Gabriela Pires é designer gráfico, feminista negra das redes sociais e introvertida. Está sempre tentando terminar alguma coisa que se arrependeu de ter inventado.
Desde muito cedo as crianças sofrem influências do meio em que vivem e invariavelmente as reproduzem. Isso significa que se estiverem crescendo em um ambiente em que convivem com pessoas preconceituosas, fatalmente esses preconceitos serão internalizados e reproduzidos ainda na infância.
O equívoco não é do público-alvo que não soube interpretar a campanha, mas sim dos profissionais que avaliaram erroneamente seus consumidores e suas particularidades, e conceberam ideias reconhecidamente ofensivas.
Beleza é algo totalmente subjetivo, e o que temos são particularidades naturais aos diferentes corpos humanos. Os profissionais devem estar conscientes de que usar fotos somente de pessoas brancas em seus portifólios se mostra como um desserviço a nossa população de maioria negra, pois pode passar falsas informações quanto as especificidades da tatuagem adequada para os variados tons de pele. Acredito que esta prática vai contra até mesmo a divulgação de seu trabalho, pois deixa de demonstrar todas as habilidades do tatuador, além de revelar, também, a descarada invisibilidade da população negra.
Será que eu era “negra o suficiente”? Minhas neuroses gritavam pra mim dizendo que a universidade seria o lugar que nos olhariam e nos apontariam o dedo dizendo: você é negro, você não é negra… próximo! Ao entrar na entrevista para candidatos cotistas minhas dúvidas começaram a se diluir aos poucos. Lá estavam negros de todos os tons de pele e, para minha surpresa, de pele até mais clara que a minha.
Esta inversão se mostra em praticamente todas as esferas da nossa sociedade. O negro, sobretudo o que reside nas periferias, é sempre invisibilizado quando está fora do círculo do que a sociedade rotula como “coisas de preto”. Se ele não está nas rodas de samba, no carnaval ou atuando como empregada doméstica na novela, ele está fora do seu lugar.