Rolezinho, um ato de resistência política

Nunca imaginei que um dia a ida ao shopping seria visto como um ato de resistência política. Os chamados “rolêzinhos;” noticiados pelos meios de comunicação desde Dezembro de 2013, consistem em uma simples ida de jovens, em grupos, aos shopping centers. Algo comum, já que o grande contingente de frequentadores destes espaços são jovens. Porém, o que despertou a revolta de algumas pessoas em relação a estes “rolêzinhos” foi o tipo de jovem que o está realizando: pobres e, em sua maioria, negros.

Nunca imaginei que um dia a ida ao shopping seria visto como um ato de resistência política. Os chamados “rolêzinhos;” noticiados pelos meios de comunicação desde Dezembro de 2013, consistem em uma simples ida de jovens, em grupos, aos shopping centers. Algo comum, já que o grande contingente de frequentadores destes espaços são jovens. Porém, o que despertou a revolta de algumas pessoas em relação a estes “rolêzinhos” foi o tipo de jovem que o está realizando: pobres e, em sua maioria, negros.

O ápice da revolta, gerou atitudes de repressão contra a circulação de jovens, uma liminar para impedir o “Rolezaum no Shoppim”, evento marcado por meio do facebook, para o último sábado, 11 de janeiro, no Shopping JK Iguatemi, um símbolo do luxo e da ostentação da elite paulistana; evento que por sinal, foi criando como forma de protesto e gerou portas blindadas por policiais e presença de um oficial de justiça na frente do local. E a agressividade no outro extremo da cidade, no shopping Metrô Itaquera onde houve bombas de lacrimogêneo, balas de borracha e detidos pela Polícia Militar.

São consequências do incômodo que os pobres e negros, até então “escondidos ”podem causar, quando resolvem retomar seu direito a Cidade . Está que é instrumento de opressão desde a pólis grega, não esconde sua configuração segregadora que se divide em Casa Grande, atualmente os bairros centrais e senzala, que é representada pela periferia distante, já é uma regra para a sociedade brasileira, não uma exceção varrer o que não agrada para debaixo do tapete.

Mapas produzidos pelos sociólogos Eduardo Rios e Juliana Riani , da UERJ, retirado do blog: cidades para que(m)?
Sobre duas cidades, a casa grande e a senzala urbanas. Mapas produzidos pelos sociólogos Eduardo Rios e Juliana Riani , da UERJ, retirado do blog: cidades para que(m)?

Atitude de limpeza que é ressaltada quando, percebemos a invasão de shoppings em áreas até então desvalorizadas. É um jogo de consequências, um grande empreendimento que vende como propaganda lazer, entretenimento e consumo; que se instala num ambiente carente de espaços público e enfraquece por conta da sua estrutura o comércio local, criando uma situação de dependência desses moradores para com ele. Mas que ao mesmo tempo, nega os moradores da região, e valoriza a terra ao seu redor, criando um processo de expulsão daqueles que não conseguem lidar com o aumento dos IPTUs. Em outras palavras estão “agregando valor” para mudar a cara, da periferia.

O que não imaginavam é que surgiriam os chamados “rolêzinhos”, que geraram a necessidade imediata de “limpeza”, da forma como já se é acostumado a fazer, pois não é de hoje que se escuta de denuncias contra estabelecimentos devido o mal atendimento, ou a negação desse, para com negros e/ou pobres. Contudo o mais revoltante é quando se justifica que para se prevenir arrastões, tem sido proibido os rolezinhos, restringindo o direito de ir e vir e a liberdade de expressões de jovens por um crime que não aconteceu, equivale a culpá-los por antecipação, fácil de assimilar com a expressão “tem cara de bandido”, que nem preciso esclarecer que é racista e elitista.

Devemos resistir, pois somos empregadas nesse momento da mulher branca de classe média alta, e ela está nos dizendo que não deveríamos estar lá, porque aquele não é o nosso lugar, deveríamos estar no quartinho da empregada segundo sua lógica. Mas não queremos e não vamos obedecer, vamos resistir cobrando: espaços públicos; fiscalização pra esses grandes empreendimentos que se espalham tão facilmente, como é o caso dos shoppings; uma cidade que não seja segregadora social e espacialmente e por fim, reafirmando nosso lugar, que é nos shoppings, nas cidades, nas ruas ou em qualquer local que seja da nossa vontade, pois somos livres.

15 comments
  1. Somos constantemente bombardeados por mensagens dizendo: CONSUMA, que são lançadas, indiscriminadamente, para pessoas de diversas classes, cores e gêneros. Ora, se todos são interpelados, também TODOS têm o direito de frequentar os mesmos “templos” de consumo. Espero que essa gurizada persista, ocupando um lugar que – embora materialize o semblante perverso do consumo – também é seu.

