É hora da sociedade gaúcha, que tem um longo histórico racista, aceitar que a universidade é para todos. E que lugar do negro não é mais na cozinha do restaurante universitário. Negros não são mais os porteiros que vocês cumprimentam na entrada da faculdade.
Usurpar patrimônio africano não basta, também é necessário embranquecer seus sujeitos. Tanto na série José do Egito (atualmente em reprise pela Record) quanto em Êxodo: Deuses e Reis as personagens são majoritariamente brancas. Os realizadores são incapazes de reconhecer que todo um complexo sistema de crenças, filosofia, arte, arquitetura, astronomia e medicina são coisas de preto. Qualquer movimento diferente disso, mesmo a simples hipótese de que os antigos egípcios era negros, é vandalismo demais para aguentar.
Esta inversão se mostra em praticamente todas as esferas da nossa sociedade. O negro, sobretudo o que reside nas periferias, é sempre invisibilizado quando está fora do círculo do que a sociedade rotula como “coisas de preto”. Se ele não está nas rodas de samba, no carnaval ou atuando como empregada doméstica na novela, ele está fora do seu lugar.
O encontro com os educadores e jovens desse instituto foi uma experiência riquíssima em minha vida. Recebi muito carinho e tive a oportunidade de mais uma vez confirmar o quanto é importante despertar a atenção das pessoas para questões sociais e de identidade o quanto antes. É fundamental estimular as crianças desde bem cedo a se amarem e se aceitarem exatamente como são, e a nunca duvidarem de sua importância e do seu valor no mundo. Também é importante estimular o quanto antes o interesse em conhecer a própria história para melhor entender sua realidade atual. A pessoa que cresce sendo incentivada dessa forma, muito provavelmente se tornará um cidadão seguro, consciente de sua importância e sensível para as questões e os dilemas de outros seres humanos. E não é assim que se forma uma sociedade verdadeiramente igualitária?
A solução encontrada pelo Governo do Estado da Bahia foi o de sempre: vamos militarizar a polícia, trocar o calibre .38 pelo .40, mas agora eles nos dizem que querem fazer um Pacto. Um Pacto pela Vida. Contudo precisam: 1- Invadir nossas comunidades; 2- Implantar Bases Comunitárias de Segurança (BCS ou UPP baiana); 3- Controlar as nossas vidas. Simples, não? Mas vamos um pouco além. Quais comunidades eles vão escolher como prioritárias?