Síndrome de Cirilo e a solidão da mulher negra

No frigir dos ovos, temos, por um lado, meninos que sofrem desde crianças para se adequar a um padrão irreal e meninas que, igualmente, se mutilam para tentar alcançar o padrão inalcançável e as que são rejeitadas. Tem que ver isso aí, produção!

Mabia Barros para as Blogueiras Negras

O post é na esteira do Dia dos Namorados e é um pensamento em construção. E como todo pensamento em construção, tem um quê de autobiográfico. Contudo, mais que isso, esta é uma observação que tenho feito e que, espero, consiga sanar minhas curiosidades acerca do tema muito em breve, num mestrado. 🙂 Antes de tudo, explico o meu lugar de fala: cis, negra, heterossexual. Primeiro, vamos à Síndrome de Cirilo. Antes me referia a ela como um complexo, mas acredito que síndrome seja a nomenclatura mais adequada. Coloquei o link do post ótimo da Daniela Gomes, mas explico um pouco: Cirilo é o garotinho negro da novela infantil Carrossel, que passa toda a trama sendo humilhado e desdenhado pela menininha rica e loira, pela qual ele se interessa. Cirilo, apesar de humilhado e rejeitado, visivelmente não pertencente àquele grupo, se esforça para estar “à altura de sua amada” e sofre com a rejeição, mas não a compreende como racismo, apenas absorve a imposição de inferioridade e se ressente por não ser igual ao seu rival.

cirilo
Maria Joaquina e Cirilo em cena da novela Carrossel, exibida pelo SBT

Nesta relação Cirilo-Maria Joaquina há toda uma historicidade das relações “amorosas” entre homens negros e mulheres brancas, especialmente depois da abolição da escravatura. Estar com uma mulher branca é mudar de status, é evoluir, é ser aceito na roda dos “bem nascidos”. Larissa Santiago falou sobre isso em Relações inter raciais – isso não é sobre amor. É preciso entender que os nossos gostos, que tanto dizemos que “não se discute”, são construídos socialmente. São influenciados desde cedo pelo que aprendemos e vemos em casa, no cinema, na TV, nos quadrinhos, nas propagandas… E, convenhamos, vivemos num país cujo padrão de beleza hegemônico é eurocêntrico. O que beleza tem a ver com isso?! Numa era em que tudo é imagem, tem tudo a ver. Por mais que a pessoa diga que não escolhe x parceirx romântico baseado em aparência, no fundo, existe sim alguns critérios que x “pretendente” precisa ter. E os aspectos raciais estão intrínsecos nesse jogo. Ter o nariz de batata, a pele negra, o cabelo crespo… Claro que, aquelas consideradas “até que bonitas para uma negra” não sofrem tanto com o problema, por estarem dentro do estereótipo da mulher negra que é sexualizada e transformada em objeto de desejo. Sorte (?) da delas.

Mas é esta preferência (ou principalmente ela) pela mulher branca que leva à solidão da mulher negra. Ser preterida pelos brancos, ok. Mas os negros também preferem as branquinhas. São mais bonitas, né? Dá para fazer cafuné, brincar com os cabelos, os filhos não vão “sofrer” com o cabelo “duro”, ele vai poder “clarear a família”. Há até quem ache que o mestiço tem vantagens no Brasil. Como se diz na Bahia: Aonde?! Outra coisa que ouço bastante, infelizmente até de mim mesma, é que há poucos negros com que se relacionar nas classes média/média-alta. Eu acredito piamente que moro no bairro errado. rs Mas não deixo que isso impeça que eu conheça pessoas de outros lugares. Onde eu moro e no meio onde trabalho são mesmo raros os negros. Estamos começando agora. Mas, os poucos que vejo, usualmente namoram com uma menina branca. Não se reconhecem como negros ou acham que “esse negócio de raça é bobagem, somos todos humanos”. Também tem os que me chamam de paranoica, mas estes eu converso com calma, até me entenderem… 😉

No frigir dos ovos, temos, por um lado, meninos que sofrem desde crianças para se adequar a um padrão irreal e meninas que, igualmente, se mutilam para tentar alcançar o padrão inalcançável e as que são rejeitadas. Tem que ver isso aí, produção!


Mabia Barros escreve sobre moda no Maxibolsa e está no twitter.


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187 comments
  1. Me peguei pensando sobre isso hoje, que vejo minha irmã e amigas negras solteiras e reparando em artistas negros com suas namoradas loiras, e me fez pensar.
    Bom, sou negra, mãe de dois filhos atualmente dona de casa por opção e casada também com um homem negro personal trainer, e me questionei e se meu marido me trocasse por uma mulher branca? Refleti e acredito que tudo isto vai muito alem de questões raciais, nos mulheres negras temos um valor imenso, não só na historia mas como mulheres fortes guerreiras e auto suficientes ,dar amor a quem não nos valoriza e uma questão de falta de amor próprio.
    Por fim, se meu marido me trocasse por uma mulher branca, quem perderia seria ele, por perder uma mulher incrível. Ou seja, não seja dependente do amor de ninguém, tenha amor próprio suficiente para não se sentir menosprezada por um homem, negro ou branco. Nós mulheres negras temos no sangue, nossas avós e bizas escravas que passaram por tantas coisas, para sermos escravizadas emocionalmente. Pode ser uma realidade sim, a preferencia de homens negros por mulheres brancas na ascensão, mais não vou me menosprezar e seguir padrões esteriottpado por canta disso. Vamos nos enaltecer e nos valorizar .. isso sim.

  2. Excelente texto, Mabia!
    Eu trabalho com revisão de textos acadêmicos e estou revisando um artigo na mesma temática. Assim que estiver disponível na revista, avisarei a você.

    Abraço!

    1. Vai passar sim, Eli. Passou para mim, passou para várias outras. Mas para passar, é preciso um certo amadurecimento, mudar de perspectivas.

  3. Que texto perfeito. Me relacionei por 2 anos com um branco de família rica e por duas vezes ele iniciou um namoro com brancas estando comigo, sei que ele gostava de mim mas tinha vergonha e medo de me assumir. Hoje ele permanece solteiro e atrás de mim, mas não aceito mais isso. Sou negra de cabelo crespo com 35 anos e há 20nos terminando sozinha em festas e baladas.

  4. Eu já passei muito por isso. Namorei um oriental que era apaixonado por mim, mas não teve coragem de me apresentar para sua família. Namorei um branco, ele me dizia que seus amigos me achavam feia, embora ele pensasse o contrário. Por fim ele me deixou também. Hoje sou casada com um branco que não é bom para mim, me desdenha e me despreza. Pretendo me separar dele, mas sei que ficarei sozinha. Recebo muitas cantadas, elogios de homens brancos e negros, mas não dou bola, eles querem apenas ir para cama comigo, e hoje não caio mais na lábia de homens assim. Enfim sou bem sucedida
    profissionalmente e no amor um fracasso.

  5. Mabia, parabéns pelo texto, você descreveu exatamente o que eu penso. Sou negra, tenho 24 anos e nunca namorei, nunca nem mesmo tive um “ficante sério”, estudei em escola particular, fiz faculdade particular, tenho muitos amigos brancos e negros. Alisei meu cabelo por 10 anos da minha vida numa tentativa de ser mais bem aceita pelos que me achavam “feia”, muitos negros inclusive, pois bonitas eram minhas colegas brancas de cabelo liso. Faz 2 anos que assumi o meu cabelo natural e me redescobri, as pessoas me elogiam bastante, e não “acreditam” quando digo que não tenho namorado, mas sinceramente as vezes acho que as pessoas me elogiam para que você se sinta melhor, como se “ela precisa ouvir que é bonita”, não que não goste de escutar elogios, mas não são esses elogios que vão me fazer eu me sentir ou não bonita, isso depende unicamente de mim, da minha auto estima. Quando comentava com minhas amigas brancas sobre “a minha solidão”, elas dizem que é coisa da minha cabeça, que eu sou a preconceituosa da história, bom hoje não comento mais, guardei meus pensamentos e sentimentos para mim, mas recentemente busquei sobre esse assunto na internet e encontrei textos bem interessantes, eu achava que só eu passava por isso, mas vi que outras meninas também passam, é uma triste realidade, mas parei de sonhar com um dia casar e ter uma família.

  6. Belo texto !!
    Sou negro, hetero e meu tipo de mulher sempre foi morena pele clara com olhos azuis.
    Minhas duas primeiras namoradas foram assim.
    Desde moleque era apaixonado pela ainda jovem menina chamada Ana Paulo Arósio, e no perfil dela baseei minha “namorada ideal”.
    Bom, amadureci e hoje namoro fazem 2 anos uma linda mulher negra.
    Só para fins de explicação, ela é negra… não mulata, nem mestiça… tem um tom de pele inclusive mais escuro que o meu.
    Eu a amo e espero passar o resta da minha vida com ele e ter lindos filhos negros.
    Eu acredito na frase “amor não tem cor”, pois o amor de verdade não tem.
    Quando um negro procurar um mulher branca para se relacionar, não se trata de amor… se trata de tentar ser aceito.
    Por isso, acho que o “amor de verdade” realmente não tem cor.

  7. Muito bom o artigo. Me lembro que na adolescência me perguntava se o problema estava em mim pois sempre que saia com minhas amigas, que em maioria são brancas e com olhos claros, eram sempre elas as preferidas pelos rapazes. Meu primeiro e único namoro foi aos 19 anos enquanto minhas amigas já tinham tido outros vários relacionamentos. Esse meu namorado era negro mas se considerava “moreno” e esse era um grande motivo de “n” discussões entre nós.
    Percebo que a maioria dos meus amigos negros namoram mulheres brancas, loiras, inclusive, sou fruto de uma relação inter racial. Mas o que realmente me incomoda é que apesar do passar dos anos, a mulher negra continua seguindo sozinha e isso causa um grande impacto na nossa autoestima, evidentemente. Muito recentemente comecei a me valorizar e me achar de fato bonita. Tive a oportunidade de morar na Europa por um tempo e as relações se dão de forma diferente. O homem negro ou branco não tem “vergonha”, “receio” de se relacionar com uma mulher negra, de cabelo crespo e volumoso como é o meu caso. Aqui no Brasil já ouvi muitas vezes que deveria manter o meu cabelo preso, se não achava que tinha volume demais. Enfim, depois dessa experiência consegui me sentir bem comigo mesma, não me achando como “errada” da história e nunca escondendo minha essência.

    1. Michele faço das suas minhas palavras. mas esse amadurecimento, no meu caso, veio com a idade, de saber quem eu sou, o que eu sou e quem eu quero comigo.
      nesse processo resolvi também assumir meu cabelo natural. mas acredita que depois do corte, que fiquei com o cabelo curto, me tornei mais invisível para os homens?? chocada rs.

  8. Eu e minha irmã sempre chamamos a Síndrome de Cirilo de Troféu Marfim. Muitas amigas custam a entender quando conversamos sobre isso, mas depois de várias demostrações práticas fica bem mais fácil. Li seu texto e tive que reler para ela, que só pelo título rapidamente compreendeu o que você quis dizer.

  9. Devo acrescentar que domingo passado pra quem não sabe, tivemos uma roda de conversa organizada pelo coletivo TOMN no CCSP – Centro Cultural da Vergueiro – (evento do facebook) sobre a solidão da mulher negra e apropriação cultural, alguém aqui foi ou soube? Foi uma tarde bastante proveitosa, dividimos histórias e dores pelo que passamos nessa solidão e celibato forçado, algumas meninas até se emocionaram, dizendo o quanto é difícil ser mulher negra no país. Enfim, eu queria reforçar a necessidade de criarmos mais encontros como esses, pois assim juntamos mais forças, e juntas podemos muito mais apoiando umas às outras. E sugiro que façamos mais amizades entre nós, assim podemos trocar ideias sobre como amenizar este problema de solução difícil.

  10. Nunca pensei que uma situação assim fosse me abalar tanto, mas cada vez mais vejo que dói. a mulher negra é sempre a última opção, e diante da pirâmide da ascensão social, cada vez que nos distanciamos da base, da massa, “do lugar do negro”, vemos o quão raro é ter negros no mesmo ambiente e o quão difícil é se sustentar negro nesse ambiente.
    Nasci numa família em que graças a Deus com muito esforço, trabalho, suor, conseguimos ocupar um espaço que durante muito tempo foi tirado de nós (e ainda é, tendo em vista as barreiras que são colocadas para que alcancemos esse lugar), vivi sempre em ambientes que era a única negra, ou uma das poucas existentes, mas nunca foi motivo de me sentir menor, fui criada e preparada para enfrentar qualquer situação.
    Mas acredito que ter que estar sempre preparado é um fardo que vamos ter que carregar, como se não bastasse nossa história, ainda carregamos essa carga tão pesada que colocam sobre nós negros, e com mulher negra não é diferente.
    Apesar de sempre ser elogiada pela minha beleza, incrível como nunca namorei aos 22 anos, minha beleza só é reparada pelas mulheres ou pelas pessoas mais velhas, mas acredito que para os homens da minha idade no ambiente em que vivo não é suficiente, os brancos sempre buscando os padrões que são impostos na sociedade, e os negros seguindo o mesmo fluxo para se sentir melhor.
    E a mulher negra sempre sendo a última opção, se é que pode ser cogitada como opção da grande maioria. Não que precisemos de homem para ser felizes, precisamos ser completas e encontrar alguém que nos transborde, mas nunca imaginei que pudesse ser tão afetada por sair a noite, frequentar lugares e me sentir invisível aos olhos do outro. Sentir que diante das outras mulheres minha chance de ser amada também é muito menor. Saber que todo mundo te elogia, comenta da sua beleza, mas não as pessoas da sua idade, e ainda se acham bonita falam isso com você, mas apenas como uma observação, numa situação que mulher bonita e dentro dos padrões não serão somente avisadas de que são bonitas.
    Não sei se estou sendo clara o suficiente, mas fico triste em me ver nessa situação, saber que tem milhares de outras meninas nessa situação, por algo que não vai mudar tão cedo.
    No colégio, na faculdade, na balada, em qualquer lugar eu serei sempre mais uma, uma invisível, que não é o bastante.
    E não que isso me deixe com vergonha de ser negra, tenho muito orgulho e sou assumidamente negra, mas abala a autoestima, e imagino em pessoas que ainda buscam por sua identidade, ainda não se reconhecem os efeitos podem ser mais gravosos.
    Essa solidão da mulher negra parece que não vai ter fim. Estou no auge da minha juventude e me sinto deslocada no Âmbito amoroso do meio em que vivo.

