Como o tempo tem passado depressa…, mas com ele ficamos com as lembranças de pessoas queridas e da marca que elas deixaram em nossas vidas. São dessas lembranças que sustentamos a saudade e podemos contar boas histórias, reviver momentos. Você certamente deve se lembrar das músicas que ouvia nas reuniões de família quando criança, ou dos momentos em que sua mãe ligava o toca disco e tocava um LP específico que a fazia esquecer dos problemas, talvez também você deva se lembrar da voz rouca e forte de uma mulher negra, que na década de 80, seguiu carreira artística. Eu me recordo, mas conhecia muito pouco da história dessa mulher, confesso que quando me envolvi nesse texto e sentei para ouvir suas músicas, ver vídeos de suas apresentações, senti o peso da responsabilidade que seria escrever sobre ela e estou torcendo para estar honrando a missão que me foi dada! Vamos voltar no tempo um pouquinho?
Jovelina Faria Belfot, conhecida como Jovelina Perola Negra, nasceu no dia 21/07/1944. Carioca do bairro de Botafogo, Jovelina cresceu em Miguel Couto, distrito de Belford Roxo, divisa com Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Teve três filhos, José Renato, Cassiana e Cleyton.
Era forte assim como sua voz. Antes de ganhar espaço na música, trabalhou como empregada doméstica, lavadeira e vendedora de linguiça. Era fã de Bezerra da Silva e inspirada no sambista começou a fazer apresentações no Vegas Sport Clube, acompanhada pelo amigo Dejalmir. Inclusive seu nome artístico foi ele quem escolheu relacionando a cor da pele de Jovelina. Desfilou por anos na ala das Baianas pela escola Império Serrano.
Na dinastia das grandes vozes femininas, Jovelina passou a ser considerada herdeira natural de Clementina Maria de Jesus
Começou a cantar na quadra da escola pela qual desfilava ao lado de artistas como Roberto Ribeiro e Jorginho do Império, para aumentar o caixa que financiava os desfiles.
O Brasil só teve o prazer de conhecer a artista, quando ela estreou em 1985 com sua participação na coletânea Raça Brasileira. Tempos depois a cantora gravou seu primeiro disco solo com músicas de sua autoria e de compositores como Arlindo Cruz, Nei Lopes, Serginho Meriti, entre outros.
Apesar de ter começado a carreira aos 41 anos, Jovelina tem uma excelente discografia e um rico repertório. Em seu primeiro disco solo, “Perola Negra”, se destacaram “Pagode do Serrado”, “Boogie-woogie da favela” entre outros. Em 1986 foi lançado pela gravadora Som Livre o LP “A Arte do Encontro” com Jovelina e Dona Ivone Lara. Em 1987 gravou o LP “Luz do repente” pela RGE. No ano seguinte gravou o LP “Sorriso aberto”. Daí em diante tivemos: 1989, lançado pela RGE, o disco “Amigos chegados”; 1991, o CD “Sangue bom”; 1993, o CD “Vou na fé” e em 1996 lançou o último disco, “Sambaguerreiro”. Ao todo são sete discos da nossa rainha do samba. Ela foi uma das peças mais importantes na condução do samba de fundo de quintal e do pagode para a linha de frente da MPB.
A dama do samba Jovelina Perola Negra nos deixou no dia 2 de novembro de 1998, aos 54 anos, vítima de um enfarte fulminante enquanto dormia em sua casa. No ano 2000, pela coleção “Bambas do samba”, a Som Livre relançou seis de seus discos de carreira e ainda a coletânea “Pérolas – Jovelina Pérola Negra”.
Em 23 de janeiro de 2012 foi inaugurada, pelo prefeito Eduardo Paes, a Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Praça Ênio, no centro de Pavuna, Rio De Janeiro.
Cassiana, sua filha, seguiu a carreira de cantora, sendo considerada uma das revelações do samba carioca em 2005, na ocasião do lançamento do disco “Raça Brasileira 20 anos – O verdadeiro pagode”, disco do qual ela participou.
Jovelina, uma mulher preta, teve seu caminho trilhado de lutas e vitórias. Infelizmente o reconhecimento popular veio depois de sua morte e Jovelina não pode realizar o sonho de “ganhar muito dinheiro e dar aos filhos tudo o que não teve”.
Cantou e encantou por onde passou. Sua caminhada artística jamais se apagará. Ganhou um disco de platina, conquistou fãs no meio artístico como Maria Bethânia que chegou a ir em uma apresentação da dama do samba no Terreirão do Samba, e Bethânia só saiu de lá depois de ouvir a “dona Jove versar”. Alcione já homenageou Jovelina em um de seus melhores discos “Profissão Cantora”. Por tantas histórias, por uma carreira inigualável e por Jovelina, a voz do repente, do samba, por ser a mulher que foi e revive dentro de nós a cada música que ouvimos ainda hoje, celebramos esse dia e agradecemos imensamente sua passagem nesse lugar chamado Brasil. Que seja feita festa e aquele samba onde quer que estejas, nossa querida Perola Negra.
Imagem – reprodução web