TW: Spoilers
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O documentário “Libertem Angela Davis e todos os presos políticos” (EUA, 2012), dirigido por Shola Lynch, faz um panorama da vida da ativista e filósofa Angela Davis. Durante a exposição de sua militância, podemos perceber como Angela é uma mulher forte e um exemplo contundente de resistência ao racismo e ao machismo em uma sociedade marcadamente preconceituosa e conservadora.
Angela participou do grupo Panteras Negras, mas deixou o partido porque percebeu que o grupo, majoritariamente masculino, não dava o devido valor à participação feminina e deixava as mulheres em segundo plano em suas reivindicações. Durante a gravação do documentário, o ex-líder do grupo Panteras Negras faz questão de dizer que a participação de Angela se limitou a aulas sobre marxismo para os integrantes do grupo, o que por si só já nos mostra que os membros do partido não viram sua participação como muito relevante para o movimento.
Angela estava estudando na região norte quando os movimentos contra o tratamento violento dirigido à população negra começaram a emergir nos Estados Unidos, porém fez questão de retornar para participar dos movimentos engajados com a questão racial e feminista para acompanhar de perto a situação. Ela conseguiu o cargo de professora de filosofia na Universidade da Califórnia (UCLA), mas passou a ser perseguida quando afirmou que pertencia ao Partido Comunista. Esse foi apenas o início das dificuldades que veio a enfrentar como uma mulher negra em uma sociedade extremamente conservadora e racista.
Angela teve seu direito de lecionar na faculdade negado e passou a militar contra as condições desfavoráveis a que a população negra carcerária era submetida, mais especificamente três militantes negros que estavam presos por motivos de pouca relevância, como roubar uma televisão, por exemplo. Sua militância por essa causa foi o estopim para sua prisão, pois ela foi acusada de ter comprado as armas que foram utilizadas em um sequestro realizado por um detento e que resultou na morte de um juiz, o que causou alvoroço e revolta no Estado da Califórnia.
A partir daí Angela sofreu intensa perseguição e foi posta na lista dos 10 mais procurados pelo FBI. Após sua prisão, ela não se deixou intimidar, permaneceu firme em sua militância e diz que esse período em que ficou presa foi importante para seu amadurecimento, pois aproveitou muito para ler e escrever, para refletir.
Após sua prisão, houve uma campanha em diversos países ao redor do mundo exigindo a sua libertação, uma vez que ela ainda não havia sido julgada nem sua participação no sequestro constatada. Devido tanto à pressão interna quanto externa, decidiram que ela respondesse em liberdade até o julgamento, durante o qual ela foi considerada inocente de todas as acusações, mesmo diante de um júri branco e da pressão política a favor de sua condenação.
Além de todas as pressões externas que sofreu durante o julgamento, Angela teve uma forte pressão psicológica, pois a acusação, para tentar condená-la, usou as cartas que ela enviou a seu amante quando esse estava preso. Suas cartas intensas foram lidas durante o julgamento e sua privacidade foi completamente invadida, e ela se viu completamente exposta. A acusação quis condená-la dizendo que ela estava agindo “como era esperado de uma mulher”, submetendo-se aos efeitos de uma paixão avassaladora, sob a qual não tinha nenhum controle, já que ela, apesar de ser uma grande intelectual, estava “cega de amor”, o que a teria levado a se envolver no sequestro para beneficiar seu amante.
Angela é o exemplo de uma mulher negra forte, empoderada, resistente, que nunca abriu mão de suas convicções e manteve-se firme diante de um sistema opressor que procurava vorazmente silenciá-la. Ela sabia que incomodava porque era mulher e, além disso, negra. Ela sempre defendeu e afirmou com tanta ênfase suas convicções políticas e ideológicas que causou temor entre a comunidade conservadora do Estado da Califórnia, que buscou impedi-la de palestrar para os alunos, acreditando que ela iria influencia-los a se tornarem também comunistas. Ela se tornou um ícone para o movimento de mulheres negras.
Atualmente Angela Davis permanece militando e é considerada uma intelectual de relevância mundial, sendo vista como um exemplo de reação a um sistema opressor que busca silenciar a mulher negra e diminuir sua importância na sociedade, relegando-a a um plano de inferioridade e a objeto de abuso.
imagem destacada: Cartaz Angela Davis procurada.