    1. Julis, te entendo completamente! Faço medicina e tenho 22 anos e nunca namorei. O meio em que convivo é um lugar onde o negro é minoria e ainda não é aceito verdadeiramente. Também sofro com isso, sou elogiada pela minha beleza, mas ninguém se aproxima de mim querendo realmente um relacionamento na faculdade, por exemplo. Me sinto triste ao ver que as mulheres negras ficam sempre em segundo plano ao serem escolhidas. É uma sociedade cruel! Acredito que isso aconteça devido ao fato de ainda não termos encontrado um homem com coragem suficiente para transpor a barreira do preconceito, mas isso não significa que alguém assim não exista. Iremos encontrar alguém que nos transborde, tenho fé em Deus! Se você for do Rio, procure o Be one no facebook, é uma balada gospel na Barra onde comecei a frequentar e tenho sentido que essa ferida tem sido curada por Deus, estou me permitindo conhecer jovens especiais ali! Bjos

    2. Isso mesmo, nesse mundo tão cruel Deus é o único que pode nos sustentar e nos dar forças pra vencer essa solidão e essas barreiras de preconceito.

    3. Julis e Monique, estou na mesma de situação que vocês. Tenho 22 e tb nunca namorei. As pessoas me acham bonita, me elogiam e ficam espantadas quando eu digo que nunca namorei. Acham até que eu tô escolhendo demais, mas como vcs me entendem, esse não é o caso. Me graduei recentemente e no lugar onde trabalho negros também são a minoria. Às vezes eu chego a pensar que ficarei sozinha pra sempre. Mas tento não me abater por isso. Estou com uma ótima auto-estima, cabelo crespo super pro alto e sempre com um sorriso no rosto. Tento fingir que ainda há esperança rs.

  11. Ótimo texto. Tenho lido muito sobre isso ultimamente. Sou negra, durante a adolescência não tive namorados, ficava com alguns rapazes em festas apenas. A seguir namorei por 4 anos um rapaz socialmente branco, afrodescendente, mas de pele clara e cabelo liso, aliás o cabelo é bem classificatório para o individuo ser taxado de branco ou de preto aqui no Brasil (aliás, talvez seja o cabelo o que mais nos separe do padrão, muito mais que os traços). Enfim, esse namorado, durante esse tempo todo, não me apresentava a seus amigos de faculdade e nem me levava com ele aos lugares/festas/eventos, sempre saíamos sozinhos, ou ficávamos na minha casa ou na dele, hoje vejo que eu sempre ficava “escondida”, ele gostava de mim mas se dizia reservado, hoje sei que era pra não me mostrar, que ele tinha vergonha mesmo. Bem, ele me deixou por uma colega de faculdade, loira, de olhos azuis, eles estão juntos há mais de um ano e ele não tem vergonha de mostrá-la a ninguém, estranho né? rs. Desde então eu permaneço só, me acham legal, engraçada, sou bem-sucedida, mas continuo sempre sozinha…vou a festas com meninas até nem tão bonitas, mas que por serem brancas tem preferência, e por aí vai. conheço muitos caras negros, super embasados, engajados politicamente, que quando você vai ver, mesmo eles, todos namoram meninas brancas, ai me perguntam: por que não? E eu pergunto: por que sim? O que posso dizer é que dói muito, mas que nós, mulheres negras, temos que entender que nossa solidão não é circunstancial, ela é política.

  12. Eu sou negra e sou casada com um loiro ,meu primeiro marido também era branco e realmente sinto nas pessoas, um certo preconceito tipo VC é sortuda… Eu nunca busquei casar com branco mais aconteceu .

    1. Minhas primas são casadas, a mais velha com um rapaz negro de pele clara; a mais nova, com um rapaz branco, mas ela tem a pele mais clara que a outra. Ambas têm filhos com seus respectivos. Me pergunto, será que o marido da mais nova a vê como negra ou morena clara?

  13. Sou negra e confesso que este texto me trouxe um “alívio” pois acreditava, como todos a minha volta queriam que eu acreditasse, que estava louca. Sempre tive esta percepção dos relacionamentos, e mais, tinha exemplos claros dentro de casa. Minha mãe loira de olho verde não teve problema em se casar com um negro em ascensão social. Meu pai e seus irmãos, negros, tomaram como esposas mulheres brancas, quase como troféu e prova de que estavam melhorando de vida. Já suas irmãs, minhas tias, continuam solteiras e sozinhas, sem tem tido chances de construírem uma família. Sigo a mesma estrada, ainda que bem sucedida profissionalmente e considerada “bonita” por todas as minhas amigas, não consigo emplacar nenhum relacionamento sério. Minha irmã (OBS. minha irmã se parece mais com a família de minha mãe, ou seja, mais clara, ao que me pareço mais com meus parentes paternos, negros), casada com um homem negro, diversas vezes me acusou de racismo, por não me relacionar com negros. Por algum tempo eu mesmo acreditei nisto, mas depois me dei conta que eu estava no lugar errado. Onde trabalho, estudo ou frequento, não conheço ninguém da minha raça. Me interesso pelas pessoas que estão no meu convívio, e estas muitas vezes se interessam pela idéia de ter uma mulata de escola de samba a sua disposição em uma festa, mas não aguentam o fardo de manter um relacionamento fora dos padrões estéticos “normais”. Infelizmente vejo que ainda caminhamos em marcha lenta, mas tenho a esperança que no futuro este tipo de discussão seja algo completamente sem sentido.

  14. Mabia concordo plenamente com você, pena muitos não verem o óbvio, mas se engana quem acha que isso só acontece por aqui. Grande abraço! belo artigo.

  15. Mabia concordo plenamente com você, pena muitos não verem o óbvio e se engana quem acha que isso só acontece por aqui, grande abraço! belo artigo.

  16. Sou negra, mas muitos pensam atenuar me chamando de mulata. Meu cabelo é duro (cheio de progressiva kkkk ), meu lábios grossos, minha cor é linda. Não sou esse meio termo -parda- que querem me enfiar guela abaixo, me assumo como negra e ponto final.
    Namoro há quase quatro anos um japonês. Pois é, um oriental de família tradicional não me escolheu porque sou preta, mulata ou parta, não é uma questão de exterior… ele me ama pelo que eu sou, pela minha beleza interior. E eu o amo, exatamente pelo o que ele é por dentro.
    Escutamos cada gracinha…. outro dia no metrô aqui no Rio, umas senhoras falavam que eu só podia ser prostituta para estar com um oriental.

    Nós reagimos numa boa, porque sabemos que somente pessoas limitadas podem restringir o amor , um sentimento tão lindo e verdadeiro, a tonalidade de pele…

  17. Concordo em parte com o texto. Infelizmente, o efeito “não tem nenhum negro à minha altura” é bem mais comum.

    Sou casado com uma branca. Mas amo sim, a essência dela. Ela era gordinha, hoje está magrinha. Temos uma bela filha negra, nossa família é feliz.

    E sobre a síndrome de Cirilo, sofri até os 8 anos de idade, idealizando a “menininha mais bela da turma”, num padrão midiático imposto à exaustão. No entanto, aprendi dentro de um lar plural, que a cor da pele é só a cor da pele.

    Aprendi a admirar a mulher, qualquer mulher. No entanto, nunca consegui uma namorada, peguete ou amiga colorida negra. Elas não se permitem, não aceitam, não acreditam.

    Acredito que essa questão da síndrome do Cirilo é um pouquinho mais ampla.

    1. Sou Negra e concordo com você Luciano, realmente é uma questão bem mais ampla que deve ser trabalhada tanto em crianças branca como negras, para que na vida adulta suas escolhas sejam livres e não impostas. Infelizmente estamos bem longe disso.

  18. Ótimo texto!!! Triste realidade de negros e negras do nosso país. Alguns, na tentativa de serem aceitos, fazem até mais do que mudança exterior. Aprisionam suas ideias e sentimentos e depois de um tempo se transformam em nada. Frequentar lugares onde há uma maioria negra tem me ajudado muito.

  19. Sou negra, baiana, estudei na faculdade pública em um curso de “ricos” e cercada por brancos. Por ser negra, pois os caras negros nunca se interessavam por mim. Tão pouco os brancos, já que a grande maioria queria minhas amigas brancas, do cabelo liso. (na minha cabeça elas eram bonitas, eu feia… Meu cabelo crespo só vivia preso, aí elas, as amigas, me deram um relaxamento de presente de aniversário, mas porque EU não me sentia a vontade com meu próprio cabelo… a sociedade faz isso com a gente implicitamente, o tempo todo, nas mínimas atitudes).

    Hoje, namoro um negro (faz 3 anos) e sinto que ele não escolheu cor de pele. Mas é difícil achar um branco aqui que namore uma negra ou vice e versa. E quando tem, racismo pra dentro.

  20. Eu sou negro, e acredito sim que inconscientemente somos levados a ignorar as negras, pois crescemos em uma sociedade cheias de paradigmas sociais, que se não tivermos opinião própria acaba por controlar nossas decisões….. Mas fui contra a maré, namorei 2 negras, não gostava muito de brancas demais, e me casei com uma linda morena(em sta catarina seria negra) ……

    1. Corvus, ainda assim, o termo morena também é usado exatamente pra não considerar a mulher negra. Ela é negra sim, se se identifica como, pois morena é uma pessoa que tem cabelos pretos, apenas isso.

  21. O texto, assim como as reflexões da Leysha nos comentários, são de arrepiar. Mais arrepiante ainda é você se emponderar como negro e perceber a mentira que era a sua vida envolta num padrão eurocêntrico em pleno (!) Brasil. A luta continua, há muito trabalho para tocar adiante o que os negros americanos, apenas como exemplo, já tinham começado desde os anos 1950. Nos EUA, existe (em certo grau) uma consciência de raça e uma classe média e alta constituída por negros. Mesmo sendo um país que escravizou “apenas” cerca de 500 mil africanos, já conseguiram eleger um presidente negro – casado com negra e pai de negras – enquanto o Brasil, que traficou cerca de 5 milhões de africanos, quase não tem negros em posição de destaque – quiçá na politica.

  22. Obrigado pelo texto! Lendo este e mais outros sobre o tema consigo me dar conta de tanta coisa que já me aconteceu nas tantas tentativas de relacionamentos com homens.
    Fiquei muitas vezes sem saber o que o responder para amigas brancas me perguntando porque eu estou sempre sozinha, ou como é difícil ficar com um cara sem que ele queira namorar. Tudo ficou mais claro.

  23. Realmente a principio vi esse texto pensando que fosse outro ponto de vista deturpado sobre o assunto, mas calei a boca, ótimo texto mesmo, realmente você apontou o que mais afeta a postura da sociedade, que é o fato de estar entre os da “alta” então tem que seguir padrões e blá blá blá, algo que realmente muitos de nós aprendemos até dentro de casa, o que é lamentavel…

    Só pra constar sou branco.

  24. Não é questão de negro ter que casar com negro e branco ter que casar com branco. O que o artigo esta abordando é o status. O homem negro quando adquire poder ou seja melhora seu status social, sente a necessidade de provar isso para a sociedade. Nós mulheres infelizmente somos o símbolo de status de poder masculino. A mulher branca é a que melhor assume esse papel, pois se enquadra no padrão de beleza estabelecido pela sociedade brasileira. Então um negro que se se formou na faculdade, que se tornou destaque na mídia dentre outras forma de alcançar poder , procura se autoafirmar ao lado de uma mulher branca. A autoestima do homem negro que alcançou o poder, grita para a sociedade: “olha agora eu sou tão foda que até uma branca me quis”. Então podemos realizar a equação: homem negro + poder = status = mulher branca. Não precisamos ir muito longe para detectar a veracidade da equação, basca abrir os olhos. Um amigo negro que se formou na faculdade, que alcançou um bom emprego, que se tornou um grande jogador de futebol, que tem destaque na mídia ou se tornou um magistrado, dentre outras formas de poder, percebam que raramente esse homem tem uma mulher negra ao seu lado, pois o negro é desestimulado a ser negro. O poder embranquece o homem negro.

