRA COM MUITA HONRA E ORGULHO , pois represento na pele a cultura, o sofrimento, as alegrias de um povo heroico, virei feminista, pois não basta ser negra tem que ser negra feminista, enfim tem muito orgulho da minha cor, e do meu povo.

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