Série Contos Blogueiras Negras
Vai, mulher
Ser na vida!
Que sei eu?
Idade pouca
Pouco é o meu vocabulário epistemológico
Tenho tantos poucos
de apertar os olhos ao dar conta
Falando em contas:
o cartão
o sapateiro
a máquina de lavar-roupas
As desculpas mil
Os olhares que emprestei
– e perdi nas tantas ruas.
Que sei eu?
Que tenho pra essa gente toda, ô?
Além das minhas contas atrasadas
Das dívidas de amor mal-pagas?
Tens a tua pele, mulher
Que carregas há uma vida!
Tens a tua voz que
Embora
Muito embora
Não seja repleta de termos historiográficos
Está repleta das tuas histórias
Carregadas pelas tuas marcas
Tens você que
Embora
Muito em boa hora
Cheia das lágrimas dos sentires
Cansada dos problemas alheios
Pesando o peso
da tua cor
do teu gênero
dos teus traços
da tua classe
Ainda assim
Vai, mulher!
Que a tua alegria é faminta.