  25. CARAMBA! que texto ótimo! Minha monografia foi exatamente sobre esse assunto, o tema foi CINEMA E REPRESENTAÇÃO DO NEGRO: Uma análise da construção de sentidos da imagem do negro no imaginário infantil a partir do filme A Princesa e o Sapo

    Coloco aqui um resumo sobre o conteúdo, e se quiser a monografia pra ler me envia um e-mail vai ser um prazer ter uma formadora de opinião lendo esse trabalho que deu trabalho rsrs fazer

    “Acredita-se que é na infância que o indivíduo começa a formação da sua personalidade, e que as representações sociais impostas pela mídia têm grande influência nesse período. Ao observar as representações dos negros na mídia, percebe-se que elas seguem determinados padrões que além de desvalorizar, reforça o estigma de que os espaços sociais ocupados pelo negro são sempre os subalternos. Reforçar uma imagem estereotipada de um segmento étnico, nos meios de comunicação, tende
    a influenciar os processos de subjetivação, identificação e formação das crianças.

    O propósito é aprofundar o assunto, percebendo como a insuficiência de protagonistas negros ou a presença estereotipada podem afetar diretamente as crianças negras no sentido de se identificar, e as crianças de outros segmentos étnicos no sentido de reconhecer o outro como semelhante. Dessa forma esta pesquisa propôs-se a investigar a origem da construção das representações sociais dos negros ao longo da história, percebendo em como esse construto se transpôs para os produtos midiáticos culturais de forma geral e posteriormente em produtos culturais infantis, analisando também o lugar social que a mulher negra ocupa e como esse espaço pode influenciar a construção e formação da identidade de meninas negras. A escolha por se trabalhar contos de fadas se deve ao fato de que eles atuam no emocional da criança e influenciam o modo como meninas constroem sua identidade/auto-imagem, ao enxergar nas princesas um padrão estético dito como o mais bonito e mais aceitável.

    Assim coube a esta pesquisa aprofundar no estudo de apropriação dos contos de fadas feitos pela Disney, uma vez que eles além da função de entretenimento servem como canais de veiculação de ideologias e valores a partir da sua forma e conteúdo.

    O objetivo é refletir a partir de todo o conteúdo teórico junto aos modelos da estética da recepção, a importância da narrativa do filme A Princesa e o Sapo na construção de
    sentidos da imagem do negro para o público infantil.”

  26. Sou branco e minha namorada negra, minha família já declarou guerra ao perceber que está sério depois de 4 anos… Estou saindo de casa em razão disso. Racismo hoje pra mim não fica barato, posso estar em qualquer situação que compro briga até quando estou sozinho pessoas assim não são dignas da minha compania. Muitas vezes estes indivíduos são alienados.

    1. Nossa Leonard, eu tiro o chapéu para o seu comentário, que merece aplausos de pé!! Parabéns pela iniciativa, isso mostra o quanto vc a ama de verdade, independente de sua cor 🙂

  27. é uma vergonho pra nosso grupo étnico, mas isso tem uma explicação, o povo negro perderam sua cultura que era milenar, perderam seu idioma linguístico, o povo afro descendente perderam seus nomes e sobrenome de origem africano, em fim perdemos nossos valores, depois 385 anos de escravidão formal no brasil, eu por exemplo sou um negro e tenho nome e sobrenome de europeu, coisa que não tem nada a ver com migo, sou obrigado a viver com isso.

  28. Quero desabafar aqui. Minha familia é composta por pai e mãe pardos, e eu e meus dois irmãos somos pardos tambem. Pois bem, desde criança nóstres crescemos ouvindominha mãe dizer ” ve se não vai trazer uma negona pra morar aqui” ” de preto ja basta nós” ” vamos pentear esse pixaim”. Como eramos crianças não entendiamos o q estava por tras daquelas frases, só aceitavamos. Hj, eu, minha irmã e meu irmão somos casados com brancos, e nunca parei pra pensar o pq dessas escolhas, mas lendo esse texto varias possibilidades me vieram a mente…

  29. Nossa Alexandre Costa, conta mais por favor, que dizer então que seus primos negros estão com brancas porque foram rejeitados pelas negras? Nossa estou surpresa onde é esse mundo? é no Brasil mesmo?
    Uma coisa que eu sempre reparei que a sociedade esta ai para mostra, o quanto o negro preferem clarear, jogadores de futebol e famosos seguem seriamente a regra de se casar com brancas, é só fica rico e a neguinha é jogada de lado. Acredito que o casamento inter-racial beneficia mais os negros homens, já a mulher negra ou vai para Europa onde dizem que lá a beleza negra é valorizada ou fica na desigualdade. Como vamos ser todos iguais desse jeito?

  30. Vendo os comentários, começo a achar q vivo em outro mundo. Onde moro acontece justamente o contrário. Meus primos, amigos negros e eu geralmente nos relacionamos com mulheres brancas porque as mulheres negras rejeitam homens negros por causa de sua cor de pele. A ponto de eu chegar em uma garota negra e ela me falar que não fica com preto. Meu susto foi tão grande que eu nem tive reação. Só pensei comigo:”Tá ok floquinho de neve”.

    1. É Verdade Existe a rejeição tanto do home quanto da mulher. Tem muitas mulheres negras que se negam a se relacionar com homens de sua cor. Ja presenciei uma cena dessas semana passada Alexandre. Eu também era uma que fazia esse tipo de coisa inconscientemente, mas depois que me afirmei hoje não vejo mais cor e sim o amor. Tanto que sou casada com um negro. O amor não tem cor

    2. Bom dia, também como Alexandre Costa comentou acima tenho este dilema na minha família onde minhas primas sempre abertamente diziam que não iriam ter relacionamentos com negros e agora que casaram-se com brancos não querem ter filhos para que não venham mestiçados, eu mesmo fui rejeitado por mulheres negras e a ultima que consegui namorar estava circundante num grupo social de brancos onde ela não me convidava para ir as festas ou me apresentava a suas amigas e depois de eu ajudar ela a ponto de me comprometer em ler resumos de trabalhos, comprar livros e dar enfase ao artigo de banca dela para se formar na faculdade terminou o nosso relacionamento, e então uma vez quando namorei uma mulher branca fui abordado em plena rua por um grupo de mulheres negras e chamado de traidor, está bem sairmos rindo mas a vontade era de descer o desabafo,mas seria uma ofensa a minha companhia e a mim mesmo. Então onde está o “complexo de Cirilo” quando as relações estão cada vez mais difíceis entre os membros da mesma cor atras de ascensão social?

    3. Concordo com o Alexandre. Sou filha de pardo com branca, me considero parda. Quando era pre-adolescente muitos foram os meninos negros e pardos que caçoavam de mim ou não tinham nenhum interesse. Passei boa parte da vida sendo admirada pelos brancos mesmo. Hoje sou noiva de loiro, e apesar de vc e boa parte pensar q foi pq escolhi assim, não. Ele foi que me escolheu e me trata tão bem quanto qualquer homem nessa vida fez. Somos melhores amigos forever. O texto é muito bom, mas ainda penso q existe pequenas exceções no quesito gosto.

  31. Este texto esta muito bem colocado. Infelizmente estamos vivendo sobre um enorme paradigma.Os homens negros desde quando são crianças e postas na cabecinha deles que namorar a mulher branca é mudar de status. Acham que serão aceitos na sociedade(tenho pena!)Para ser aceito na sociedade é demostrar seu valor em conhecimento, costumo dizer que conhecimento é poder. Conheço vários homens negros que ficam com mulheres brancas para desfilar, mas gostam da negra para namorar.
    Vou contar um caso: Minha amiga apaixonou por um homem negro(ela é negra), mas ela achava estranho porque ele nunca saia com ela mesmo ele demostrando todo o desejo e carinho. No final ela descobriu que ele gostava de mulheres brancas pois quando ele saia com elas chamava mais atenção. Bom…ele queria ser aceito pela sociedade!
    Agradeço a oportunidade de deixar um comentário e também pelo belo texto de reflexão.

  32. Muito bom o texto! Parabéns! Você tem uma mente clara e livre de paradigmas!
    Não só os negros mas o brasileiro de maneira geral tem seu parâmetro de “estética” voltado ao eurocentrismo. Não a toa, mulheres brancas muitas vezes tingem seus cabelos de loiro (mesmo que fiquem toscas e com seus cabelos ressecados como a maioria fica).

    Sobre os homens negros, é dessa forma que funciona! Sou criticado muitas vezes por postar em debates essa mesma linha de raciocínio. Enquanto as mulheres negras gostam de estar do lado dos homens negros, estes, tendo oportunidades preferem as brancas mesmo que sejam esteticamente menos bonitas.

    O que deve ser feito no Brasil é o mesmo dos USA (mais uma vez os USA, tenho que tirar o chapéu para eles). Lá, os negros aprendem a valorizar sua cultura e negritude desde crianças a ponto de alguns brancos quererem imitá-los. Casam-se e constituem famílias negras, sem se sentirem diminuídos com isso.

    1. Isso está mudando muito por aqui. Cada dia se vê mais brancas namorando e tendo filhos com negros. Mas uma negra com homem branco é raro.

  33. para os incrédulos aqui que não acreditam na síndrome de Cirilo, vou mostrar aqui,segundo estatísticas do IBGE
    branco casado com branca=75,3%
    negro casado com negra=39,9%
    pardo com parda=69%
    índio com índia=65,4%
    amarelo com amarela=44,2%

    1. Fernando, te ajudo a completar as estatísticas:

      negra com branco (pelo menos no BRASIL): 0,0%
      negro com branca: 75%

      Tudo por auto (observação pessoal)….

      Eu ainda defendo a mistura dessas etnias entre si, indígenas com brancos, negros, orientais mestiços e negros com todos esses. Ficar cada um no seu quadrado não vai erradicar o racismo e a tal Síndrome de “Cirilo”, só vai reforçar a ideia nazista e radical de que “lugar de negro é com negro e branco com branco”, é a mesma coisa em dizer que bissexuais só podem ficar, se relacionar e ter amizade entre si, meio egoísta e extremamente limitado isso, né…. é isso mesmo que vcs querem??

    2. Dany Lively, te ajudo a refazer suas estatísticas sobre o Brasil com meu depoimento pessoal, afinal meu pai é branco e se casou com uma negra, que vem a ser… minha mãe!

  34. Concordo com você que existe um padrão de beleza que exclui a mulher negra. Concordo também com a existência de homens e mulheres preconceituosos na própria comunidade negra. Em meu mestrado discuto um pouco sobre essa questão de o discriminado voltar contra si mesmo o discurso do opressor. Só não vejo que isso possa levar a uma “solidão feminina negra”. Acho que sua ideia leva a um caminho sem saída: se o homem negro casa com uma branca, ou uma mulher negra casa com um branco, eles portam essa síndrome e pronto? Não é uma forma estreita de ver as coisas? Se um homem branco casa com uma negra é por conta da sensualização da mulher negra, se uma mulher branca casa com um negro, é falta de opção? Homens negros e mulheres negras só podem casar com pessoas também negras? Machado de Assis era mulato e casou-se com uma portuguesa de pele clara. Enfrentou a família dela e viveram juntos e apaixonados por décadas. Posso parecer ingênua aqui, mas amor também deveria entrar nessa equação, não?
    Infelizmente, encontrar um parceiro não é tarefa fácil para nenhuma de nós, mulheres. Quem de nós quer casar um cara racista, machista ou que só valoriza a aparência, seja ele branco ou negro? Sem falar na questão da idade, que também influi no quesito “beleza feminina”… Casamento ficou mais difícil, porque a mulher também têm outras opções. E eu acho que isso é bom. Que os relacionamentos somente ocorram quando as duas pessoas realmente têm esse objetivo é um grande avanço.

    1. É exata,ente o que penso, Stella. Não acho que sejamos obrigados a somente arrumar parceiros (as) negras pela “segurança” de não sermos discriminados, desvalorizados, mas sim por gostar, sentir atração, mesmo. Contudo, percebo que a reclamação vem de grande parte das mulheres héteros em relação aos homens, que parecem ser grande parte do problema. Somente uma mulher lésbica insinuou que as mulheres também prefiram as parceiras brancas. Não sei, não posso responder pelos demais, mas na minha opinião, racismo é achar que tem que ficar cada um no seu quadrado, só branco com branco e negro com negro, não vejo problemas na miscigenação, é algo até bonito de se ver, pelo menos para mim, e nos mostra que o preconceito e as barreiras de classe estão sendo superadas, pelo menos entre algumas pessoas que sustentam esse tipo de relação (inter-racial) sem o menor problema. Quem gosta jamais sentirá vergonha de ser visto com alguém diferente de sua etnia, pelo contrário, será motivo de orgulho para si saber apreciar o “diferente”.

    2. O texto não é sobre relacionamento inter-raciais (de forma generica) é sobre homem negros que bem sucessidados que para se sentirem aceitos no meio social pegam como trofeu, mulheres brancas pq acreditam que isso é uma forma de ascenção social.

  35. Mabia, parabéns por estas palavras, você não traduziu só a realidade brasileira mas também a realidade negro-relações em geral… Eu sou negra, cabelo crespo e ANGOLANA e sempre oiço pessoas dizerem e a fazerem coisas que me fazem ter realmente pena de mentes tão pequena que contribuem para o desrespeito ao negro. Num país em que o favoritismo por pessoas de “pele clara” por vezes é o óbvio (postos de trabalho, na escola, até em baladas).

  36. Gostei bastante do seu artigo, porém acho que ele carrega um conceito um tanto atrasado, no que tange as relações inter-raciais. Eu me sinto atraído tanto pela mulher branca como a negra. A questão que existe um radicalismo dentro do movimento negro, que sempre criticou essas relações, que são relações normais.