  2. Isabela Barroso Acho que a Bahia não deveria esperar esse ato se propagar primeiramente pelos estados considerados por muitos os “geradores do progresso”. Acho que deveríamos demostrar a nossa revolta o quanto antes. Já havia percebido as exclusões e discriminações diante aos negros e pobres que frequentam aos shoppings, ou quaisquer outros estabelecimentos que são frequentados também pela elite. Espero realmente que este ano de 2014 marque de forma progressiva as vidas dos cidadãos brasileiros. Começou em SP, porém devemos continuar por aqui!

  3. Esses rolezinhos me lembram os movimentos norte americanos de sentar-se à espaços segregados e resistir às investidas da reação. Movimento que teve grande valor, e impulsionou o movimento negro de massas que culminou nos direitos civis.
    Para mim é o inicio do ano de 2014 que entrará na história deste país.

  4. Olá, por falta de informação me surge uma dúvida, a mídia está mostrando que esses jovens estão saqueando lojas e quebrando esses locais onde ocorrem os ditos “rolezinhos”, vocês apresentam duas coisas distintas o “rolezinho” e o arrastão, porém a mídia anda mostrando os dois como um só. Queria saber se por conta da mídia ser elitista ela faz essa associação erroneamente? ou se ocorreram roubos nesses rolezinhos.

  5. Juventude periférica do Brasil: Vamos fazer mais atos de resistência nos Shopping do Brasil.
    Começou em São Paulo. Dia 19/01 será a vez do Rio de Janeiro.

    Aonde tem Rolezinho tem Funk. Aonde tem Funk tem preto e aonde tem preto vem junto todo o desprezo da burguesia classe média e seu aparato militar, a policia. Vamos ficar atentos.

  6. Na minha opinião, entendo que sendo os shoppings propriedades privadas que são eles podem muito bem barrar a entrada de quem quiserem! Infelizmente no meio desse movimento de jovens, em sua maioria negros, existem muitas pessoas que querem tão somente se aproveitar da situação e prejudicar as demais pessoas. Como o movimento não consegue controlar essa tipo de infiltração, se é que podemos chamar assim, cabe ao Shopping fazer de tudo para proteger seus clientes e locatários! Acho que o sucesso de uma manifestação se deve principalmente ao número de manifestantes que ela consegue angariar, e continuando assim, na minha humildíssima opinião, não vão conseguir NADA. Não serão ouvidos, continuarão não tendo voz alguma. Podiam tentar em um local público, de repente, talvez fossem mais ouvidos pela mídia em geral, que, querendo ou não, é quem faz a cabeça de 90% da população brasileira.

    Enfim, parabéns pelo post e pelo blog, gostei muito do texto!

    1. A diferença entre a opinião (mal informada) e a lei: Define como crime “recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador… e as penas de reclusão variam de um a três anos”.Abraço, Julieta

  7. Meninas, parabens pelo trabalho, mas sinto falta de mostrarmos, quando argumentamos que rolezinho eh um ato politico, a agressao sofrida por um grupo de jovens negros no ES, que deflagrou a onda dos rolezinhos… Acho importante o pais saber a violencia que pode surgir, quando um grupo de meninoa negros vao juntos aoshopping

  8. O que está acontecendo nos shopings paulista é a mesma coisa que aconteceu no início no final do séc. XIX quando várias leis foram criadas para expulsar os negros do centro da cidade e com o mesmo requinte de crueldade e isso não tem outro nome é o aparthaid..Aqui ocontece de forma cínica, pois muitos ainda defende a tal democracia racial!. Nossos jovens estão denunciando, mostrando a verdeira face do nosso racismo de uma forma de fato criativa e inteligente….VIVA A NOSSA JUVENTUDE!!!

  9. Para o mercado não há benevolência,
    Bem estar social é policiamento.
    O liberalismo esta confundido
    Seu rabo esta entre as pernas.

    É a economia para a violência,
    Cacete no pé do ouvido,
    Bala de borracha na boca,
    Onde esta o estatuto da juventude?

    A coca cola e o filme estão em cena.
    O pipoqueiro esta falido
    Pois a praça foi engolida
    Tornou-se um enorme shopping Center.

    Os eventos públicos agora são particulares
    Tem camarão, tem coisas chiques,
    Apenas para as famílias
    Que a história conta suas façanhas.

    O publico sempre foi privado,
    A violência sempre foi para o coletivo,
    Lembrem, que a morte é coisa privada
    Os bens dizem muito sobre a justiça.

    Quem cumpriu a regra nem sempre
    Tem a liberdade que merecia.

  10. O rolezinho é um fenômeno social incrìvel, a juventude da periferia(juventude negra) está “roubando” a cena, mas é claro que a elite branca, que se intitula dona e senhora de tudo, está urrando, não suporta que os seus ditos espaço sejam frequentados pela periferia. Que vivam os rolezinhos e que se espraiem por mais e mais shoppings, ruas jardins.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You May Also Like