Aos 42

não adianta, seja qual for o santo que se imponha na feitura é com ela que aprendo esse rir vencedor, que ofereço em lugar de qualquer tentativa (VÃ) de me diminuir, apagar ou derrotar é dela que vem essa pureza que me embala a gargalhada por essa doçura sem mágoas, que também é arma letal para inimigos com ela, que amo tanto, Oxum Menina

Hoje é um dia de festa.

Para comemorar seu aniversário, Daniela Luciana Silva escreve para as Blogueiras Negras

Daniela Luciana, por Flavia Azevedo
Daniela Luciana, por Flavia Azevedo

celebro estar em pleno aprendizado nas leituras do mundo

o que não sei ainda é o que vibra infância de saber
e me ensina muito o sorriso das que nascem e crescem fortes
para deixar de alisar e soltam o black libertário
com os mais velhos que contam histórias e mandingam
com os jovens que ainda ficam indignados
e aqueles que se omitem para sobreviver
com a dor dos que deixam vivos ao morrer nas mãos da polícia
com as frustrações de nossa população (ainda) magoada
das tantas mulheres negras às quais resta a boca calada

continuo aprendendo em vida e luta que…
do fundo de cada navio negreiro emergiram as mais fortes
as riquezas humanas que não subjugaram, nem derrotarão nunca

nesta vida que me é conquistada a cada dia (que a nós nada é dado)
aprendo a solidariedade orgânica
de mãos e mentes em sintonia com a força ancestral para resistir
a cuidar de meu ori, a ser mãe amorosa de menina
a ser irmã também de quem minha mãe não pariu, que o santo ou a vida me ofereceram

e sigo sem freio, nem peia, a dançar no vento, no rio, na chuva
seja na euforia ou na falência emocional
continuo a cantar a caminho do trabalho
para que minha fé não se esvaia… com as tentativas de curvar meu sorriso

não adianta, seja qual for o santo que se imponha na feitura
é com ela que aprendo esse rir vencedor, que ofereço em lugar
de qualquer tentativa (VÃ) de me diminuir, apagar ou derrotar
é dela que vem essa pureza que me embala a gargalhada
por essa doçura sem mágoas, que também é arma letal para inimigos
com ela, que amo tanto, Oxum Menina

assim seja enquanto eu envelheça, nossa sina
que eu não perca essa delicadeza que me inspiras, feminina
o prazer de curimar, de conversar com a natureza que fascina
de trabalhar e incomodar a todo tipo de pessoa que se acha poderosa
pois meu esplendor é perdoar… é sorrir como arma de combate
e elevar minha voz em espada apenas na hora de cortar as cabeças

Cabocla Jurema, Oxum, Dona Maria
Ogum, Exu, Iansã me guiam
Oxossi e Xangô no amor e na alegria
Obaluaiyê, Logun e Oxalá me guardam
Iemanjá me abrace, me abrace…
Ossain, que tanto me fala ao coração: silêncio, segredo e tempo

aos 42, para sempre, sem cansar de aprender a ler e ensinar
que nenhum ataque fatricida ou estrangeiro é maior que cada um
descendente dos que sobreviveram à longa oceânica jornada
muito menos eu


Daniela Luciana é baiana de pai e mãe, jornalista, mãe de Maria Antônia, abiyã do Ilè Asé T’Oju Labá,  integrante dos Coletivos Pretas Candangas e Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial – Cojira/DF, militante de feminismo preto e de comunicação, já atuou profissionalmente na Presidência da República, Câmara dos Deputados, Ministério das Cidades, Bloco Afro Ilê Aiyê. Integrou o Movimento Hip-Hop da Bahia / Posse ORI – Fundadora e rapper do primeiro grupo de rap feminino da Bahia, O Grito. Escreve no blog Caleidoscópio Mutante.


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