    1. Daniel, tudo que é normalizado passa por dois processos: o de naturalização e o de normatização. O que você me diz ao escrever que a relação inter-racial é “normal” é que ela está tão banalizada e diminuída de significados e contextos, que passou a ser regra e não exceção.

    2. daniel peixoto,relações inter étnicas,são exceção , a maioria das pessoas preferem se casar com pessoas da mesma cor ,com exceção dos negros que a regra é casar com pessoas não-negras,e exceção é casar com outro negro,leia o livro virou regra??de Claudete Alves.

    3. Tem um estudo do IBGE que saiu acho que 2012, e ele fala que os brasileiros preferem casar entre pessoas da mesma cor (brancos + brancos +/- 75%) mas que entre os negros isso não acontece. E sendo isso um desvio pq o normal é pessoas querem casar com seu iguais e não com seus diferentes, construções sociais, feitas na infância que permancence qdo adultos. Qto a materia acretido que não é sobre relacionamento inter-raciais (de forma generica) é sobre homem negros bem sucessidados que para se sentirem aceitos no meio social pegam como trofeu, mulheres brancas pq acreditam que isso é uma forma de ascenção social.

  37. Gostei do artigo, contudo a preferência por parceiros brancos está igualmente – muito – presente nas mulheres negras também. Infelizmente é a pura verdade!

    1. É a realidade da nossa sociedade, mas apontar um ou outro não vai resolver a questão. O ponto que eu toquei, nesse texto, é o da síndrome de cirilo, apenas, mas esse assunto é bastante amplo e temos vários textos aqui no blog que o discutem.

  38. Na minha opinião assistir menos tv, menos de 1 hora por dia resolveria noventa por cento dos problemas………..o restante se resolve frequentando lugares em que a maioria das pessoas são negras….

    1. Cristiano, eu já não assisto TV há anos. Aquilo lá é lixo puro. O pior é que está acontecendo a mesma coisa com a internet. Aquele Facebook, por exemplo, virou uma porcaria. Todo mundo querendo ser o que não é para ser aceito e respeitado. Comédia total! Acho que no geral o povo brasileiro tem complexo de inferioridade.

    2. Tem mesmo, Carlos, um complexo de vira-latas gigantesco. Mas Cristiano, criar uma bolha onde não se seja afetado por nada é impossível, se vivemos em sociedade. Meu filho não vê, mas o filho do vizinho vê. E como faz para que, ainda que a maioria seja negra, não sejam todos colonizados e a menina de cabelo alisado tire um sarro da menina de cabelos crespos?

  39. Já namorei um negro que tinha vergonha de mim. Além de me maltratar, ele não pegava na minha mão quando andávamos no bairro do Rio Vermelho, lugar em que morava com a família. Eu, moradora da Liberdade (Salvador), achava que havia algo de errado comigo. Na época, ele estudava psicologia… vejam só. Com o tempo vi que era rejeitada por negros e brancos de classe média e isso piorou muito depois que vim morar em São Paulo. Trabalho com publicidade, um lugar predominantemente branco e estou tentando ir a lugares onde há mais negros. Ao mesmo tempo, os negros ignorantes e machistas não me atraem. Desculpa, mas eu não consigo e acabo ficando tendo experiências apenas no campo sexual. Enfim, depois de tanto tempo solteira sendo rejeitada e tendo meu coração maltratado pelos homens, eu me tornei uma pessoa cínica que não acredita mesmo nestas coisas de romance e etc. Prefiro focar em minha carreira e educação. Porém, vejo que isso ainda é importante para parte das mulheres e lamento bastante esta tamanha rejeição de tantos grupos sociais quando você se torna bem sucedida profissionalmente. É um assunto muito difícil. Estou lendo este post com um nó na garganta e um peso no coração porque sei mesmo o quanto este assunto dói. Uma coisa é certa, eu passei a acreditar mais na minha beleza e inteligência. Isso é o que me salva todos os dias em que me olho no espelho. Acredite na sua beleza, meninas. É complicado, mas você consegue.

    1. Desde que eu era criancica Denzel Washington, Sidney Potier, Woopy Goldberg, Milton Gonçalves .. já protagonizavam gente assexuada, sem glamour, sem vestidos de festa, sem champanha, sem pretendentes ( nem no cinema eles conseguiam, quanto mais na real ) e sem carrão. Eu só lamento não ter percebido isso bem mais cedo, a vida tem milhões de ângulos para a gente aproveitar, milhões de técnicas para carregar menos peso.

  40. É Mesmo né ve todos os comerciais de tv que passam pelo menos de 8, 7 tem mulheres de cabelos lisos olhos claros enfim caucasos , fora as novelas também né que não há quase um negro bem sucedido presente sendo protagonista, acho que a maioria da novela das 6 so colocam como de época para empregar atores negros já que a maioria são novelas de épocas escravas.
    quase todas as atrizes negras e atores negros foram escravos em alguma novela das 6.

  41. Muito bom e pertinente o texto, vivencio isso muito no meu dia a dia, principalmente naquelas horas em que saio para me divertir e vejo que acabo “perdendo” para as mulheres de pele branca. Acredito que muitas de nós, negras, passam pela mesma situação, mas como mudar isso?
    E quanto a “mania de perseguição”, não é mania, é constatação, é só fazer um pequeno teste: vá a uma balada (samba, pagode ou outra coisa) e veja com quem os homens negros preferem ficar, conte quantos ficam com brancas e quantos ficam com negras, é algo decepcionante…

  42. Bem, o relato é grande, mas é verídico!

    E o pior é quando começa em casa. Eu sou fruto de um casamento entre um negro e uma branca (loira, claro.). E outro dia estava com a minha avó quando soltei um “é claro que eu sou negra, e daí?” minha avó me olhou desconfiada e sorriu ” você não é negra, é morena, olha esse cabelo bom. Tem é que casar com um branco para clarear o sangue”.

    O negócio é, eu não posso argumentar com uma mulher viúva de 96 anos, então eu só ri e disse: “Vó, eu vou é me casar com um negão”. ela não riu.
    O que eu percebo é que ela se esqueceu que o meu irmão tem o “cabelo ruim”. Ele tem exatamente o mesmo sangue que eu, mas por uma coisa genética (creio que, por alguma descendência indígena) eu nasci com o cabelo só ondulado.

    O difícil é ter um mãe criada ideias claramente racistas, que casou com um negro (pode isso berenice?). Ela não diz por mal, quero acreditar, e o fato de ter casado com um negro mesmo contra a família diz muito. Mas vez ou outra durante a minha infância eu escutava dela um certo ditado horroroso quando quebrava alguma coisa, ou chorava por um motivo tolo: “nego quando não caga na saída, caga na chegada”, ou então “para de fazer barulho, parece os ‘nego’ da antunica”. Eu não sabia o que era ‘antunica’, e para mim, era só mais uma dessas coisas que as mães gritam quando os filhos dão trabalho. Só descobri muitos anos depois que Antunica, era uma senhora, negra, com 5 filhas, que morava ao lado da casa da minha avó, e sempre colocavam o som no volume máximo.

    Minha mãe não é uma pessoa ruim. Hoje aos 23 anos, vejo que ela é fruto do seu meio. Ela foi criada em uma sociedade paternalista, aonde “lugar de mulher é na cozinha”, e aonde “negro” era quase um tipo de ofensa, gay então, nem se fala! Mas ainda assim, ela se casou com um negro, e criou dois filhos. Ela tem seus preconceitos, é difícil esquecer o que você aprendeu desde pequena, mas o negócio da minha mãe, é que ela tenta.

    Eu tinha um padrão inalcançável, e por muito tempo eu tive essa sensação de inferioridade por não ter os traços da minha mãe, por não ter aquele nariz, por não ser branca… mas a minha mãe me deu ferramentas para aprender o que ela não aprendeu, e assim eu conseguir não só aceitar quem eu sou, como eu sou, mas também a amar. Aprendi que todas as pessoas são iguais nas suas diferenças. E que a vida não vai ser fácil, independente da minha origem, mas que é importante que eu acredite, e que tenha bons argumentos, e.. deus sabe, que eu tenha muita paciência para ensinar a aceitar.

  43. Muito pertinente o seu texto, especialmente com a proximidade do Carnaval…

    “O teu cabelo não nega, mulata,
    Porque és mulata na cor,
    Mas como a cor não pega, mulata,
    Mulata eu quero o teu amor.”

  44. Esse assunto é tão complicado… Eu tenho 31 anos, nunca namorei sério, só relacionamentos superficiais. Tenho um filhinho fruto de um desses relacionamentos, que é a luz da minha vida. O pai dele sequer liga para ele. Eu, sinceramente, desisti de ter um relacionamento sério. Acho que também há uma pressão social muito grande para que a gente tenha alguém, e nem sempre estar em um relacionamento é tão satisfatório assim. O amor para mulheres negras é como “um jogo de cartas marcadas”, ou seja, as chances de “vencer” são poucas. Os homens até comentam que sou bonita, mas não passa disso. Eu, no início da faculdade, me apaixonei loucamente por um rapaz, que estudava medicina. Nós nos envolvemos, mas ele dizia que só queria curtir, que não estava preparado após ter terminado um namoro com outra pessoa. Era sempre tudo escondido, nunca sequer andávamos de mãos dadas em público, e eu aceitava essas migalhas por gostar muito dele. Arrastamos isso por 1 ano, e ele sempre com essa ladainha de não estar pronto. Eu sempre sendo apresentada como amiga. Até que, do nada, ele aparece com uma namorada, branca, de mãos dadas para que todos pudessem ver, inclusive eu. Noivou e casou com ela. Fiquei muito transtornada. Fiz psicoterapia, mas até a psicóloga dizia que eu tinha mania de perseguição, que o fato de eu ser preterida não tinha relação com a minha negritude. Estou cansada disso tudo.

    1. Karla, aconteceu quase a mesma coisa comigo. Depois de 10 meses de muita dedicação a ele, fez o mesmo, me trocou por uma loirinha, que conheceu na casa de um parente dele. Não teve o trabalho de me comunicar, fiquei sabendo pelas redes sociais. Ficou com ela na primeira vez e dali mesmo já me deixou. Foi um trauma. E ainda não saí dele.

    2. É Aline, não é fácil. Aconteceram outras coisas comigo, que reforçam que o preterimento dos homens de qualquer cor em relação a mim (e a nós mulheres negras em geral) tem a ver justamente com a cor da pele, com os traços, com os cabelos crespos. Eu desabafei aqui com esse relato porque foi o acontecimento mais doloroso para mim. Até hoje às vezes eu choro, mas me lembro de que eu não tenho culpa, e que infelizmente se trata de um problema social, o que me fortalece para lutar, mesmo que silenciosamente, para mostrar que nós mulheres negras temos valor sim, tanto quanto outras mulheres.

    3. Karla, quando alguém te vier com esse papo de “mania de perseguição”, pergunte a pessoa: “se você acha isso, me diga,^VOCÊ FICARIA COMIGO pelas minhas qualidades?” Vamos ver qual será a resposta (isso se tiver uma), pra ver se é coisa da sua cabeça mesmo.

  45. Isso só me faz pensar uma coisa: se eu tivesse nascido branca e linda, a essas horas estaria casada com alguém que eu escolhesse, colhendo todos os frutos que me são deserdados e todos os benefícios que sou tolhida de ter. Isso é triste, pq é algo que não temos como mudar em nós!! Não é justo!!! A cor da pele não deveria excluir minha chance de ser feliz com alguém e ser motivo de solidão e minhas outras qualidades e características serem ignoradas por causa disso! , nós não merecemos isso!! O que precisamos fazer para não ficarmos sobrando? Queria muito conhecer alguém que goste de mim como eu sou!!! Negra, baixinha e com uma beleza mediana, e não só pra ficar, mas para estar ao meu lado pra vida toda. Todos do meu face namoram, menos eu 🙁 Preciso tanto de alguém! Dei minha cara a tapa pelo meu desabafo tão sincero e oportuno.

    1. Desabar é bom, ajuda-nos a retirar todo o grito lúgubre que nos sufoca por dentro, Dany. Vai conseguir realizar seus sonhos, apenas continue a tentar. Mas, embora não conheça mais do que o básico sobre essa questão de racismo, pelos comentários fui instigado a parar e pensar: de fato, faz sentido. Sempre tive poucas namoradas e, embora eu nunca ligasse muito pra isso, pois que sou um bibliófilo confesso desde criança, o que talvez me ajudou muito em meus arroubos de adolescente, eu sempre captei algo mais nisso. Não se tratava de mero desinteresse puro e simples por minha parte, mas também de uma certa seletiva por parte das mulheres, brancas e negras. Às vezes, era preterido por razões que me pareciam inexplicáveis, certo, eu não sou nenhum Brad Pitt, mas também não sou um monstro do lago Ness, considero-me bastante bonito. Mas mesmo assim, elas preferiam um Godzilla. Se colocar a questão da cor no meio, sim, é realmente possível que isto influencie qualquer coisa. É possível que tal se dava por causa de minha cor. Portanto, tal problema é transversal, afeta principalmente mulheres negras, mas também homens negros, sabemos que o racismo está tão enraizado que mesmo negros são racistas contra outros negros, então pode ser consequência da “síndrome da branca (o) encantada”, por assim dizer, a busca de uma mulher ou homem branco para termos respeitabilidade e status social. No meu caso específico de homem, talvez não tenha sentido tanto, pois somos “programados” desde pequenos a ser o caçador, então não há constrangimentos alguns em abordar mulheres. O mesmo não se dá com elas, o preconceito é forte e, se resolverem fazer o mesmo, logo são vistas como “atiradas”, então elas meio que dependem da “boa vontade” do homem em ter interesse por elas. Bom tema para se pensar esse, talvez vocês aqui do blogue pudessem desenvolver mais o assunto, é um problema real e dolorido da negritude.

