Por Charô Nunes paras as Blogueiras Negras
Relato do I Encontro das Blogueiras Negras de SP
Nosso primeiro encontro aconteceu nesse sábado em São Paulo.
O cenário foi a Cozinha da Matilde, lugar de sonhos para insiders da Vila Madalena, que oferece uma série de atividades delícia para quem quer aprender sobre culinária com poesia e bom humor, rolês fotográficos, etc. Obrigada Letícia Massula (que conheci através da comunidade luluzinhacamp) pela generosidade em nos receber e deixar completamente à vontade! E agora vamos para a parte cozinha e a demonstração de moqueca vegetariana com a blogueira negra, chef, jornalista e maravilha Larissa Januário e sua irmã Vanessa.
Aprendemos muitas coisas. Primeiro que a Larissa deveria ter um canal no youtube. Que a moqueca é um prato tipicamente afrobrasileiro, super fácil, barato, delicioso. Que o azeite de dendê não deve ser aquecido. Como se tira pele de pimentão, que tomate também é um produto sazonal. Que o sal deve ser colocado no começo da preparação. Que existe uma coisa chamada mise en place, sobre a ordem de adicionar os ingredientes na preparação para que cozinhem por igual, dos mais macios aos mais firmes. Que precisamos de mais chefs negras no mercado de trabalho. Que o estereótipo da Tia Nastácia precisa ser superado.
A mesa foi farta e a conversa foi pura festa e reflexão. Diversos aspectos do universo da mulher negra foram contemplados. A infância, o primeiro alisamento , a carreira, a faculdade, a maternidade. A chegada das crianças e a vontade de repensar sua própria negritude para poder transmiti-la. Os efeitos do racismo em nossos corpos, mentes e trajetórias profissionais. A existência de espaços em que não somos benvindas, que nos são proibidos até hoje.
Relembramos uma época em que racismo não era crime. Repensamos os momentos em que o preconceito acontece dentro de casa contra o parente que não é branco. A complexidade envolvida se você tem pais negros e brancos. Tivemos o prazer de receber a visita de uma pesquisadora norte-americana que nos contou que muito do que discutimos é partilhado por mulheres negras do lado de lá do equador.
E como todo encontro de blogueiras tem aquele momento fofura ainda, precisamos apresentar a blogueirinha negra mais jovem entre as participantes. Agradecemos a permissão da mamãe em publicar sua imagem.
Sobre o feminismo negro, a conclusão é que ele existe porque nós existimos. Houve relatos sobre a sensação de que em outros espaços não acontece automaticamente o sentimento de pertencimento, sobre a dificuldade que o feminismo branco tem de se debruçar sobre nossas demandas, de entender que suas bandeiras tem o rosto da mulher negra. Ficou evidente a necessidade de estarmos reunidas, que tudo se encaixa.
Pena foi a hora de irmos embora com aquele gostinho de queremos mais.
Mas não há de ser nada não, em breve tem mais. Promessa!