Mara Gomes é estudante de psicologia, apaixonadíssima por quatro efes: Feminismo, Filosofia, Foucault e Frida Kahlo. Administra a página A Mulher negra e o Feminismo e alimenta ainda aquele velho sonho de mudar o mundo.
Precisamos acima de tudo perceber que o racismo continua impregnado dentro desses movimentos que dizem que “o preto está na moda”. Só porque a classe média branca gosta do que o negro produz não quer dizer que ela gosta de conviver com o negro nos seus espaços diários, que ela não pratique racismo todo o dia com seu porteiro, com sua empregada.
Sim, sabemos que 125 anos se passaram e a escravidão acabou, porém as suas práticas continuam bem vindas e são aplaudidas por muitos de nós na novela das nove e no programa do Faustão, “pouco original, mas comercial a cada ano”. No tempo da escravidão, as mulheres negras eram constantemente estupradas pelo senhor branco e carregavam o papel daquela que deveria servir sexualmente sem reclamar, nem pestanejar e ainda deveria fingir que gostava da situação, pois esse era o seu dever. Hoje nós, mulheres negras, continuamos atreladas àquela visão racista do passado que dizia que só servíamos para o sexo e nada mais.
Eu, mulher negra filha de uma mãe negra e trabalhadora doméstica me senti profundamente atingida por esse estereotipo profissional, mesmo não comprovando ele na prática. Dentro de onde cresci sempre fui coagida pelos meus pais a ter um futuro diferente do que eles tiveram, a estudar, ter um emprego que me fizesse feliz, dentre outras coisas que todos os pais desejam para os seus filhos. Mas mesmo assim, passando por escolas públicas precárias e um ensino ruim, sempre dentro de mim ficava aquele receio de um dia não conseguir o que eu sonhava e aceitar o destino que me era dado e colocado desde o meu nascimento aos meus pés.