  46. Oi, gente. Vou contar minha história sobre preferências por brancos.
    Sou uma moça, cis, hétero, branca. Mas não “muito branca”. Meu avô materno era pardo, o restante da família de ascendência européia. Eu tenho a pele bem clara, mas o nariz mais largo e o cabelo cacheado. Não preciso falar que passei a infância e adolescência odiando estes traços.
    Tive um pai muito carinhoso e muito, muito racista, apesar de ele mesmo não perceber e negar isso.
    O resultado é que não consigo sentir atração por rapazes negros e nem pardos. Era aquela sensação de “esse rapaz é ótimo, mas imagina eu chego com ele em casa?” Tive dois namorados e ambos (o ex e o atual, com o qual estou há anos) são muito brancos, em tom de pele, traços e tudo o mais.
    Não preciso dizer que eu me senti péssima quando comecei a perceber que isto não era apenas uma “questão de gosto”, mas algo bem mais complexo. Como tantas outras sequelas de ter sido criada em um ambiente muito preconceituoso, é algo de que eu tento me livrar. É péssimo ver o preconceito acontecendo no mundo, e terrível ver ele ocorrendo dentro de si mesmo.
    Ao contrário do meu pai, meu atual namorado (e, ambos esperamos, futuro marido), não é uma pessoa racista. Pretendemos ter filhos, biológicos e ao menos um adotivo. Como não queremos “escolher” a criança a ser adotada por características, eventualmente virá uma criança negra, isto pela distribuição de etnias que temos nos lares adotivos. Queremos educar nossas crianças da forma mais humana, mais livre de preconceito possível. Que xs filhxs que tiverem preferência por mulheres vejam negras, brancas, asiáticas, indígenas, todas como igual opção para ter como namorada e que saibam como lidar com preconceitos que possam vir de suas escolhas. Que eu não cause aos meus filhos o mal que meu pai me causou.

  47. Bem, pelo que disseram, chego a conclusão de que serei mais uma que não terei a pessoa da minha vida (nem homem nem mulher) , pois creio que isso explique minha dificuldade em manter um relacionamento ou até mesmo começar um e isso me ponha “no meu lugar” de ser apenas a amiga, colega ou apenas um mero estepe, que logo mais será descartado por otura pessoa “melhor” que eu, com mais atributos. Pelo visto passaremos o resto de nossas vidas sozinhas, sem chance de reversão dessa situação desconfortável , isso é muito triste, pois vejo que nada podemos fazer. E ainda pro cima temos que ouvir frases prontas como: “voce precisa se amar/se valorizar” conversa fiada! Sei que todas vcs ou pelo menos uma boa parte já tentou agir dessa forma e mostras com atitudes o quant ose gostam e se valorizam, e me diz, adiantou alguma coisa? Um pouco dificil, pois vejo sempre as mesmas queixas, porque NADA mudou, e se tivesse mudado, vcs não estariam aqui! A coisa é muito mais complexa do que se imagina, pois vejo uma busca desenfreada por statuis, e psssoas muito fora dos padrões não dão status e nem conforto de provocar inveja nos outros, portanto só pela aparência as pessoas deduzem que nada temos a oferecer, sem mesmo tentar se dar uma chance pra saber se não temos algo a mais do que isso para oferecer em uma relação. É como no Titanic, “de agora em diante, não importa o que se faça, o navio vai afundar!” e também uma longa espera e tentativas de “acertar” por um erro que não cometemos, e mesmo assim, nada vem em retorno. Mais uma frase de Titanic num mar de faltade possibilidades: “esperar para morrrer, esperar para viver… esperar por uma absolvição que nunca viria”. Estamos aguardando uma chance que parece que nunca virá e não imporeta o que façamos para tentar melhorar ou mudar este quadro tão cruel de abandono. Por mais dramatico que tenha sido meu comentário, essa é a visão que tenho da situação, porque sinto essa dor de não ser pretendida há ANOS, e o medo de não sair disso faz doer muito mais! Aas ficadas rápidas e o namoro que tive foram apenas com pessoas que chegaram em mim, mas os resultados negativos foram PIORES do que se tivesse sido com quem meu coração escolhera espontaneamente, pois me senti usada pelos menos pretendidos também. Ou seja,m estou completamente sem opções e sem ideia de como reverter essa situação que muito me machuca e deprime :’( .

  48. Sempre fui uma das poucas negras no prezinho, no colégio e na faculdade. Quando criança sofri com o preconceito, e me lembro de escutar algumas coleguinhas branquinhas indignadas pq a neguinha (eu) foi a representante de turma. Hoje uso os cabelos lisos, maquiagem que disfarce os traços, entre outros. Por mais que eu tenha buscado mudar minha identidade, o que mais me dói é ouvir meu namorado dizer q eu não sou negra quando eu afirmo que sou, como se isso fosse uma ofensa, e uma ofensa a ele! Muitas vezes sofri tb pelos comentários maldosos que ele solta a ver fotos da minha infância, e por aí vai.. Mas de qualquer forma eu me mascarei, e sei que e minha culpa.

  49. Este tema do personagem Cirilo já esteve presente em alguns debates informais. Me perguntava como e porque ele escolhe ser infeliz e quase rastejante o tempo todo… Pq existe o Cirilo? Na novela, na vida…
    Em várias situações da novelinha, nada infantil, ele é humilhado e a tal paixão norteia uma vida de sucessivas frustrações. Mesmo quando vence em alguma situação espera ansioso o reconhecimento da Ma. Joaquina.
    Eu tenho um filho de 17 anos e estou esperando uma menina, este tema está em minha cabeça desde sempre. Hoje tento ser uma mãe presente e ativa e falar sobre isso é delicado tanto com meu filho quanto com as amigas adultas. Sem dúvida há muito o que pensar sobre o tema, que não é banal ou restrito ao fato de sermos negrxs. É sobre autoestima, desejo, comunicação, afetos…

    1. Bom, comigo acontece o mesmo, ainda que no perfil eu diga minhas preferências. As vezes acho que elas me procuram por uma certa “obrigação”, por acharem que serão mais aceitas por outra negra, isso confirmaria sua tese de que estariam “sobrando”, daí qual a solução? Aderir às “sisters”. Mas é complicado, pq eu realmente sinto atração por brancas, não é por mal, mas já fiquei com negra e negro e não me moveu nada. E detalhe: a ÚNICA negra por quem senti atração, me rejeitou 🙁 .

  50. Esse tema é muito delicado, me fascina e me intriga. Sou branco e hetero e pus minha cara a tapa num site de relacionamentos. Uma das coisas q mais me intrigou foi q , de cada 10 cantadas q eu recebia, 8 eram de negras. Eu nunca escrevia pra elas e pensava pq elas me escreviam. As brancas mesmo nunca escreviam, só se fossem bem mais velhas q eu. Acabei pesquisando e li vários artigos sobre a solidão da mulher negra. Se ela tiver então curso superior, encalha mesmo…

    1. Verdade. Eu sou prova disso. 30 anos, advogada, me acho bonita. No entanto, preterida pelos negros, preterida pelos brancos. Vida que segue. Mas me recuso a sair me atirando nos braços de qualquer um. Meus únicos 3 relacionamentos provam o fato. A máxima ” antes só do que mal acompanhada” me dá forças e me faz prosseguir com integridade. Mas que a solidão dói, ah, dói!

  51. Eu venho acompanhando o blog nas ultimas semanas e lendo alguns textos. Eu sou branca (quer dizer só na pele) porque não acho que exista um brasileiro branco… Por que essa frase “esse negócio de raça é bobagem, somos todos humanos” estaria errada? Eu sempre achei estranho essa conversa de raças e desde jovenzinha questionava sobre o termos raça, racismo, racial… Acho que não se reconhecer como negro é uma coisa totalmente diferente de achar bobagem a palavra “raça”…

    1. “Por que essa frase “esse negócio de raça é bobagem, somos todos humanos” estaria errada?” Teoricamente ela não está errada, Jéssica, biologicamente somos todos humanos. O problema é que o conceito de “raça”, há muito superado na biologia, se expandiu para muito além de um conceito científico, e se tornou um importante tópico social, isto é, partindo desse conceito científico, se tornou um conceito social, com todas as implicações políticas e sociais que impactam fortemente o modo como nossa sociedade se organiza. Isso quer dizer que ele agora serve de pano de fundo para justificar coisas como a pretensa separação entre indivíduos pela aparência física, e a suposta inferioridade e uns e a superioridade de outros. É o racismo. Quando alguém pensa nesses termos dessa frase acima, quase sempre a pessoa está pensando assim, ou seja, em negar que haja racismo e exclusão na sociedade, e que portanto é mera coincidência inocente os números do IBGE nos mostrarem claramente que há um enorme abismo entre aqueles com aparência branca e os com aparência negra. Negar o racismo é apenas afirmá-lo tanto quanto um neonazista qualquer, já que continua-se fingindo que está tudo bem quando não está, e omissão também é uma escolha. A diferença é que o neonazista afirma isso com todas as letras, ao passo que a pessoa que a nega o faz indiretamente, para “disfarçar”. Você está certa em pensar assim, mostra que tem sentimentos humanitários, porém não caia no perigo de achar que não há preconceito racial, pois há. É preciso apenas tirar o finíssimo véu que oculta as toneladas de rancor e ódio racial que a sociedade infelizmente nutre.

    2. Não sei se sou a melhor pessoa para te explicar isso não, pq é um texto que eu não escrevi. rs Mas assim, a ideia de raça não é biológica, é social. Leia estes: http://blogueirasnegras.org/2013/09/19/deixa-eu-tentar-te-explicar/ e http://blogueirasnegras.org/2013/09/06/da-preferencia-ao-racismo/ Se você continuar lendo os textos daqui, vai ver uma que a ideia não é “uma bobagem”. A tecla aqui é uma só: gostos não são naturais. Racismo não é natural. Tudo isso é aprendido socialmente. Seja em casa, na escola, vendo tv. Não somos todos seres humanos se são os negros que não entram na universidade. Não somos todos seres humanos se são os negros que precisam modificar seus cabelos para serem aceitos. Não somos todos humanos se são os negros que têm “cara de empregada”. Ou que morrem mais pela polícia. Ou que morrem mais em clínicas de aborto clandestino. Ou que são chamadas de feias por terem cabelo crespo e nariz de batata. Entende? Não somos todos iguais. Alguns são mais iguais que outros.

  52. Muito bom o texto. Parabéns. Me identifico muito pois minha história era muito parecido com o personagem do Carrossel. Não entendia porque nunca ligavam pra mim. Depois de crescer e me dar conta disso, aconteceu o inverso comigo: começei a ver as mulheres negras com outros olhos: Lindo o crespo, a pele, a boca e tantos atrativos que caiu a “venda” do padrão europeu. Minhas ex naoradas são a maioria negras. Fiquei feliz de ver que não era só comigo, mas é importante desmistificar esta idéia pra que outros não vivam o mesmo. òtimo 2014 a todos.

  53. É…ta aí um assunto delicado e dolorido. Sou lésbica e enfento muito esse preconceito por parte das mulheres.

    Quando tinha 16 anos, naquela fase de descobertas, conheci através do chat uma moça do interior de SP. Sofrendo de aborrescência, comentei que achava que ninguém gostava de mim. A resposta dela foi “por que não gostam de você, você é negra? É caolha?” dentre outras coisas que para ela seriam motivos suficientes para maltratar uma pessoa.
    Hoje em dia não mudou muito. Nem todo mundo é assim tão direto (apesar de eu já ter ouvido em uma festa de uma garota no mínimo parda que ela , “linda e branca nunca perderia tempo com uma preta”), mas sempre tive problemas em ter relacionamentos estáveis, uma dificuldade maior que a média das minhas amigas homossexuais e que só encontra paralelo na minha única amiga que também é negra e lésbica.
    Tento conversar sober isso com minhas amigas brancas, mas não tem jeito. Sempre ouço a retórica de sempre: “é mania de perseguição sua”, “é questão de preferência”, “não rolou atração” e por aí, mas será que é mesmo só isso? Eu duvido muito.

    1. A Larissa deve escrever, um dia desses, um post sobre isso: casais inter raciais homossexuais. Raro ver um casal negrx. Usualmente há um negrx e um brancx. Tenho uma amiga militante, negra, gorda e lésbica. E é bem o que ela reclama. É ainda mais complicado encontrar uma companheira.

    1. Mabia, estou ansiosa para ler esse artigo da Larissa sobre “casais interraciais homossexuais” , já que admiro esse tipo de união em qualquer tipo de amor, seja ele bissexual, homo ou hetero.

  54. Que bárbaro, que um texto tão bom tenha sido escrito por você (mulher negra, jovem inteligente e capaz), pois sempre que toco neste tema as pessoas me olham esquisito, como se só eu notasse tal fato. E inúmeras vezes reagem como o problema estivesse em mim, ou seja, como se houvesse em minha pessoa “motivos” para sofrer a rejeição.

  55. Tenho 19 anos, sou classe média e sempre frequento lugares “de brancos”, acho incrível como as pessoas mais velhas independente da etnia delas me chamam de linda, e me elogiam, etc. Mas quando estou num ambiente de jovens e estou com minhas amigas (todas brancas, no máximo morenas), e eu, a única que usa tranças nagô, sou a única que não sou paquerada por ninguém, por incrivel que pareça, tem gente que chega só para dizer que eu sou linda e simplesmente sai depois…. Não sei como me sentir diante disso sabe? Não mostro como isso me afetasse, mas de uma certa forma afeta, você não se acha suficiente.. o fato de suas amigas terem o cabelo loiro ou liso já é um fator para conhecerem alguem numa festa!
    Sinto-me mal porque sei que indo “no outro lado” da cidade eu não teria a mesma receptividade sabe? Mas o que me fere é a necessidade de ir para um outro lugar para ser elogiada?! Porque não onde eu pertenço (ou deveria pertencer), se vai numa festa na minha cidade e tem cada negra linda que as loiras bonitas nem chegam aos pés e poucas estão com alguem do lado, excluindo o fato que isso pode ser opção, os negros estão procurando pessoas de pele mais clara, os brancos mais ainda e nós negras ficamos como ultima opção se é que somos opção para alguém. Fico triste porque sei que o problema não está em mim, mas porque não eu?! Ninguem tem noção no quão humilhante é sair com as amigas e ser a mais elogiada, mas a unica que não fica com ninguem!

    1. Sinceramente? Sugiro mudar de turma. Encontre um lugar onde você é bem acolhida. Faz bem para a alma. Não digo para “se livrar” dos amigos, mas faça mais amigos negros, encontre uma turma com mais negros, vá a festas negras.

    2. Julia, sofria do mesmo ‘mal’ na sua idade, ao contrário que você é elogiada. Saia com minhas amigas todas brancas e não levava cantada nenhuma em determinadas boates e festas. A Mabia está certa, tente procurar festas onde há mais pessoas negras e tente achar espaços na escola/universidade/cursos/centros culturais e etc onde haja um público mais diverso. Vc não precisa necessariamente ir para o ‘outro lado’ da cidade, embora isso também seja válido, mas vc pode encontrar lugares onde diferentes ‘lados’ se encontrem.

  56. “De saber que você não beijou
    Aquela moça linda, só por causa de sua cor
    Isso não é assim pois o mesmo deus
    Que cuida de você também cuida de mim
    Além do mais sei que sou capaz de compreender
    O porquê que você age assimm
    É espinho no coração ou então é medo de mim”

    Dialetos da Paz, Natiruts

    Patético o preconceito, as negras e as mulatas são maravilhosas e lindas. O cara tem que ser muito zé mané mesmo pra rejeitá-las apenas por causa da cor.

  57. Olá Mábia, até que enfim alguém que pensa como eu…e ainda te digo mais, vc reparou como o casamento de papel passado está super presente na vida dos caucasianos??? Quando se trata de mulher negra, só sobram os homens com pouco estudo, ignorantes, com vícios e que acham que agente não se importa com casamento formal e que apenas juntar os trapos é suficiente!!!!Falo isso com propriedade!

    1. Infelizmente é verdade. Me sinto pouco atraída por homens que não possuem muito estudo ou interesses em comum. Pior ainda quando são machistas. Aí fodeu. Prefiro ficar só.

  58. Adorei. Conversava sobre isso outro dia com duas amigas. Uma delas me mandou um sms dizendo “Acabei de ver três caras negros com suas namoradas. Branquinhas, cabelo liso, etc. Iguais a do seu ex. Não sei onde esses caras arrumam tanta mulher igual, será no groupon ou groupalia?” E nós rimos. Sou negra e esse moço a quem ela se referia não tinha o “hábito” de ficar com negras antes de mim. Nunca namorou uma moça negra em toda a vida. Comportamento repetido por meus irmãos, amigos e primos negros: suas namoradas são, na maioria, brancas. Ao comentar sobre esta conversa com uma segunda amiga, ela indignada disparou: “Mas o que é isso? É pra se autoafirmar?” E eu disse “Isso? Isso é o tamanho do racismo introjetado.” Perceba que até mesmo essa percepção do “autoafirmar” parte de uma premissa racista. A turma do “gosto pessoal” e do “deixa disso somos todos humanos” não tarda em me chamar de paranóica, como você disse. Esquecendo talvez que raça como conceito pode até não existir na biologia mas encontra todo respaldo socialmente. Que o que não é nomeado não é visibilizado. E que a opressão guarda um lugar todo especial para o oprimido tomar o discurso do opressor e reproduzi-lo.

  59. Realmente e infelizmente é uma realidade com a qual ainda nos deparamos. Venho de uma família bastante “misturada”, onde minha vó é negra dos olhos verdes, seu irmão é negro e ainda tem a irmã loira dos olhos azuis. Eu sou morena, meu irmão é loiro. Tenho uma prima que que é negra, do cabelo cacheadinho, daqueles que demoram pra crescer, ela aos 5 anos já reclama o quanto gostaria de ter o cabelo grande e liso. Recentemente, ganhou uma irmãzinha – esta portadora de síndrome de down – e minha prima começou a falar que gostava da irmã porque era branquinha e não gostava dela mesma, porque era preta. Não sei da onde ela absorve esses conceitos, da tv ao assistir Carrossel? Se dos coleguinhas da escola? Mas fato é que uma criança de 5 anos comete bullying a si mesma.

  60. Bem, eu sou branco e não tenho nenhum tipo de racismo com negras, inclusive “EU” pessoalmente prefiro as negras; principalmente quando elas se assumem, fraga? deixa o cabelo natural, seja ele cacheado, crespo e etc e pá. (fica chique demais)
    Sei lá, eu gosto das “mulheres” em geral como elas são.
    Eu amo muito a beleza incrível e natural das negras, não que quem alisa o cabelo não fique bonita, mais é minha opinião pessoal, claro.
    E eu penso que quando se tem Deus no coração, você tem amor dentro de ti… então? Você pode amar alguém, e amor sempre vencerá; uma relação aonde o homem e a mulher amem e respeitem à Deus, e busquem algo verdadeiro entre si, vai dar certo. Pois NADA supera o amor! (:
    E na boa eu acredito que possa haver amor verdadeiro entre um branco e uma negra; entre um negro e uma branca e etc e pá. Bem é isso. Saudações respeitosas a todas vocês!
    Tô conhecendo o blog agora, tô curtindo; tem um conteúdo inteligente.

  61. A negra com “alma branca” que mora em um “bairro branco”, estudou em “escolas brancas” e é noiva de um branco, não tem lugar, não pertence a ninguém, nem os brancos a abraçam, nem os negros. Brancos dizem que negro não pode ser bem sucedido, negros dizem que negros não podem ser bem sucedidos… sei bem como é, sou essa negra. Mas e daí? Não tenho um nicho… tenho acesso a todos no fim das contas.

  62. Ótimo texto, percebi isto quando meu irmão casou-se, a família da esposa dele(branca), é claro que não falava, mas tinha uma certa resignação, só o “aceitaram” na família porque ele é advogado. Percebo que o negro sempre precisa ter uma vantagem para que seja aceito e quando a tem, acabam se casando com mulheres brancas. E existe também aquele mito que toda negra gosta de loiro, sempre tentaram me vender esta história.

  63. Para ser um negro feliz na sociedade brasileira temos que nos
    libertar dos discursos racistas que imperam sorrateiramente e nos leva a
    nos sentirmos menores, e um deles é o que negro procura branca para
    casar. Uma vez ouvi uma pessoa dizer que o negro casa com alguém de sua
    classe social como qualquer pessoa e acredito que é isso que acontece.
    Sou negro estou terminando minha segunda faculdade e pela primeira vez
    na minha vida acadêmica, escolar, tem uma negra na minha sala, ou seja,
    quanto mais vc sobe socialmente menos negros vc. encontra e não da para
    casar com alguém so pq é negro vc tem que ter afinidades. Já imaginou
    como deve ser uma candidata a esposa do ministro Joaquim Barbosa, será
    que basta ser negra ou deve ser muito culta também? Acredito que o negro
    tem o direito de namorar e casar com quem ele quiser, branca, negra,
    japonesa, etc, como qualquer pessoa. Nos EUA vc tem uma maior
    estratificação social o que permite encontrar muitos negros em várias
    camadas mas no Brasil é um discurso racista para minar a felicidade das
    pessoas. Nas camadas pobres tem mais negros casados com negros pq,
    infelizmente, temos mais negros pobres que ricos.Ao invés de
    pensar que faltam negros acredite que existe um amor para vc
    independente de sua cor, alguém que lhe ame e lhe respeite
    verdadeiramente independente de cor.

    1. Acho que em alguns pontos você está certo sim. Primeiro, realmente não dá pra generalizar achando que homens negros/mulatos costumam procurar mulheres brancas.
      E, de fato, as pessoas têm o direito de ficar com quem desejarem. Mas, por coincidência (?!) ou não, a maioria dos brancos não se relaciona com uma negra/mulata. E há negros/mulatos que também SÓ procuram mulheres claras e de cabelo liso, o que é o fato comentado aqui. A discussão trazida é, em parte: será isso de fato escolha pessoal ou a busca por uma mulher com o padrão de beleza imposto aqui e a busca por status social?
      E lembro da sua frase “quanto mais vc sobe socialmente menos negros vc. encontra e não da para casar com alguém so pq é negro vc tem que ter afinidades. “… bom… claro que no seu dia-a-dia vai encontrar maiormente pessoas (quaisquer que sejam) de sua classe social, mas alguém (qualquer pessoa) ser de outra classe social não é necessariamente um problema para estar juntos.

    2. Acho que você não compreendeu o que eu disse. Ou compreendeu e se ofendeu. Neste caso, ofender faz bem. Incomoda. Não é um discurso racista falar que negros de nível cultural e social mais elevado se casam com brancas. Discurso racista é dizer que isto é normal e que deve ser buscado, com a ideia de que “raça não existe”. E, infelizmente, você está reproduzindo tal discurso. Entenda: não ter muitas negras na sua sala de aula não é uma coisa boa!! Lute para quem tenham mais como você, e não se conforme de ter de conviver apenas com pessoas brancas, pq estas têm o mesmo nível cultural que o seu. Apesar de não achar que a esposa do Joaquim Barbosa necessite ser juíza também, ou algo que o valha, entendo que seria improvável um relacionamento de um juiz com uma pessoa iletrada. O que questiono aqui não é ter apenas uma negra na sua sala. O que questiono é: você, negro, se sente atraído por mulheres negras? Ou como muitos oprimidos pelo padrão que a sociedade nos impõe também acha as brancas e loiras mais bonitas? É esta reflexão que sugiro que faça…

    3. a namorada do ministro Joaquim Barbosa é branca, de cabelos lisos e castanhos longos, e nova… mas é culta como ele!

  64. Já tinha lido seu texto e fiquei realmente emocionada, mas vim contar sobre uma experiencia que vivi ontem na minha escola. Mesmo sendo classe média como você disse é verdade sofro muito preconceito. Estudo em uma das melhores escolas de meu estado e não é facil pois sou praticamente uma dos poucos alunos negros na escola. Digo isso pois já contei e chega em torno de dez numa escola de mais de 2.000 alunos. Ontem durante o intervalo conversava numa mesinha com uma amiga normalmente e tinham alguns outros alunos que me pareciam ser do 1° ano do ensino médio ou do d=fundamental pois eram mais novos. No meio da conversa deles escutei eles dizerem “uma ‘nêga’, kkkkkkkk” e perguntaram para uma das meninas na roda “imagine você chegando em casa com um negão” ela:”acho que minha mãe me matava kkkkkk” um outro”credo não gosto de negâ não” ai uma menina “ei se lige a tem uma aqui do lado” falou num tom que era p todo mundo tomar cuidado com o que estava falando e senti todos olhando para mim e eu outro continuou ” credo não gosto não quero é uma galega, uma loira” e passou por nossa essa e gritou “quero é uma gaucha!!!!” e saiu rindo. Um outro garoto levantou se da mesa e disse “bom eu vou saindo que não gosto dessas coisas não” e outro foi junto e ficaram todos rindo. Minha amiga percebeu mas não demonstrou nada, ambas ficamos constrangidas, mas fingimos que nada tinha acontecido e continuamos conversando. Me pergunto se quem tem condições melhores não sofre com racismo mesmo, estudar em uma boa escola muitas vezes me mostra o quanto o racismo é pior nas classes superiores. É como se eu estivesse onde não era para estar. E o racismo não está só nisso é quase constrangedor ver como minhas amigas são paqueradas e desejadas por outros garotos e eu não sou apenas “gente boa”. É meio óbvio o motivo de ninguém querer ficar comigo. Imagina algum garoto da minha escola chegar e me apresentar para os pais???

    1. Acabei de conhecer o seu blog. Muito bom seu texto. Parabéns! Ótima abordagem, conheço homens negros que negam a veracidade desta questão, mas o relato contido nas linhas dos seu texto é algo bem real sim, infelizmente.

    2. Chorei ao ler seu comentário, minha amiga é negra e já passou por isso, sei o quanto ela sofreu, enquanto nós frequentávamos lugares de “classe média alta”, shoppings, restaurantes, eventos, sempre acontecia de me paquerarem e ela não. Mas já aconteceu o contrário também, como uma vez falaram pra nós “mulher boa é mulata do corpão bonito, não esse tipinho que não abre os olhos, sem cor, sem sal, sem graça”, óbviamente a mulata linda era minha amiga e a sem graça eu, mas nem sei se isso é considerado um elogio, devido a tamanha vulgaridade das pessoas… Eu pessoalmente ponho a questão da alto estima na mesa, conheço uma violinista de classe média alta que é uma pessoa maravilhosa e lida muito bem com o preconceito, dá de 10 a 0 em pessoas que tentam diminuí-la ou fazem isso sem querer, você só precisa aprender a não se abalar com esse tipinho de gente, pode ser difícil mas um dia todas nós conseguimos.

    3. Não é tão simples. E dizer que é a vítima que tem de se curar, que tem de ignorar, é bastante cruel, não acha? Uma criança não tem culpa de ter nascido num mundo racista. Se ela não tiver quem a apoie em casa, se na escola a tratarem com condescendência e ela só tiver modelos na tv e revista em que se espelhar, como esperar que essa pessoa tenha auto estima suficiente para se defender? É preciso mostrar às pessoas o quanto o comportamento delas é errado. Não dizer ao negro que ele tem mais de ser forte. Algumas pessoas tiram de letra? Ótimo! Mas duvido que não magoe, mesmo assim. É um saco ter de lutar todos os dias contra uma horda inteira de pessoas, às vezes pessoas que amamos, nos dizendo que somos inadequadas.

    4. A vítima tem que se curar de quê? Ela não tem nenhuma doença, apenas uma baixa estima. E não, não acho nem um pouco cruel ignorar, desde criança eu era a gordinha asiática que servia apensa pra passar cola pros coleguinhas de classe, eu estava nos “padrões” da sociedade? Não, e acha que foi fácil estudar um uma escola onde eu era uma das únicas japonesas? Também não. Eu tive que aprender a lidar com críticas, zuações, solidão e principalmente auto estima. Quem a mantem elevada não se deixa abater quando um monte de idiotas tentam o por pra baixo. Está certo que muitas coisas ainda precisam mudar no mundo, mas começar por si mesma é um grande e o melhor passo a se dar.

    5. Por falar em síndrome de cirilo, hj no fantástico, o jogador Tinga vai falar do incomodo de estar acompanhado de uma mulher loura e ser criticado, vamos aguardar!

    6. O que te chama de sem graça não o faz por você, mas por achar que sua amiga (pelamordedeus jamais chame uma mulher de mulata, ela não é filha da mula!), por ser negra, deve ser sexualmente mais interessante que você. É um estereótipo nojento, que ainda coloca a “mulata” como a mais “fogosa”, a que trepa melhor. Mas se ele for casar, é com vc, a “branca sem graça”, não a mulata. A negra serve apenas de diversão. Portanto, tentar diminuir o sofrimento da sua amiga com um “até que isso acontece às avessas” não resolve o problema. Só mostra que você ainda não o entendeu. E ok. Você é branca, jamais vai passar pelo que nós passamos. Assim como eu, negra, jamais vou saber como é não ter de me preocupar com o que o meu futuro empregador vai achar quando descobrir que sou negra.

    7. Em momento algum eu quis chamar alguém (minha amiga!!!) de filha mula ok? Ela mesma usa essa palavra e outras mais e não se sente ofendida. Também não tentei diminuir sofrimento algum, não sou eu quem tem de fazer isso, apenas relatei o que aconteceu, e infelizmente existe preconceito de ambos os lados, ou você acha que eu nunca sofri preconceito também?

    8. Reenviando o comentário que tentei te responder no seu post de 21 de junho de 2013:

      Sei exatamente como vc se sente, pois me sinto da mesma forma que vc, parece q nunca sou boa pra ninguem, e quando aparece alguem, ou é alguem q não me atrai, ou quando eu sinto algo mesmo q superficial, a pessoa parece que desiste…. vejo minhas primas casadas, com filhos, e eu ainda em filhos. Enfim, sou bissexual, mas ao longo da minha vida fiquei com poucas pessoas, os caras só queriam ficar e talvez só sexo comigo, as meninas que curto, parecem preferir outras diferentes de mim. Não tive nenhuma relação duradoura, apenas um namoro de 3 meses com uma guria, mas mesmo ela tendo se interesado, ela mesma o terminou, sem muitos motivos plausiveis, justificáveis (e ela dizia que adora mulheres morenas e negras, ela é branca meio mestiça) não é possivel que o problema esteja somente comigo. Pior q parece ser uma situação sem solução, onde as pessoas que me fariam me sentir bem não farão nada e não posso forçar as coisas. Acho que de nada adianta só a gente se valorizar se não encontramos quem goste de nossas caracteristicas físicas e de personalidade, não importa o que digam, pois não passa de teoria, há pessoas q tem realmente mais facilidade para atrair quem desejam, sem muitas complicações, enquanto outras, por melhores e encantadoras que sejam e por mais que se esforcem para ser notadas e valorizadas pelo que são e tem, lutam em vão, continuam a ser ignoradas e sem uma chance. O advento da net dificulta para as pessoas q tem maior dificuldade de conhecer pessoas em um ambiente que se possa conviver para ser percebida, pq na net todos olham logo a aparência, se vc não conseguir chamar atenção por ela na net, será facilmente descartada, não importa teu nível de inteligência, fato.
      Outra observação: de onde vc é? Eu sinceramente acho que vc deveria sair dessa escola, pois não está te fazendo nada bem esse meio, só está piorando suas crises de baixa auto-estima E como assim, tua amiga te viu ser discriminada e nem te defendeu?? Não acho que mereça isso.
      Às blogueiras, espero que meu coment seja aprovado desta vez.

  65. Olá!
    Vou deixar o meu relato. Sou “branca” (coloquei as aspas pq tenho a pele branca, cabelos ondulados, enfim, aparentemente sou branca) e meu último namorado era o típico mulato que aprendemos nos livros de história: pai branco (incluindo cabelos claros) e mãe negra. Pelo que entendi da história, a mãe o teve muito nova e ele foi criado pelos avós paternos, ou seja, a família branca. E assim ele cresceu. Nunca namorou/ficou/flertou uma negra/mulata/parda. Somente as branquinhas. Alisava os cabelos e tinha vergonha da família da mãe. Era racista enrustido. Um dia contou um caso para um amigo e usou essas palavras:
    “Aí ela tava se achando né, aquela neguinha favelada.”
    Quando ouvi aquilo, parecia que o mundo parou de girar. Cara, como assim? Sua mãe é negra, você mora num bairro de periferia e vem ofender uma menina chamando-a de “neguinha favelada?”
    Quando estávamos em algum lugar público e algum negro fazia alguma bobagem (seja no trânsito, shopping, restaurante) ele olhava pra mim e passava a mão no braço como quem quer dizer “tinha que ser negro”…
    O namoro durou longos 3 meses.
    Outro relato é de um amigo que também é mulato e foi criado por uma família de alemães (descendentes). Também só procura meninas brancas, e tipo, BRANCAS mesmo: loiras, cabelos finos, olhos claros…

  66. Oi gente!
    Gostaria de parabenizá-las pelas iniciativa do blog, pela coragem…pela força de sempre seguir buscando a mudança dos padrões impostos.
    Bom, vou deixar meu breve relato…sou branca, gorducha, tenho sardas, um cabelão preto indomável rs…enfim, não preencho nenhum esteriótipo de beleza mas me considero bem simpática. Teve uma vez que me apaixonei por um rapaz branco e por algum tempo fomos felizes…mas sei lá acho que perdi a mão e não soube conduzir bem o relacionamento além do fato de termos interesses diferentes naquele momento que ultrapassavam a vontade de permanecermos juntos, enfim nos separamos.
    Esse meu ex namorado começou a fazer faculdade e tão logo fez amizade com uma moça da sua sala, negra e muito bonita, muito mais que eu…creio que a amizade deles tenha evoluído muito além do convívio na sala de aula e eles ficaram juntos de verdade, não tenho detalhes porque sempre sofri com tudo isso, sempre me senti muito inferior a essa moça, fisicamente, intelectualmente…acho que minha história vai contra várias outras que li aqui porque por muitas vezes quis ter o corpo, a pele, os traços e o cabelo da moça negra que sempre me pareceu muito mais interessante e segura que eu…queria ter aquela autenticidade que até então não tinha encontrado em mim, tive que trabalhar bastante a aceitação pra vencer esse complexo de inferioridade que sentia, hoje nos enxergo como diferentes e bonitas cada uma a seu modo…mas demorou muito pra eu entender isso, eu tinha a impressão que esse meu ex “endeusava” a moça pelas razões dele e pelo mérito dela com toda certeza…
    Enfim, meninas…nem ele, nem eu…brancos que somos…em nenhum momento vimos a moça com olhos preconceituosos, por isso peço esperança, há uma sociedade melhor sendo construída, mesmo que no silêncio de cada casa, dentro de cada um de nós.
    Digo por mim, pois quando converso com alguém, busco valores, busco experiências, busco carinho, busco histórias pra dividir…a cor da pele, orientação sexual…não são detalhes relevantes, pra mim vale essencialmente o que vem de bom do coração.
    Um grande abraço!

  67. Olá, passo apenas para dizer que adorei seu post! Realmente, é um assunto que dá pano pra muita manga mesmo. Gosto da parte em que você diz que, mesmo inconscientemente, acabamos selecionando alguns traços de padrões de beleza.

  68. Simplesmente adorei o texto! Parabéns pela forma como vc o construiu, são questões tão cotidianas e parece tão obvio, mas muitas vezes é tão dificil verbalizarmos e iniciarmos um diálogo sem sermos taxados de ativistas… São tantos aqueles que nos cercam, que compõe nosso circulo familiar ou de amigos que, como vc muito bem aponta no texto “Não se reconhecem como negros ou acham que “esse negócio de raça é bobagem, somos todos humanos” Estou te seguindo a partir de agora!! Bjo bjo

  69. Olá, Mabia Barros, parabéns pela argumentação, o tema é ótimo e deve ser refletido por todos que acalentam alcançar a plenitude da Consciência Negra. Sempre haverá casos e casos. Creio que, tanto da parte da mulher como da parte do homem, poderá existir dificuldade de acesso à simpatia de um(a) pretendido(a) semelhante por etnia. Por outro lado, parece-me ser mais comum a mulher Negra ser cobiçada e amada pelo branco que o homem Negro ser cobiçado e amado por mulher branca (as exceções estão nos casos daqueles que alcançam o sucesso da fortuna econômica ou profissional). Entretanto, de um modo geral, é de observar que, quando um homem branco ou uma mulher branca busca ou mesmo aceita o relacionamento com uma mulher Negra ou um homem Negro, o fazem pelo fato de não terem obtido sucesso com pessoas de sua própria etnia. Por outro lado, quando um Negro e uma Negra descobrem a possibilidade de se amarem, com certeza, a chance de serem felizes é para sempre.

  70. Eu acho que isso está acabando aos poucos, mas eu estava me perguntando esses dias…Quantos casais com mais de 60 anos agente conhece que um é negro e o outro é branco?
    Isso é muito recente no Brasil, por mais estranho que pareça pq somos um país negro…O que as pessoas fizeram com o amor antes de termos essa liberdade de escolher nosso amado(a) sem ser pela cor da pele? Quantos amores não foram sufocados?
    Amei o texto! bjos

    1. Sempre pensei nisso Adriana! O lado materno da família é todinho descendente de japonês e o paterno é negro ou mulato, sinto como se eu e meu irmão fossemos o começo de uma nova etapa.

    2. Não é bem essa a discussão aqui. Ninguém é contra o amor. E acho que deixo muito claro isso no texto. Não estou falando de amor. Estou falando de pessoas. E pessoas se envolvem baseado sim em coisas que aprendemos e reproduzimos socialmente. O fato de que negros se casavam com negros e casamento inter racial era proibido até por lei não diminui o fato de que, com o “poder de escolha”, a mulher negra passou a ser a última das alternativas. Não somos as mais interessantes, pq não temos valor socialmente. Não demonstramos ascenção ao casarmos com um negro. Quando casamos.

    3. Mabia, o que acontece com um comentário meu que está em moderação a 24hs? Por que os outros foram?

    1. arney, o fato de você ser preterido por mulheres negras (ou ao menos acreditar nisso) não justifica sua generalização. aliás, estatisticamente, mulheres negras se relacionam mais com homens afrodescendentes (o que inclui o seu perfil “mestiço”) do que com brancos. o mundo é maior que a sua auto-avaliação.

  71. > Continuando… Esse desprezo que os homens brasileiros tem por nós estão em todos os lugares: trabalho, faculdade, igrejas, academias de ginastica…..e infelizmente a maioria das mulheres negras esta condenada a solidao, a tristeza e futura extinção nesse pais. (Talvez a unica saida seja tentar a sorte em terras estrangeiras…de toda forma o futuro a Deus pertence e que Ele tenha compaixão de todas nós.)

  72. Sou negra, tenho 28 anos, sempre fui da classe média e confesso que nunca namorei. Muitas vezes fico pensando o que há de errado comigo? Sou magra normal, meus cabelos são bem cuidados, tenho traços finos(digo isso porque muita gente acha que isso é um fator positivo mas não é) e msmo assim me sinto feia. Bom, me visto de forma normal, dentro dos padroes aceitaveis, porem não uso decotes, ou seja nao chamo a atenção. Enfim, creio que atualmente os homens se tornaram completos intolerantes e preconceituosos tanto negros quanto brancos em relaçao a mulher negra: para ter um relacionamento de que tipo for, se voce não é branca loira ou morena com cabelo tipo de india, voce é logo descartada, a maioria tem a visao de que toda mulher negra é favelada( funkeira, barraqueira, semi-analfabeta), que é a ‘cara da riqueza’ que não e digna de respeito, de amizade, de nada; se voce muda seu cabelo( ou alisa, ou tinge) voce tem vergonha da propria raça e não porque voce tem o direito de fazer o que quiser com ele; alem disso tem que ouvir comentarios jocosos e infames de que se é feia pra c* e ao mesmo tempo é boa de cama, só serve pra isso e tals de pessoas que nunca falaram com voce ou ao menos nem sabem seu nome….Digo tudo isso porque, infelizmente, passei por essas e tento > experiencias, sei que nao sou a unica. Enfim, evito ficar pensando no amor para evitar sofrimento

    1. Janaina, também não tive muitos relacionamentos. Hoje em dia tenho o “defeito” maior de ser feminista e militante da causa negra. Politizada demais… rs. Mas se tem algo que aprendi, ainda mais nessa minha busca feminista/militante, é me ver bonita. Linda, na verdade. Não acredito em falsas modéstias. Ver no espelho quem eu sou e me sentir bem com isso é poderoso! E ninguém tem como roubar de você. Não acredito que não tenha nada em você, no seu rosto, que você não goste. Pois se olhe todos os dias no espelho e diga: sou linda!

      Quanto aos cabelos, eu acredito piamente que o desejo de mudar vem de estar incomodado consigo mesmo. Inventaram para a gente que a gente tem que gostar de mudar. Não precisamos não. Manda a JLo mudar de cabelo? Ou a Juliana Paes? Grazi Massafera? Pois é… Alisar então! Não acho que seja alienado quem alisa, desde que este saiba pq está alisando. Eu pinto meus cabelos pq me sinto velha de cabelo escuro. Mas sei muito bem que sou manipulada, ainda, pela indústria que nos quer todas jovenzinhas. Vemos muitas imagens na TV e cinarma, por isso algumas alisam. Outras acham ser mais prático. Não vejo nada mais prático que o meu cabelo, q eu acordo, puxo o que amassou no travesseiro pra fora e saio. 😉

      Leia meu blog, o Maxibolsa, lá eu falo de beleza negra e autoestima.

    2. Tenho 18 e vejo que não sou a única. Vejo todo mundo ficando, namorando e eu nada. Acima de tudo além de não me encaixar nos padrões estéticos sou negra. Praticamente todas as minhas amigas são brancas e parece que vivo num universo paralelo ao de todas. O pior é não se sentir desejada e quando sou é somente como um objeto, um ser vulgar que nunca “servirá” para um relacionamento sério. Parece que você já nasce escrito na testa “barraqueira, mal educada e vulgar” na testa. Sinceramente as vezes repenso na minha existência, se nascer para aturar certas coisas valeu a pena.

    3. Janaína talvez vc seja uma mulher alfa dominante e mulheres alfa dominante assustam os homens. Quando se diz que homens gostam de mulheres meiga, doces e essas coisas, na verdade no meu entendimento eles gostam de mulheres com energia baixa( na natureza existe energia baixa. Energia média e pessoas de energia alta que são as alfa dominantes). Essa é uma psicologia baseada na natureza e na psicologia canina que pode ser aplicada para humanos.
      Por isso mulheres muito independentes demoram mais para arranjar companheiro.

  73. Agradeço a Mabia por trazer o texto para reflexão, pois a questão faz justamente pensarmos em diferentes direções, e ao Rafael pela amplitude que conferiu a mesma indo além. Acredito que a consciência do racismo e outras formas de desigualdade tocam-nos a nós negros profundamente,por vivenciarmos situações cruéis as mais diversas.A consciência crítica para essa realidade, fez-me junto com a indignação contra o sistema e a vontade de modificá-lo, a voltar-me também para mim mesma, para um sério trabalho de auto-conhecimento levando em conta a minha particularidade e a interação com um universo tão plural. Por isso, não concordo com generalizações de qualquer natureza e acredito e experiencio que “amar é humano” sim, depende de como a pessoa está nessa relação. Sou negra e tenho como companheiro de vida um “branco”, e nos vemos apenas como um casal: no nosso caso, um homem e uma mulher que tem identificação de alma e se amam. Todos escrevemos a partir do lugar que ocupamos e falamos sócio-cultural e econômico, mas com visão mais ampla ou estreita, esta sim gerando e perpetuando preconceitos. Reitero a complexidade da discussão sobre relações interraciais (como das relações humanas em geral…) e o diálogo sempre tende a enriquecer, sendo saudável sem sectarismos e generalizações que acabam fazendo-nos perder a dimensão da nossa essência como… ser humano. “Conhece-te a ti mesmo” (Sócrates).

    1. Sim. Não posso responder por todas as relações, mas não posso analisar caso a caso. O importante mesmo, e o que me traz aqui, é fomentar a discussão, provocar, fazer as pessoas sairem de suas zonas de conforto. Espero que leia minha resposta ao excelente comentário do Rafael. 🙂

  74. Muito bom o termo cunhado (“Síndrome de Cirillo”), sei bem do que você está falando. Ótimo texto.

    Só que tenho uma observação. Uma coisa que discordo e muito desse texto (inclusive acho perigoso colocar isso da maneira como está): NÃO é ok brancos rejeitarem negras (isso está escrito no início do penúltimo parágrafo). Sem dúvida é mais dolorosa e contraditória quando a rejeição parte do homem negro; é a face mais cruel do racismo (alguém do padrão étnico discriminado discriminar outro do seu próprio grupo, ou mesmo a si próprio). Entretanto, isso não é mais grave ou pior do que um branco fazê-lo. O racismo é intrinsecamente uma questão de todos. Não se resolve o racismo eliminando-o apenas na comunidade negra. Este grupo é partícipe de uma dinâmica história e social muito mais ampla do que o grupo a que pertence em termos étnicos, já que participa de muitos outros grupos a partir de outros quesitos e situações, e por isso mesmo o racismo está por toda parte – ele nasce dessa relação entre os grupos, é intrinsecamente uma situação que envolve o discriminador e o discriminado, ou, melhor dizendo, o grupo que se favorece da discriminação e o grupo que se prejudica com ela (já quem ambos podem discriminar, mas só um pode se beneficiar no fim da equação).

    Assim sendo, e pensando sobretudo no discurso político, NÃO se pode dizer ok para discriminação do branco contra a negra, em nenhum hipótese, muito menos num texto aberto na web, nem dizer que a discriminação do negro sobre seu próprio grupo é pior ou mais grave. Esse, aliás, é o argumento preferido dos racistinhas brancos de plantão: “Eu não estou discriminando, porque o primeiro a discriminar é o próprio negro, veja lá, ele lá com aquela loura”. Ou seja, o branco pode escolher a loura que não é racismo, mas quando o negro escolhe é racismo? De maneira nenhuma. Pensando COLETIVAMENTE a questão (nunca em casos isolados), percebe-se a preterição que a mulher negra sofre nas relações amorosas (em tudo, na verdade), o que caracteriza um racismo da sociedade toda – nunca, de maneira alguma, uma responsabilidade MORAL maior dos homens negros do que de outro grupo. Reparem que falo da questão moral. Moralmente, é um problema de todos. Mas, claro, a virada da questão, a solução, só parte mesmo é do grupo discriminado/prejudicado, e sem dúvida é urgente que sempre se coloque essa questão interna, sim (por isso o post é ótimo).

    Só não podemos é achar que somos mais responsáveis do que outros. O racismo surge e se alimenta NECESSARIAMENTE das relações de poder entre grupos étnicos distintos, portanto uma ação efetiva de combate só funciona se for feita nos dois âmbitos. É absurdo e inócuo culpar apenas brancos pelo racismo, como também o é fazê-lo somente em relação a nós mesmos. O racismo transcende nossos espaços, é parte de uma dinâmica muito mais ampla.

    1. Rafael, eu sou contra “consertar textos”, pq como me ensinou Umberto Eco há anos, o que está escrito tem mais poder do que eu, que o escrevi. Eu concordo totalmente com você e, quando disse que era “ok” ser preterida por brancos, não o quis dizer ser bom, ser correto, ser passível de entendimento e considerado “natural”. O que eu estava me referindo, dentro da minha narrativa, era à relação histórica de racismo e rejeição do branco à negra. A esta estamos acostumadas – era este o meu ok. Repito, não digo que é correto a rejeição. Afirmo apenas que esta já havíamos reconhecido como tal. Também não acredito (e faz parte dos requisitos para a participação neste coletivo) que negros sejam mais racistas que brancos, ou ainda que sejam racistas. Acredito que os muitos anos ouvindo do nosso opressor que somos os errados acaba nos fazendo crer que somos mesmo. Se isto não está implícito no texto, terei mais cuidado ao escrever no próximo. Mas como você explicou este ponto tão melhor que eu, fico feliz que tenha levantado a dúvida e espero que as pessoas leiam este seu comentário também. 🙂

      E sigamos na luta.

    2. Olá, Mabia

      Obrigado pela atenciosa sua resposta. Sim, eu entendi que você não acha ok mulheres negras serem rejeitadas por homens e/ou mulheres brancas. Só fiz minha colocação porque acho que às vezes muitos de nós caímos na armadilha de achar isso em algum nível, e como era um texto público na web, etc., achei que valia o comentário. Mas dava para entender pelo contexto que você não achava isso, claro.

      Muito bom o texto – trata-se de questão delicada e fundamental, porque sem dúvida é nas relações afetivas que construímos boa parte de nossa humanidade e dignidade, e só com essas duas temos força para lutar. Até porque viver bem é também parte da luta.

      Um abraço,
      Rafael.

  75. Realmente, nós mulheres negras muitas vezes nos sentimos coagidas e obrigadas a seguirmos os padrões para que possamos ser aceitas! mesmo que deixando nossa aparência natural nos deixa mais feliz! Isso é triste!

  76. Muito bem colocado, principalmente “Mas, os poucos que vejo, usualmente namoram com uma menina branca. Não se reconhecem como negros”… Muitas vezes, a mulher negra acaba namorando um homem branco – não tão bem sucedido como ela – só para não ficar só, ele fica com ela pelo dinheiro e ela pelo afeto… Vejo muito ainda, infelizmente 😛

    1. Muito bom o texto. Talvez me enquadro numa outra categoria “namoram uma menina branca(?, mestiça), mas que se reconhecem como negro”. Concordo que muitos de nossos gostos e preferências são moldados socialmente, mas também não devemos reduzir as histórias individuais aos prejuízos sociais… acho que as histórias das pessoas são muito mais ricas que isso… mas enfim, isso é outra discussão. A questão de fundo me parece é que numa sociedade multicultural (e num mundo multicultural) será cada vez mais comum (e talvez até desejado) essa troca de experiências, no entanto acho que um debate muito interessante (e que vc começa aqui) é como inserir nessas experiências pessoas todos estes vetores históricos que, muitas vezes para “apaziguar” as coisas, são jogados para baixo do pano. Entendo por exemplo que uma família formada nestas circunstâncias tenham que lidar de frente com o problema e trazer isso para o sei da formação da própria família. No meu caso eu e minha namorada discutimos muito a questão racial, mesmo ela sendo uma grande defensora dos direitos dos negros e mestiços, muitas vezes nos percebemos com atitudes racistas. Acho que uma discussão positiva seria de práticas socio-educativas emancipatórias que possam ser cultivadas nestas famílias multi-raciais, para que se aprende a valorizar não o padrão branco de beleza, mas o negro, o índio — o diferente.

  77. Realmente esse tema doí fundo em nós,mulheres negras que como eu não me enquadro no esterótipo da ”negra/mulata gostosona”.Homens brancos preferem as brancas,e os negros cada vez mais também escolhem a mulheres de pele mais clara.Resultado:Solidão.

    1. Bem isso. E a escolha é sutil, toda a construção dos modelos e dos relacionamentos é feita de forma que fique parecendo apenas um lamento de “mulher rejeitada”. Somos as recalcadas.

  78. eu concordo plenamente e tenho me perguntado o que se passa na cabeça do ser humano,rejeitar uma pessoa pela cor da pele isso é inaceitavel,principalmente quando esse ser
    possui a mesma cor de pele e se acha superior ao outro.isso não póde existir as negras precisam e tem que ser respeitadas e amadas com todas as outras raças.precisamos mudar isso urgentemente.acorda povo da raça negra.

  79. Lindo texto,como a Larissa,também me fascina,mas por inúmeras questões,não é discutido e quando o é,mal interpretado,por frases como essa”do amor humano”….delicado,forte e polêmico,como gosto;).

    1. Obrigada, Silvia. É preciso desmistificar certas opiniões lugar-comum como essa do “amor humano”… 🙂

    2. É tão errado dizer que nossa raça é a humana, poxa essas pessoas fugiram da aula de biologia? Humano é especie.
      Hoje estava debatendo com uma amiga sobre racismo, tentando levar o debate até quem não costuma tocar no assunto.

  80. Eita, que esse é um assunto que eu me amarro. Porque? Por que é tudo muito sutil, tudo muito delicado com o pretexto de que “com amor vale tudo a pena”. E como bem disse Ana Maria Gonçalves, é nesse quesito que o racismo tem mais sucesso. E é nessa frente que a gente precisa batalhar, também.

    beijo em tu, Mabia :*

    1. Sim. Precisamos e rápido. Ensinar aos nossos filhos a nos valorizar como mulher e a nos ter de exemplo para escolher as suas.

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